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domingo, 1 de março de 2009

OTTONI E A REVOLUÇÃO

OTTONI E A REVOLUÇÃO



“Este roteiro, de minha autoria, está registrado
na F.B.N./folha319/livro105, com o título de
“O Jovem Ottoni ”.



Seqüência 1 - Ouro Preto - Setembro de 1842 - Exterior - Dia

O plano-seqüência de apresentação inicia-se no pico do Itacolomy.
A imagem do megalítico cobre todo o quadro.
A imagem em movimento, captada pela lente grande angular, começa a se afastar da pedra, subindo rapidamente, até que no centro do quadro, quase perdida, está situada a cidade de Ouro Preto.
A cidade, que é vista do alto, diminuta pela lente grande angular, vem aos poucos ( enquanto corre os créditos iniciais da apresentação ) se aproximando da tela. Em um movimento, feito de helicóptero, vertical descendente, elabora-se um plano-seqüência de 4 minutos.
Chega-se ao final do plano quando se enquadram, nos detalhes do antigo calçamento, as botas sujas de lama dos presos que marcham acorrentados, formados em fila, pelas pedras históricas das ruas de Ouro Preto.
Pequenos detalhes do barroco mineiro na arquitetura colonial dos prédios, fachadas e fontes, por onde os prisioneiros passam. Alguns dos personagens da história, que virá a seguir, mostram os olhos nos pequenos detalhes dos seus rostos pelas frestas das janelas.
Velhas ruas com seus sobrados.
Meninos passam pelas ruas gritando a manchete do jornal:

“Presos de Ouro Preto; peçam misericórdia”.

A Câmera que estava enquadrando os detalhes do barroco mineiro, passa, no rápido movimento, a enquadrar a manchete do jornal.
Depois se afasta, num movimento lento, pelas ruas de Ouro Preto.
Anoitece durante o movimento de câmera em plano-seqüência.
Quando a seqüência chega ao fim, já é noite escura na cadeia onde se encontra preso Ottoni. .
A rua está deserta.
Detalhe do seu rosto cansado, na prisão, atrás das grades, iluminado apenas pela luz de uma vela.

Ottoni, Voz em off:
- Senhor Juiz, não quero dar um depoimento sobre o presente, mas quero o registro do passado na história futura do Brasil.

Seqüência 2 -Mariana -Tribunal do Juri - Interior

O rosto iluminado de Ottoni, limpo, em primeiro plano, sem as grades da prisão, fala para um grande público, que, a princípio, não se pode ver, mas que pode ser ouvido. Silêncio. O jornal do dia passa de mão em mão. Neste momento entra na sala do Tribunal de Mariana, espremida pelo público que lota as galerias e que está com sua atenção voltada ao brilhante orador, uma jovem e bonita mulher com uma criança no colo. Ottoni, visivelmente emocionado vê através dos olhos dela, sua esposa e da criança nos seus braços, seu filho, os acontecimentos que compuseram a revolução mineira de 1842.

Ottoni (continua):
- Digo isso, pelo fato de que o grande julgamento deste momento só se fará quando a realidade política transformar-se no futuro desse grande país. Ao se imprimir a verdadeira história é preciso primeiro conhecê-la e depois decifrá-la. Não sou eu o réu deste tribunal, mas a história, o avanço, a liberdade, a rebeldia e a justiça ao povo brasileiro, que mesmo derrotado no campo de batalha torna-se, após estes acontecimentos, vitorioso no campo das idéias.

Dois personagens antagônicos, que assistem ao julgamento, conversam enquanto Ottoni fala.

Personagem 1:
- O poder, eterno regente dos destinos e desatinos de uma nação, foi enfraquecido com a viagem de Don Pedro I para Portugal. A Regência efêmera apressou, por isso, a maioridade do príncipe...

Personagem 2:
- Um meninote simpático...

Personagem 1:
- Se não existissem os seus tutores! A facção áulica domina à corte e agora quer dominar todo o país!

Personagem 2:
- Mas com a maioridade o pequeno príncipe se liberta e vai se tornar um grande rei...

Personagem 1:
- Estou do lado dos rebeldes de Minas e de São Paulo. Quero a república!

Personagem 2:
- Não gosto da guerra... O nosso futuro tem um rei de bom coração!

Personagem 1:
- Ontem, os seus opositores, queriam a independência de Portugal, hoje, seus seguidores, beijam a mão do menino imperador todos os dias no paço... Depois, modificam as leis, rasgam a constituição e fecham a câmara dos deputados...

Seqüência 3 - Mariana - Tribunal do Juri - Interior- Dia

Plano médio de Ottoni iluminado por uma luz vido de uma clarabóia.

Ottoni:
- Senhor Juiz, a política nacional têm agora em Minas as suas raízes forjadas nestes dois segmentos do poder: de um lado os Liberais- reformistas, de outro os conservadores-oportunistas... Fizemos nesta província, a meu ver, uma revolução vitoriosa, que embora vencida, não está perdida e, em muito pouco tempo, ditará as leis ao império. Queríamos a paz e fizemos a guerra...

A luz da clarabóia vai se apagando e o rosto de Teófilo Ottoni se transforma. Está agora abatido e com o olhar tão cansado, como estava antes.

Corte para Seqüência 1

As grades da prisão de Ouro Preto envolvem novamente Ottoni.

(Câmera se afasta)

É noite.
As ruas estão vazias.
O tempo está chuvoso e frio.


Seqüência 4- Sobrado dos Ottoni -Maio de 1842 - Ext/Noite

Chove no Rio de Janeiro.
O trotar das patas de um cavalo em chão de pedra molhada.

( Câmera se afasta em movimento de grua e carrinho )

A partir das ruas antigas surge a cidade do Rio de Janeiro.
(Parte antiga da cidade).
Ottoni olhando pela janela do velho sobrado observa os relâmpagos que iluminam o seu quarto.
Com o rosto sério, pensativo, olha, num movimento rápido, para o sono suave de sua mulher, Carlota Amália, deitada na cama do casal.

Seqüência 5 - Rio de Janeiro - Palácio do Imperador - Ext./Inter. - Noite.

Iluminado por grandes candelabros de velas está à nossa frente a janela do Palácio do Imperador. Ainda chove.

( A Câmera se aproxima da janela)

Um vento mais forte abre a janela e faz algumas velas se apagarem.
No seu interior o menino rei Don Pedro II caminha pensativo em direção do trono dourado.
Um serviçal vem fechar a janela e colocar o fogo nas velas que se apagaram.
O Ministro Aureliano se aproxima de Pedro II e beija-lhe a mão.

Don Pedro:
- Aureliano, o que foi agora?

Aureliano:
- Majestade, está aqui uma comissão de liberais de São Paulo que através de uma representação recomenda a Sua Majestade o não cumprimento das leis que restabelece o Conselho de Estado e reforma o Código de Processo. Eu aconselho a Sua Majestade a não recebê-los...

Don Pedro:
- Não devo recebê-los?

Aureliano:
- É enviado do regente Padre Feijó, que anda atiçando fogo nos paulistas. Revoltados com as leis do Império viraram os olhos para a república.

Seqüência 6 - Rio de Janeiro - Câmara dos Deputados - Interior - Dia

As galerias estão cheia de pessoas.
Trabalhadores de rostos marcados.
No plenário a discussão é tumultuada entre os deputados pelos gritos e impropérios ditos pela galera.
Ottoni está na tribuna.

O Presidente, dirigindo-se as galerias:
- Ordem! Ordem! ... O Senhor Ottoni tem a palavra.

O Deputado Carneiro Leão:
- Votos! Votos!

Ottoni:
- O Senhor Chefe da Maioria não quer que se discuta...

Carneiro Leão:
- Quem é o Chefe da Maioria?

Ottoni:
- O Senhor Deputado.

Carneiro Leão:
- E o Senhor o que é?

Risadas na galeria.

O Presidente:
- Ordem! Ordem! O Senhor Carneiro Leão tem a palavra.

Carneiro Leão:
- Não quero por hora falar.

O Presidente:
- O Senhor Ottoni tem a palavra.

Ottoni:
- Parece-me que o senhor Primeiro Ministro...

Secretário:
- Quem é o Primeiro Ministro?

Risadas generalizadas.

Ottoni (com força) :
- O Senhor Primeiro Secretário não tem o direito de me interpelar!

A Galera apóia agora Ottoni, com gestos e gritarias.

Alguns Deputados, olhando para as galerias.

Deputados:
- Ordem! Silêncio! Ordem!

Inicia-se uma discussão entre alguns deputados.

Ottoni:
- O Primeiro Ministro, parece-me, é o Senhor Ministro do Império, que me tomou a palavra, respondendo-me pelos seus colegas, com ênfase e pertinácia, pediu votos... Parece-me que o Primeiro Ministro é o Senhor Carneiro Leão, nobre chefe da maioria.

A galeria eufórica aos gritos.

Um dos deputados vira-se para Ottoni e diz:
- Apoiado! Apoiado! Apoiado!

Carneiro Leão com ironia:
- O nobre deputado, que me considerou Chefe da Maioria, me colocou em coação e, se acaso nos ocupássemos de epítetos, eu poderia chamá-lo Clarim! Guarda avançada da minoria.

Risadas generalizadas nas galerias e da maioria dos deputados.

Ottoni:
Não me imporão silêncio! Quanto ao apelido de Clarim da Minoria, só tenho a dizer que esses clarins não são assalariados!

Os Deputados:
- Não apoiado! Não apoiado! Não apoiado!

A gritaria é total nas galerias e alguns tentam avançar até o plenário.

Carneiro Leão:
- Ottoni! Você vai me pagar por esse insulto...

O Deputado retira de sua cintura uma arma de fogo e dispara em direção de Ottoni, que cai mortalmente ferido.

Silêncio.

Seqüência 7 - Sobrado dos Ottoni - Interior- Noite - Quarto do casal.

Carlota, a esposa de Ottoni, acorda assustada chamando compulsivamente o marido.
Ottoni que está na janela, observando a chuva, corre assustado até o leito onde está Carlota.
Sentado, na cama, abraça a companheira carinhosamente.

Ottoni:
- Fique tranqüila Carlota, eu estou aqui, meu amor, foi só um sonho, um sonho ruim.

Carlota adormece novamente nos braços do marido.

Seqüência 8 - Palácio do Imperador - Interior - Sala do Trono - Dia

Caminhando, sonolento ainda, vem Don Pedro abotoando sua roupa de gala.
Faz-se acompanhar pelo bajulador Paulo Barbosa.
Pelo outro lado do salão entra com certa pressa Aureliano que se aproxima e beija a mão do jovem Imperador.
Paulo aproveita para beijá-la novamente.
Don Pedro tira a mão da boca de Paulo e virando-se para Aureliano diz:

Don Pedro:
- Aureliano tem notícias de Bento Lisboa?

Aureliano:
- Majestade! Não temos ainda notícias do mensageiro, mas trago notícias dos gravíssimos acontecimentos e prejuízos ocasionados a Fazenda Nacional pela rebelião que infelizmente se levanta em Sorocaba e Barbacena, nas províncias de São Paulo e Minas Gerais. Avisei ao Ministro da Guerra para que enviasse para São Paulo toda a força de que podia dispor, visto que grandes contingentes de soldados estão lutando contra os rebeldes no Rio Grande do Sul. Compreendo, porém, a urgente necessidade de fazer ao menos constar que os nossos soldados, inexistentes, serão também mandados para Minas Gerais, para tanto, tiramos os homens das fortalezas, da Casa de Correção, os bandidos e assassinos, os pretos da Costa da África, para irem bater os mineiros.

Paulo Barbosa, excitadíssimo:
- Ordene Majestade o seqüestro dos bens de todos os que aderirem, e principalmente dos líderes deste movimento...

Don Pedro:
- Estou exausto de tantas revoltas, meu pai libertou o país da tirania portuguesa, fez a independência e depois me deixou, o seu filho! Como prova de amor ao povo brasileiro. O que mais esses rebeldes querem? Senhor Aureliano, chega, ordeno-lhe que me fale de Bento Lisboa e das boas notícias que ele nos manda de Viena.

Seqüência 9 - Câmara dos Deputados - Interior - Dia

Ottoni está na tribuna finalizando o seu pronunciamento quando o Deputado Bernardo Vasconcellos, levantando-se com dificuldade, ajudado por uma muleta e, com sarcasmo, dirigi-se ao orador.

Ottoni:
- Era isso o que eu tinha pra dizer aos nobres deputados...

Bernardo Vasconcellos:
-Sr. Presidente! O ilustre deputado, que não posso deixar de nomear, o senhor Ottoni, perguntou se o Ministério tinha dado ordem para que houvesse na corte o beija-mão. Eu desejo satisfazer ao nobre deputado; só gostaria que tivesse a bondade de repetir a sua pergunta...

Ottoni:
- As folhas da oposição assoalharam, sem que fossem respondidas pelas do governo, que no cortejo de dois de dezembro último, se havia restabelecido o costume do beija-mão, que me pareceu um pouco alheio aos cidadãos livres...

Grandes ruídos e risadas encomendadas nas galerias, acompanhada de psius de deputados conservadores.

Ottoni, com veemência:
- Pouco me importa que as galerias me insultem e que me dêem psius... Não sei mesmo se é a polícia do nobre Ministro que está incumbida de impor silêncio aos deputados da oposição.

Gritos, de um pequeno grupo que estava na galeria:
- Apoiado! Apoiado!

O Presidente:
- À ordem! Exijo ordem nos pronunciamentos! À ordem! À ordem!...

Ottoni, peito aberto, a voz trovejante:
- Não sei o que esteja fora da ordem; estou falando; estou usando de meu direito: Fui interrompido pelas galerias... O que eu posso assegurar é que não me imporão silêncio... Pertencerão, acaso, os que me insultam das galerias, ao partido que, em 1831, arvorando a bandeira lusitana, se insurgiu nesta capital contra os brasileiros, assassinando-os? Não temo os punhais desse partido português.

A agitação no recinto é tremenda. Ottoni desce da tribuna e é comprimido entre os deputados... Bernardo Vasconcellos, com dificuldade, chega perto de Ottoni.

Bernardo Vasconcellos:
- Ottoni, o beija-mão é um sinal de respeito que os filhos dispensam aos pais, sabido ser o monarca, malgrado a pouca idade, pai da nação.

Ottoni:
- Ora, Vasconcellos, os filhos não se postam de joelhos para beijar a mão de seus pais, e este ato é um pouco degradante, e nem o Imperador levaria a mal ver diante de si um homem de pé.

Dois jornalistas se aproximam de Ottoni, que está saindo envolvido por seus seguidores.

Jornalista 1:
- Deputado Ottoni, o senhor, um jovem político, já quer defrontar-se com os hábitos da secular Monarquia?

Jornalista 2:
- Deputado, o senhor se considera um republicano?

Ottoni:
- A verdade da constituição - eis o meu programa. A defesa dos oprimidos, que os há numerosos, e a economia na distribuição do suor dos contribuintes - eis a minha bandeira...


Seqüência 10 -Palácio do Imperador - Junho de 1842 - Interior - Dia

Sua Majestade está sentada no trono, abatido e chateado, não vê e nem ouve a voz do seu Ministro Aureliano que vem se aproximando.

Aureliano:
- Majestade!...

Don Pedro acorda de seu aborrecimento e olha com certo desprezo para o seu Ministro.

Aureliano:
- Majestade, trago notícias de Viena, o Bento Lisboa assinou o contrato de casamento do Imperador com a princesa Tereza Cristina de Nápoles.

Don Pedro rejuvenescesse, volta ser a criança prestes a ganhar um brinquedo novo. Sai do trono e pega Aureliano pelo braço.

Don Pedro:
- E como é ela... Aureliano? É bonita? Quanto tempo eu tenho de esperar para conhecê-la?

Pedro fica triste e abatido novamente.
Aureliano se afasta fazendo reverências.
Paulo aparece em cena para acender algumas velas do candelabro.

Seqüência 11 - Sobrado dos Ottoni - Ext./Int.- Noite

Ottoni está pensativo, em pé parado na varanda, contempla a lua nascendo nas montanhas distantes.
Sua mulher está sentada ao seu lado.
Ela tem a mão posta na mão de Ottoni.
O silêncio da noite só é cortado pelo pio da coruja.
Ottoni parece observar o infinito.
De repente, surge uma voz misturada ao trotar de dois animais.
Desmancha-se o encanto daquele momento.
Latidos de cachorros.
Um homem, saindo do escuro da noite, montado num cavalo, puxa pelo cabresto uma mula arreada.

Voz:
- Ottoni! Ottoni! Acorda homem! É seu irmão Cristiano que está chegando...

Carlota levanta-se e pega no braço do marido.

Ottoni:
- Cristiano! É você homem? Venha! Se achegue mais...

Cristiano desce do cavalo e vai abraçar o irmão, não sem antes beijar a mão de Carlota, que sorri para ele.

Cristiano:
- Ottoni, meu irmão...

Ottoni abraça o irmão e desce até onde está a mula, passando a examiná-la.

Ottoni:
- Cristiano, onde você a encontrou!... É um belo animal...

Carlota:
- Vamos entrar Cristiano que a noite está fria...

Os três entram na casa.
Passa pela rua uma figura suspeita olhando com curiosidade pela janela da casa do deputado.
Na sala do sobrado estão os três almoçando, rindo e tomando licor.
Passam depois a prosear em outra sala.
Ottoni olha para a janela.
O suspeito afasta-se.

(Câmera aproxima-se da janela penetrando na sala).

Cristiano:
- Ottoni, me foi difícil arrumar o animal, ele é novo, de excelente montaria, resistente, levou seu antigo dono numa viagem à São Paulo e o trouxe são e salvo de volta, mas, como toda mula é perigosa, assustada, não sei, tome cuidado. O seu nome? Montanha...

Carlota:
- Para quem quer ir a Minas Gerais é mais que sugestivo...

Ottoni:
- Não quero Carlota, devo...

Cristiano:
- Ottoni, a luta está em São Paulo, Minas só dá apoio estratégico, não tem exército regular. A rebelião de Minas consiste de uma quartelada em Barbacena, não precisam lá do nosso deputado que deveria ficar aqui para defendê-los na corte, se for preciso...

Carlota:
- Só se for preciso!

Ottoni:
- Meu irmão Cristiano, Carlota, minha esposa, quantas vezes ficamos juntos? Mas agora não, não posso e não devo prestar nenhuma obediência a este governo que com suas leis anulam a constituição, em suas bases essenciais.
O governo de Sua Majestade, o Imperador, só é legítimo dentro da constituição, fora dela é um governo de fato, e não de direito.

Seqüência 12 - Palácio do Imperador - Interior/ Exterior - Noite

A noite está fria nos portões do Palácio.
Dois soldados montam guarda.
Os dois conversam distraídos.

Soldado 1:
- Dizem que a princesa Cristina é muito bonita.

Soldado 2:
- Não sei não.

Soldado 1:
- Silêncio! Ouço barulho de cavalo em disparada...

Soldado 2:
- Será Cristina?

Soldado 1:
- Cuidado com a língua Joaquim.

Soldado 2:
- Quem vem lá?

Cavaleiro:
- É o mensageiro do Rei! Trago notícias de São Paulo!

Soldado 1:
- Vamos! Abra o portão, Joaquim.

O mensageiro desce do cavalo e entra no Paço.
No interior do palácio o arauto anuncia a presença do mensageiro e acende as velas apagadas do candelabro.
Aureliano aparece na cena.

Arauto:
- Senhor Ministro é o mensageiro do Rei vindo de São Paulo...

Aureliano:
- Pois, vamos! Diga-me mensageiro, o que lhe traz a esta hora da noite no Paço?

Mensageiro:
- Ministro...

Neste momento Paulo entra na sala.

Mensageiro, cont..
- Os paulistas foram derrotados na ponte dos Pinheiros, a rebelião dos liberais foi sufocada pelo Barão de Caxias. Estas são as notícias que eu trago... Deus guarde vossa excelência...

O mensageiro sai, olhando para Paulo Barbosa e Aureliano, e vai se afastando, fazendo mesuras, quando entra o jovem Monarca - Paulo e Aureliano correm para Don Pedro e de joelhos, cada um beija uma das suas mãos. Excitados levantam-se se dirigindo ao Imperador. Falam em uníssono.

Paulo e Aureliano:
- Majestade! Vencemos a rebelião dos paulistas. Vencemos os liberais...

Detalhe do rosto de Don Pedro iluminado.

Seqüência 13 - Campo de Batalha - Noite

O General Barão de Caxias, solitário, passa com seu cavalo por entre os corpos mortos, mutilados e estirados no campo, onde os revolucionários paulistas foram derrotados. A fumaça da batalha ainda cobre o rio e o ar frio da noite maltrata o seu rosto.

Seqüência 14 - Sobrado dos Ottoni - Exterior - Interior - Dia

Cristiano está no sobrado com Ottoni.
Na sala os dois discutem.

Cristiano:
- Ottoni, São Paulo se rendeu, a revolução se finda! Acabaram-se os compromissos com Minas!

Ottoni:
- Fica calmo meu irmão... Chegaram novas notícias, os mineiros resistem!

Carlota desce as escadas com toda a sua beleza de mulher grávida.

Carlota:
- Como está a sua conversa com Ottoni, Cristiano? O que vocês dois discutem com tamanha gravidade?

Cristiano:
- Carlota, tento convencer o meu irmão, seu marido, a não viajar para Minas, ele está sendo seguido e na certa será preso ao tentar ultrapassar a fronteira...

Ottoni:
- Cristiano! Não adianta assustar a minha esposa, pois ela, mais que ninguém, sabe dos meus compromissos com o povo mineiro.

Cristiano:
- Está certo Ottoni, está bem, que esperança tem?

Ottoni:
- Nenhuma! Se São Paulo não estiver resistindo em Curitiba, como eu imagino, ou em outro ponto qualquer; cairemos e talvez em bem pouco tempo... Mas eu me comprometi com muita gente que não posso ficar aqui em paz no quartel da saúde.

Seqüência 15 - Interior - Palácio do Imperador

Pessoas na fila para beijar a mão do Imperador que está sentado em seu trono. Aureliano se aproxima de Don Pedro falando ao seu ouvido.
Don Pedro concorda com um movimento afirmativo mexendo à cabeça.
Aureliano com um papel na mão lê uma proclamação.
A fila do beija-mão continua.

Aureliano:
- Brasileiros! O grito de rebelião que soou em São Paulo acaba de achar eco em Minas Gerais. Homens, cujos princípios foram repelidos pelos poderes políticos nacionais, entendem que suas idéias devem prevalecer, tentando revolucionar o Império. Não satisfeito com as rebeliões que tanto afligiram a nossa pátria, no processo da maioridade, querem ainda abismá-la nos horrores da guerra civil. Fiel a constituição, jamais deixaremos de fazer executar as leis, de manter ilesas as prerrogativas da Coroa, de promover a felicidade geral da nação e de salvar o Estado.

Don Pedro levantando-se do trono, suspendendo o beija-mão, dirige-se aos presentes, tratando-os como se fossem seus filhos.

Don Pedro:
- Brasileiros, que fostes iludidos! Abandonai os homens que vos têm conduzido ao crime: como pai eu vos aconselho que desprezeis suas pérfidas sugestões. Poupai-me a dura necessidade de punir-vos. Viva a Nossa Santa Religião! Viva a Constituição do Império! Viva a Nação Brasileira!

Seqüência 16 - Sobrado dos Ottoni - Exterior - Noite

Ottoni despede-se carinhosamente de Carlota e montado na besta Montanha sai penetrando nas sombras da noite.

( Câmera na grua com carrinho ).

Carlota, vendo seu marido partir:
- Vai Ottoni, é chegada a hora, os revolucionários de Minas estão a sua espera... Vai meu amor.

O espião que observa a casa sai em disparada na direção contrária de Ottoni,

( Câmera acompanhado do alto em movimento de grua com carrinho)

O espião encontra-se em seguida com os dois comparsas que o esperavam numa encruzilhada. Depois de trocar algumas informações, separam-se e cavalgam todos para lados opostos.

Seqüência 17 - Palácio do Imperador - Interior - Noite

Aureliano e Paulo caminham pelos largos corredores do palácio.

Paulo:
- Aureliano obteve informações que o deputado Ottoni, saiu de casa com intuito ignorado, suspeita-se que vai a Minas Gerais juntar-se aos rebeldes republicanos.

Aureliano:
- Não se preocupe Paulo, a polícia está vigilante, segue-lhe os passos... Todas as estradas estão bem guardadas. É uma temeridade supor a evasão.


Seqüência 18 - Cidade do Rio de Janeiro- Exterior - Noite

Numa encruzilhada, num clima diabólico, encontram-se, montados em seus agitados cavalos, preparados para uma longa viagem, fortemente armados, os três agentes do governo convocados pela Coroa para perseguir Ottoni.
Todos trazem no rosto um sorriso amargo.
Têm as caras oleosas e as roupas sujas.

Agente 1:
- Onde esteve, nobre soldado?

Agente 2:
- Fazendo os porcos morrerem.

Agente 1:
- E tu, soldado?

Agente 3:
- Procurando um renegado, um fora da lei.

Agente 1:
- O quê está esperando? Vamos atrás dele!

Os três agentes saem em disparada.

(Movimento de grua)

Pode-se ver no fundo da cena a serra do mar.


Seqüência 19 - O caminho de Minas - Exterior- Noite


Na baixada, segue Ottoni o seu caminho.
Um raio corta o céu à sua frente, iluminando a cadeia de montanhas que formam a serra do mar.
Encontra no caminho com um negro escravo.

Ottoni:
- Salve!

O Negro:
- Salve!

Ottoni:
- Estou procurando um abrigo, você sabe onde estou?

O Negro, assustado:
- Aqui são as terras do Barão de Pati, comandante da Guarda Nacional, seguindo este caminho, umas duas léguas, fica a sede da fazenda...

O Negro acaba de falar e sai correndo pelo caminho contrário de onde vinha.

Ottoni, em off :
- Voltaria este escravo para a senzala? Quanto vale para este homem a palavra Liberdade?

A besta Montanha está assustada.

Ottoni:
- Tenho que sair daqui imediatamente!

Do nada surge um soldado.

Soldado:
- Viajante, a quem procuras?

Ottoni:
- Boa noite soldado! Peço o obséquio de me levar ao seu superior...

O soldado e Ottoni, que desce da besta Montanha, seguem a pé até um posto de comando iluminado com uma grande fogueira.
Ouve-se uma gritaria infernal; é o capitão que pega um porco para matá-lo. Enquanto enfia o punhal no pobre animal olha, com um sorriso irônico, para o soldado que se faz acompanhar de Ottoni.

O Capitão:
- Vai falando soldado...

O soldado, assustado com a maldade do capitão, fica gago:
- Desculpe capitão, mas é que este senhor... Que este senhor... Que este senhor...

O Capitão:
- Vai falando soldado enquanto eu mato esse porco rebelde,

Soldado:
- É que este senhor... Encontrei esse senhor...

Capitão:
- Ta bem! Ta é bom! Sai fora, imbecil!

O porco que morre é aberto ainda vivo para se tirar os miolos.
O soldado sai assustado e Ottoni, aproveitando a oportunidade, aproxima-se do capitão, que limpa as mãos de sangue num pano sujo.

Ottoni:
- Me chamo João e estava cavalgando para minha fazenda quando a tempestade me pegou a algumas léguas daqui e acabei encontrando com seu soldado. Mas, diga-me: o que os soldados e seu oficial fazem aqui nas terras do Barão de Pati?

O Capitão:
- Quer dizer que o senhor é fazendeiro nesta região! Diga-me então: por acaso vistes um negro fujão passando por seu caminho?

Ottoni:
- Felizmente não, pois ficaria apavorado, dizem que quando um escravo foge, ele é capaz de tudo para não voltar ao açoite e ao pelourinho.

O Capitão:
- Pois será um prazer para nós dividirmos esse leitão com o senhor vizinho do Barão.

O capitão apontando para leitoa que vai para o fogo.
- Foi ele que nos deu para que pegássemos o negro fujão.
- Na certa o Senhor João conhece o Barão de Pati?
- Quer tomar um gole desta bagaceira?
- Presente também do Barão, um homem muito generoso...

Ottoni:
- Pois é claro...
- Não! Obrigado, tenho hoje ainda que chegar a minha fazenda. Ela fica aqui perto. Amanhã iremos todos ao encontro do Barão. Queira me dar licença. Boa noite a todos!...

Os soldados estavam todos tão atentos à fogueira, à leitoa assada, que famintos não notam Ottoni pegar a rédea de sua besta Montanha e sair em direção da mata escura.

Seqüência 20 - Acampamento / Faz.Barão de Pati / Exterior/Amanhece.

Os três agentes do governo acompanhados pelo Barão trazem o negro fujão acorrentado e deparam-se, no acampamento, com os soldados dormindo depois do farto banquete noturno.
O Barão, aborrecido, atiça o cavalo em cima dos soldados que acordam assustados.
O capitão, que está deitado debaixo de um cortinado, é acordado com um dos soldados caindo por cima dele.

O Barão, para o capitão, amarrotado e perfilado:
- Seu idiota, agradeça a Deus eu ter sido acordado por esses senhores que me trouxeram de presente esse negro fujão...

Agente 1:
- Capitão, o senhor por acaso viu um homem de chapéu montado numa besta...

O Capitão olha para os seus soldados, faz alguns gestos escondidos e se pergunta, em silêncio, por onde andava o viajante desaparecido?

Agente 1 :
- E aí capitão, você viu ou não viu o renegado?

Capitão:
- Quem esteve nos visitando ontem a noite foi o João, um fazendeiro amigo e vizinho do Barão. Ele até a pouco estava por aqui...

Agente 1:
- Que João, qual nada! Era Ottoni, tenho certeza! Ottoni, o deputado, o rebelde, o liberal mineiro, o exaltado republicano. Vocês se deixaram enganar... Capitão! Só mais uma pergunta: - Quanto o capitão recebeu do deputado para deixá-lo fugir?

Barão:
- Soldados, prendam o seu capitão e leve-o para a fazenda, ele tem que me falar que história e essa de fazendeiro vizinho... Isto está me cheirando à traição...

Agente 2:
- Barão deixa que nós cuida dele...

Agente 3:
- Republicano de merda!

Barão:
- Ele pode ser um traidor, mas ainda é um soldado do Império. Soldados! Em marcha acelerada para a fazenda.

Agente 1:
- Adeus Barão, olha que depois de acertarmos com o deputado rebelde passaremos por aqui...


Seqüência 21 - Fazenda do Barão da Paraíba- Ext./ Dia de sol

Ottoni está chegando cansado a uma fazenda de café na beira do rio Paraíba.
A fazenda está vazia.
Ottoni se aproxima da casa.
O Barão da Paraíba está saindo para lavoura quando se encontra com Ottoni.

Barão:
- Bom dia viajante! Se vier em paz e com a graça de Deus, está casa o receberá como um hospede amigo.

Ottoni:
- Meu caro Barão, é para mim uma honra ser recebido por um homem de sua significância.

Barão, surpreso:
- Ottoni! É você meu filho! Que alegria, vamos entrar, a casa é sua.

Ottoni acompanha o Barão e na sala da casa grande senta-se à mesa farta.
Vê o Barão falar, mas o cansaço não lhe deixa ouvi-lo, caindo logo no sono. Quando abre os olhos novamente já é noite.
Levanta-se assustado.
A casa está vazia.
Vai até a porta que está aberta e vê lá fora a besta Montanha, limpa, alimentada e encilhada, pronta para a longa jornada.
O Barão está com sua família ao lado de uma fogueira no terreiro de café.
É hora de partir.
Ottoni sobe na besta e segue o seu caminho a passo lento.

Ottoni, voz em off:
- O Barão da Paraíba, homem antigo, de rara inteireza moral, era um governista impenitente, um desses da aristocracia rural que viam, com a mais viva amargura, o Império solapado pela atividade revolucionária, mas sabia que eu caminhava, conscientemente, em busca do meu destino. Já agora um fora da lei, que pensa salvar, ilegalmente, a liberdade, a fraternidade e a igualdade do país e do seu povo. Mas, também, eu me pergunto: quando, em que tempo, e em que lugar, a liberdade se salvou, legalmente?


Seqüência 22 - Palácio do Imperador - Interior - Dia

Don Pedro está sentado no trono, pensativo, quando passa por ele o Ministro Aureliano.

O Imperador:
- Aureliano, Ministro do Império! Qual o porquê desta briga sem fim com o Bernardo Vasconcellos? Eu tenho muita simpatia por este mineiro inteligente e sensível às coisas públicas, que mesmo doente, acredita e luta por suas idéias...

Aureliano:
- É..., realmente um homem notável Majestade, mas suas idéias às vezes me confundem não me parecem lógicas: de liberal revolucionário de 1831 a conservador extremado de hoje. Não sei, mas sempre acho que ele está preparando um golpe de Estado.

O Imperador:
- Mas, devo convidá-lo para Ministro. Tenho pensado que coisa notável é o espírito humano Aureliano! Ele está quase paralítico!

Aureliano:
- Majestade, se ele for chamado não terá condições físicas para aceitar, eu acho melhor...

Bernardo Vasconcellos entra no recinto na sua cadeira de rodas.

Bernardo:
- Ainda não tenho notícias deste fato; mas é provável que, se for chamado para administração, aceito a nomeação, não para dar golpes de Estado, porque sei os casos em que eles têm lugar. Mas, se o bem de meu país exigir, alguma vez, de mim esse sacrifício, que muito há de custar o meu coração, esta mão, ainda que paralítica, não há de tremer.


Seqüência 23 - Ext./ Entardecer - Arraial Novo do Paraibuna - Noite




Ottoni olha, do alto de um morro, para o arraial que faz a divisa com o Estado de Minas Gerais.
Apeia da besta e espera a noite chegar. Só assim pode se aproximar da casa do seu amigo Antônio, que fica bem perto da ponte que corta o rio Paraibuna.
Do outro lado da ponte, estão seus companheiros entrincheirados.
O sol se põem no horizonte montanhoso.
É noite.
Ottoni entra no vilarejo e, com a besta Montanha, pára na porta dos fundos de uma casa simples.
Desce da besta e vai até a porta fechada.

Ottoni bate três vezes na porta da casa;
A porta se abre.
Ele entra.
No interior de uma sala modesta, iluminada por um fraco lampião, estão sentadas à mesa, uma mulher e uma menina, esposa e filha, a família de Antônio. As duas assustadas, trêmulas, tomam, com medo, uma sopa rala. Antônio puxa uma cadeira onde Ottoni senta-se, passando-lhe um prato de sopa.
Ottoni agradece...
A mãe pede licença e sai com a filha para o quarto.
Os dois, sozinhos, passam a conversar:

Ottoni:
- Desculpe-me, meu amigo Antônio, mas não achei outra maneira de me esconder, preciso tomar fôlego novamente e atravessar o rio. O que você tem para me dizer?

Antônio:
- Deputado Ottoni, nós aqui estamos numa situação difícil. O arraial está ocupado por forças legalistas e a ponte sobre o rio Paraibuna é a etapa mais difícil de sua longa jornada. De um lado os legalistas fortemente armados e do outro lado as tropas rebeldes de Minas que atiram sem piedade em quem passar. Não consigo ver jeito não, a situação está dramática, não há nenhuma saída, deputado...

Ottoni:
- Sim! Você tem razão, meu amigo. Dado que eu consiga burlar a guarda governista... Como avançar, inesperadamente, em plena noite, sobre o entrincheiramento rebelde? ... Voltar? Não posso! Não há saída... Tenho que ir em frente...

Ottoni ouve um barulho lá fora e vai até a janela entreaberta espiar.
Chegam à cidade os três agentes federais e um soldado que se aproxima perigosamente da casa de seu amigo Antônio.
Ottoni vendo que está pondo em perigo a família do amigo toma uma decisão final. Com calma abre a porta da humilde casa, chama Antônio e diz:

Ottoni:
- Antônio, fique despreocupado, vai se recolher com sua família, que eu já sei o que fazer, mas preciso antes te pedir um último favor...

Tira do bolso um bilhete que dobrado que entrega para Antônio.

Ottoni:
- Peço para você ir até o Rio de Janeiro, na minha casa e levar toda e qualquer notícia que ocorrer hoje aqui. Entregue esse bilhete para a minha mulher, Carlota. Antônio faça isso em nome da nossa amizade.

Dizendo isso, sai pela porta dos fundos, sobe na besta Montanha e segue em direção da ponte.
A ponte está fortemente vigiada.
Ottoni segue em frente, resoluto, envolvido em seus pensamentos.

Ottoni, em off:
- As aventuras são para os aventureiros. E se houver, como é quase certa, uma senha especial? Serei preso e isso não pode acontecer, não posso abandonar os amigos. Não! Eu vou conseguir passar! Eu sinto essa chama queimando dentro de mim.

Ottoni olha para traz e vê os três agentes federais se aproximando dele. Aumenta os passos da besta Montanha.
Chega ao início da ponte.
Um guarda lhe faz um sinal.

Soldado:
- O Senhor tem os documentos? ...

Ottoni:
- Sou enviado de Sua Majestade, Don Pedro II, a Minas Gerais...

Os agentes, que se aproximam, reconhecem o deputado Ottoni que está com o soldado, ficam agitados e gritam para os soldados:

Agentes:
- Prendam esse homem em nome do Imperador.

Ottoni, para o soldado:
- Eis aqui amigo o meu passaporte...

Ottoni esporeia violentamente a besta Montanha, soltando-lhe a rédeas, ela dá um pulo e investe num galope frenético e furioso, através da ponte intransponível.
A soldadesca aturdida faz alguns disparos sobre esta figura noturna com seu largo ponche panejando ao vento, veloz como o relâmpago, ensurdecendo a noite tranqüila com os cascos volantes do animal sobre o madeirame velho da ponte.
Através da neblina, aproximando-se do acampamento rebelde, Ottoni grita a todo pulmão:

Ottoni, vibrante:
- Viva a Revolução!

Grita, repetidas vezes, até chegar à outra margem do rio.
Na ponte, do lado rebelde, os Chimangos preparam-se para o ataque, mas ouvindo a voz distante de Ottoni, reconhecem pela voz o companheiro e eles o acodem como numa senha, gritando também:

Os Chimangos:
- Viva a revolução! Viva a revolução! Viva a revolução!

Ottoni atravessa a ponte.
No outro lado o comandante Zeferino, do destacamento do Paraibuna, o reconhece e o trata com respeito e gentilezas.
E então as aclamações atroam os ares:

Os rebeldes:
- Viva Otoni! Viva Ottoni! Nosso deputado. Viva Ottoni! Nosso comandante. Viva Ottoni! Nosso líder. Viva Ottoni!

Mudam-lhe o chapéu para um de palha amarela com laço verde.

Ottoni:
- Ouçam-me, amigos revolucionários de Minas; nossos irmãos paulistas resistem bravamente às forças legalistas. Nossas Minas Gerais não abandonará a luta. Caminharemos juntos para o grande dia em que ditaremos leis ao Império...

Gritos e mais gritos.

Ottoni continua:
- Estou indo para Barbacena para onde levo esta grande notícia - Juntaremos todas as nossas forças e libertaremos Ouro Preto, a nossa capital, das forças reacionárias que nos governam; resistir e libertar são nossas bandeiras; liberdade e resistência são nossas histórias...

Gritos de viva a revolução.

Ottoni continua:
- Revolucionários de Minas! Vamos impedir que o Barão de Caxias avance sobre nós incendiando de imediato essa ponte que será reconstruída, na certa, num Brasil mais justo e melhor.

Os rebeldes saem com tochas na mão para atear fogo à ponte.
Ottoni sai carregado por seus companheiros
O dia amanhece.
Ottoni cavalga pelas montanhas de Minas.
Um vento suave balança as copas das árvores.

Ottoni, voz em off:
- Sinto-me em casa novamente. O vento, um frio vento de junho, fustiga meu rosto. E há uma emoção telúrica nesse vento. Vento agressivo, que veio pulando as escarpas da Mantiqueira. Que conheceu os píncaros do Itacolomy, vestidos de nuvens. E tremulou a bandeira dos desbravadores. E ouviu a elegia dos rios que ainda choram a tragédia do ouro. E deslizou roçagante e macio, pelos santos lugares de Vila Rica, indo beijar, no alto do poste infamante, a face gelada de Tiradentes. Vento de Minas, livre e fecundo.


Seqüência 24 - Ext./Dia/ Barbacena - Pelas montanhas de Minas

Próximo de Barbacena, viajando pelos vales da Serra da Mantiqueira, entre cachoeira e riachos, segue Ottoni o caminho da revolução.
O vento já não sopra mais no seu rosto e o sol esquenta o seu corpo.
Ottoni retira então do pescoço o seu ponche e chega ao lado de um riacho de águas claras.
Estava tão cansado que não observou o deputado Cônego Marinho que estava deitado debaixo de uma árvore.
Ottoni só nota a presença do amigo no instante em que, descendo da besta, olha para o lado.

Ottoni:
- Deputado José Antônio Marinho, não pensava encontrá-lo aqui, mas sim em Barbacena. Como soube que eu vinha?

Marinho:
- Não soube, acordei hoje de manhã e pressenti que o meu amigo havia chegado. Vim me deitar no caminho, para meditar um pouco e cumpriu-se o desígnio de Deus, você chegou Ottoni, e é bom vê-lo...

Ottoni:
- Eu também estou feliz por estar de volta a Minas, minha terra, minha gente. Marinho, pois me fale agora da revolução?

Marinho:
- Ottoni, a revolução escreve em Minas sua página heróica. Renasce o fervor de velhos dias. Em toda parte, acudindo o chamamento, mobilizam-se os batalhões de voluntários... Daí o milagre, embora não preparada, a província se põe em armas.

Ottoni:
- Marinho, vamos transformar esta demonstração de apoio a São Paulo, na verdadeira revolta dos mineiros pelos princípios eternos da razão e da justiça e, mesmo ficando a sós, poderemos dar leis ao Império.

Marinho:
- Estou ao seu lado Ottoni, mesmo com a resistência do presidente José Feliciano em dar continuidade ao movimento, eu, e muitos outros, estamos ao seu lado. Bravo deputado!

Ottoni:
- Parar a revolução, jamais! José Feliciano está mal informado, a mim não resta dúvida; São Paulo resiste e precisa do apoio de Minas, não vamos esmorecer, não vamos dispersar, o que acontece aos indivíduos, também acontece às nações. Revolucionando os indivíduos transformaremos o país. A história contará o resto...


Seqüência 25 - Barbacena - Praça - Exterior - Dia de sol

Tropas rebeldes, composta na sua grande maioria de civis voluntários, reunidas em pequenos grupos, estão na praça em frente do comando geral dos revolucionários mineiros.
Aproximam-se e entram na casa do alto comando, Ottoni e o cônego Marinho. Lá dentro estava o presidente José Feliciano, acompanhado pelo comandante Lemos, pelo Tenente Guilherme e seu filho, por Galvão, por Martins e pelo João Ribeiro.

Feliciano, olhando Ottoni entrar na sala:
- É o deputado Ottoni que acaba de chegar? A vitória então nos apresenta...

Ottoni e Feliciano trocam um demorado abraço.

Feliciano:
- Achei que você não viria, soube que os legalistas ocupavam toda a fronteira de Minas com o Rio de Janeiro, vejo que não recebi a informação certa, como você passou pelo cerco nas terras do Barão de Pati? Mas isso não mais importa...

Ottoni:
- Salve o Presidente da Província! Tenente Coronel José Feliciano, trago notícias que São Paulo resiste bravamente às tropas do Barão de Caxias...

Feliciano:
- Ottoni, eu tenho pensado muito nos embaraços que se opõe a um rompimento aqui em Barbacena... Não há, porém, armamentos, nenhuma munição, nenhum oficial, nenhum dinheiro, falta de tudo; entretanto, parece-me urgente que se acuda os paulistas, que sem o apoio de Minas podem sucumbir e, então, desgraçados uns e outros...

Silêncio.

Feliciano:
- Agora deputado Teófilo Ottoni, se me der licença, tenho de ler em frente da Câmara Municipal está declaração que acabo de redigir.

José Feliciano sai acompanhado por todos e segue, a pé, até a Câmara Municipal de Barbacena.

Ottoni, voz em off:
- José Feliciano, sua fortuna, seu prestígio político dentro do partido, tudo estava a indicá-lo para liderar a revolução... Mas a trama de sua história é um paradoxo; sem Feliciano a revolução não teria sido possível, com ele, estava destinada ao fracasso.

Feliciano lê a declaração:
- Mineiros! O grito heróico que acabam de soltar os briosos paulistas em sustentação das liberdades brasileiras, não atingiu o trono Constitucional do nosso adorado monarca...

Ottoni, voz em off:
- José Feliciano é um monarquista, não simplesmente de cabeça, mas de coração e receava que em torno dele se levantasse o grito da república.

Feliciano:
-... A Província se reunirá em torno de um ideal. Para gritarmos, liberdade! Respeito à Constituição! Segurança para o Povo! Respeito e liberdade para a Coroa! Faremos a revolução...

Ottoni, para Marinho:
- Chega Marinho! Não consigo ouvir mais, vamos sair...

Feliciano, sua voz ao longe:
- Vossa perseverança firmará o trono constitucional do Senhor Don Pedro II. Unidos a pátria será salva. Mineiros! Viva a Religião. Viva a Constituição. Viva o Brasil! Revolucionários de Minas marchem todos unidos em direção a cidade de São João Del Rey...

As imagens seguem as descrições: cenas das tropas rebeldes sendo recebida com festas em várias cidades de Minas: São João Del Rey, São José, Baependi, Oliveira, depois vila do Araxá.

Ottoni, off:
- O único desses municípios que se declarou enérgica e fortemente em nosso apoio foi o Município de Santa Bárbara com seus contingentes de homens, fortemente armados e treinados. Graças a eles, conseguimos derrotar Caeté, tomá-la das mãos dos legalistas, que resistiram com coragem...

Cenas dos rebeldes lutando contra soldados legalistas nas ruas da cidade de Caeté.

Ottoni, off:
- Depois vieram contingentes de Sabará, Curvelo, Bonfim e de outras localidades, assim, ninguém mais duvidava do nosso êxito e das nossas vitórias... Mas chegando a Queluz, José Feliciano, em vez de atacar a capital, Ouro Preto, depondo os déspotas e assumindo o governo de Minas, retorna para São João Del Rey.

Seqüência 26 - Interior da prisão de Ouro Preto - Dia

Ottoni e amigos estão no pátio da prisão tomando sol.
Todos estão ouvindo Ottoni contar as histórias da revolução mineira.
Os soldados estão da mesma maneira que os presos, atentos à maneira que Ottoni conta os fatos recentes.

Ottoni:
- Meus amigos, foi um golpe mortal descarregado sobre o movimento, pois assim começam os desânimos. Depois soubemos que José Feliciano tinha convocado uma Assembléia Provincial, para discutir os novos rumos da nossa revolução. Disse a ele: - É tempo, meu comandante, de combater e não de liberar...


Seqüência 27 - Palácio do Imperador - Julho de 1842 - Sala do Trono

O retrato da futura Imperatriz do Brasil passava de mãos em mãos.
(Alguns comentários são captados por uma câmera jornalística que passeia pela corte).
No fundo fica a cena do beija-mão.

Senhora 1, passando a gravura:
- O enviado à Europa, Bento Lisboa, depois de dois anos procurando na corte européia, não me decepcionou, ela não é lá grandes coisas, mas, também, quem quer vir morar aqui nestas selvas?

Menina 2, olhando a gravura:
- Eu, francamente, esperava coisa melhor!

Menina 3, pegando a gravura:
- E quem será essa infeliz moça que virá sentar-se no trono brasileiro?

Menina 4, arrancando a gravura:
- No mínimo uma arquiduquesa; uma princesa das melhores famílias da Europa.

Menina 5, recebendo a gravura:
- Uma Habsburgo, uma Bourbon da Espanha, ou mesmo uma Orleans ...

Senhora 1:
- Tereza Cristina é uma Bourbon!

Menina 5, passando a gravura:
- Bourbon de Nápoles! O menos bem visto ramo de toda a família real.

Don Pedro olha para uma das meninas.
Os dois trocam olhares íntimos de amor.
Paulo Barbosa pega a gravura nas mãos da Senhora 1 e virando-se para as meninas diz:

Paulo:
- Sua Majestade, o Rei Don Pedro de Orleans e Bragança Segundo, deve agora receber o Ministro Aureliano para despachar assuntos urgentes, assim sendo, gostaríamos de ficar sozinhos.

Aureliano entra na sala e depois de beijar a mão do Imperador diz:

Aureliano:
- Estamos hoje especialmente felizes por comemorarmos o aniversário da Maioridade de nossa Majestade O Imperador Don Pedro II.

Paulo Barbosa, entregando a gravura para Don Pedro:
- O retrato de nossa futura Imperatriz, a Princesa das Duas Sicílias, desfez, em grande parte, a má impressão com que todos nós tínhamos ficado depois da notícia do noivado.

Aproxima-se agora de Don Pedro, o seu Ministro da Guerra José Clemente e o Barão de Caxias, o pacificador dos rebeldes de São Paulo.

Aureliano:
- Mas o que nos traz aqui hoje, neste dia de festa, são os acontecimentos políticos de Minas e de São Paulo.

José Clemente:
- Senhores, eu gostaria de lembrar a todos vocês da minha lealdade à corte...

Paulo Barbosa:
- Excelentíssimo Senhor Ministro do Exército, sabemos de sua lealdade, mas a província do sul, atacada constantemente por vossa senhoria, sofre vergonhosas perdas para as forças republicanas revolucionárias, o que já vem nos torturando desde 35, Ministro! São sete anos de perdas irrecuperáveis...

José Clemente:
- Senhor Paulo Barbosa, passei a nado o Atlântico, com a minha espada na boca, para combater os rebeldes da independência. Majestade! Eu defendi o seu pai, a corte portuguesa e hoje, humildemente, para que não haja mais dúvidas quanto a minha lealdade ao Imperador, entrego-lhe a minha espada.

Barão de Caxias:
- Chega José Clemente, todos nós sabemos de suas contribuições à Corte de Lisboa.

Aureliano:
- O que posso notar é que mal o nosso digníssimo Imperador comemora o seu aniversário no comando de todos os brasileiros de bom senso, Minas e São Paulo, arregaçam suas bandeiras republicanas, revolucionárias, a se amamentar nas idéias insurgentes dos ingleses do norte.

Don Pedro:
- Não estou entendendo onde os Senhores Ministros querem chegar... Estamos sofrendo alguma séria ameaça desses rebeldes?

Entra apressado no nobre recinto, movimentando-se na cadeira de rodas, Bernardo Vasconcellos.

Don Pedro:
- Bernardo! Eu preciso de sua ajuda, preciso dos seus conselhos...

Paulo, entre os dentes:
- E ele do seu poder...

Vasconcellos:
- Como aconselhá-lo! Como lhe dar poder? Não temos mais um Imperador, o seu poder está nas mãos, sinto muito, do Aureliano e do Paulo Barbosa! A verdade tem de ser dita, mesmo que doa nos ingleses...

Aureliano:
- Majestade não ouça as palavras de Bernardo, são puras analogias em relação a nossa eterna dependência dos lordes ingleses. Não gosto de Bernardo, nem ele de mim, todos aqui sabem disso, mas na certa tem ele razão quando luta contra os ingleses que sediam os nossos portos a conter, como pretexto, os negros escravos africanos.

Paulo Barbosa:
- Como pode ser crível a sua Majestade informações filosóficas advindas de facções revolucionárias à Monarquia?

Don Pedro:
- Passo a entendê-los agora, talvez tardiamente, não sei, só sei que venho sendo sacudido pelos impropérios e iniqüidades daqueles que não querem ver os fatos: desde que meu pai abdicou o trono, antes à regência, agora em meu favor

Olha com deboche para Bernardo.

Don Pedro, cont.:
- Venho sofrendo por parte daqueles que querem o retorno, o passado português, e dos que querem avançar demais, o futuro, a república americana dos ingleses do norte. Posso entendê-los? Não, não posso.

Barão de Caxias:
- Majestade, ontem nós tínhamos, sob as ordens de vosso augusto pai, a dissolução da Assembléia Constituinte. Os jornais, O Tamoio, A Sentinela, atacavam o governo com palavras ásperas. Foi a noite da agonia para o Primeiro Império... Os castigos infligidos por seu pai aos rebeldes, foram tão severos que de nada valeram os pedidos de clemência, dezesseis pessoas foram condenadas a morte e executadas...

José Clemente:
- No que fez ele muito bem!

Barão de Caxias:
- Declara-se guerra à Argentina, uma guerra inútil, perdida, garantindo mais uma vitória aos reformistas exaltados que fervilhavam no Primeiro Império até a abdicação. Depois os liberais chegam poder, fortalecem as províncias e a regência do Padre Feijó com a oposição sistemática de Bernardo Vasconcellos e Carneiro Leão e a fundação do Partido Conservador, provocaram os conflitos que ocorrem hoje por todo país.

Don Pedro:
- Aureliano, você pode me dar essa gravura de minha futura rainha. Peço desculpa aos Senhores, mas mal posso comigo de tão cansado, subo ao meu quarto a largar o enorme peso que trago no ombro

Mostra a todos a sua vestimenta.
Don Pedro sai da sala acompanhada por Paulo Barbosa que fala ao seu lado extremamente nervoso.

Aureliano, olhando para Bernardo Vasconcellos:
- Conseguimos, embora Bernardo Vasconcellos conteste o nosso poder, à bem de todos, pacificar os movimentos no Grão-pará, no Maranhão, no Piauí e também em Salvador. Seus líderes estão presos ou mortos. No segundo aniversário da maioridade as afrontas persistem em permanecer... Agora, aqui do lado, na província de Minas os republicanos comandados por Teófilo Ottoni tentam sediar o governo em Ouro Preto. Enquanto isso São Paulo já se rendeu ao exército de sua Majestade comandado pelo brioso Barão de Caxias aqui presente. (Palmas, agradecidas por Caxias)

Bernardo Vasconcellos:
- Por isso peço a presença do ilustríssimo Barão no comando das tropas que irão pacificar os revoltosos do Sul do país...

José Clemente:
- Os nossos exércitos já prenderam os líderes desta guerra...

Bernardo Vasconcellos:
- Bento Gonçalves está preso, mas David Canabarro está à solta pensando em invadir Santa Catarina.

José Clemente:
- Por mim, está resolvido, remeteremos todos os contingentes do exército imperial, sob o comando do Barão de Caxias a pacificar o sul.

Aureliano:
- Não, José Clemente, o Barão de Caxias vai primeiro a Minas, que está aqui do lado, apagar o fogo que arde nos corações dos revoltosos das Gerais.

José Clemente:
- E o sul, Aureliano? Vamos deixar que lá se instale a tão famigerada república?

Seqüência 28 - Casa em São João Del Rey - Int./Ext. - Noite

Estão todos, do alto comando revolucionário, reunidos numa sala.

Ottoni:
- Presidente José Feliciano, nós tínhamos um plano de se organizar um numeroso exército revolucionário que através de Queluz assaltasse e ocupasse Ouro Preto. Os nossos homens, o povo, nossos soldados, estão unidos nessa esperança, não vamos decepcioná-los!

José Feliciano:
- Ottoni, a Vila de Queluz foi abandonada pelo bravo Galvão, que está aqui presente, acompanhado por João Ribeiro.

Galvão:
- A vila de Queluz, cercada de morros, não nos oferecia nenhuma segurança, podíamos ser flanqueados a qualquer momento e resolvemos abandoná-la.

João Ribeiro:
- E Queluz assim foi invadida, sem nenhuma resistência, por uma brigada comandada pelo Brigadeiro Alves de Toledo.

Ottoni:
- Mas, Presidente, sendo isso mesmo o que todos pensamos que é assaltar novamente Queluz e marchar em seguida na direção de Ouro Preto, que o Senhor ouça o Capitão Marciano, o maior conhecedor desta região.

José Feliciano:
- Pois, que fale o Capitão Marciano!

Capitão Marciano:
- Senhor Presidente, nós podemos retomar a Vila de Queluz sem muita dificuldade, pois os legalistas julgam inexpugnável a Vila e nela se encerram. Lembrando que Galvão, aqui presente, com 150 insurgentes havia repelido, dessa mesma posição, mais de seiscentos legalistas, tomando a Vila numa brilhante vitória, proponho que me confiem 200 homens que nesta mesma noite ocuparei, sem alvoroço, as estradas de saída para Ouro Preto, Congonhas e Suaçuí. Amanhã vocês acampam com duas colunas, cercando as entradas principais, defronte a Vila, eles estarão cercados e nós vamos apertando o cerco até eles se entregarem.

José Feliciano:
- Não podemos!

Ottoni:
- Como não podemos? Como acabamos de provar, vamos deixar passar essa nova oportunidade de vitória se esvair de nossas mãos, Presidente!

José Feliciano:
- Não podemos, mas estão certos os dois, seus argumentos são válidos...
Pois, temos agora duas alternativas: ou re-atacamos Queluz ou avançamos para Sabará...

Dirigindo-se à Galvão.

José Feliciano:
- Preparem os 200 homens e os deixem sob o comando do Capitão Marciano.

Todos ficam eufóricos.
Ottoni com o Cônego Marinho sai para rua.
Depois sai Galvão acompanhado pelo Capitão Marciano e por último sai o Presidente José Feliciano.
Estão alegres e os rebeldes acampados nas ruas saem de suas barracas para observar seus líderes.

Rebelde 1:
- A vitória nos sorri, é Nunes Galvão, herói da Independência que está no comando...

Rebelde 2:
- Eu acho que você está certo quanto à vitória, mas é Teófilo Ottoni, o Ministro do Povo, que está no comando.

Ottoni se afasta do grupo que se reúnem, novamente, em frente da casa.
O capitão Marciano sai a galope.

Cônego Marinho:
- Parabéns Ottoni, depois de Queluz, Ouro Preto...

Ottoni fica triste e abaixa a cabeça.

Cônego Marinho:
- O que foi, disse alguma coisa errada?...

Ottoni:
- Foi-me difícil deixar Carlota com meu filho ainda no ventre e partir para fazer a revolução. Somente uma profunda convicção de lealdade, e um profundo amor a liberdade, me tirariam do campo das idéias para o campo de batalha...

Cônego Marinho:
- Ottoni, este ano de 1842, formará uma época notável, e os acontecimentos, que nele tiveram lugar, fornecerão matéria para um dos mais interessantes episódios da história brasileira.

O Capitão Marciano se aproxima de Ottoni e do cônego Marinho.

Marciano:
- Ottoni, Feliciano acaba de revogar, juntamente com Galvão, a deliberação tomada há pouco.

Ottoni, Marinho e Marciano caminham em direção do grupo que está com Feliciano.

Ottoni:
- Senhor Presidente, nós já tínhamos decidido o assalto a Queluz, o capitão Marciano já remeteu seus homens, não podemos agora desistir.

Feliciano:
- Não estou desistindo, estou ponderando com o bravo Galvão das dificuldades que nos encontraremos. Que-luz é uma vila fortemente armada, defendida por tropas legalistas disciplinadas...

Ottoni:
- Mas essas dificuldades já foram discutidas aqui, agora pouco...

Feliciano:
- Ottoni, em verdade eu tenho informações que São Paulo rendeu-se ao exército do Barão Caxias, e que este já se encontra a caminho de Minas.

Ottoni:
- Presidente, o senhor pode estar enganado, a ocupação de São Paulo não passa de planos no papel. Os paulistas resistem e ninguém pode nos provar ao contrário. Agora, quanto a Queluz, deixá-la à direita em demanda a Sabará, equivale a uma verdadeira fuga, acabamos de vez com a revolução de Minas, sacrificando também a Paulista...

Feliciano:
- Galvão dê os duzentos homens ao Capitão Marciano e ponha em execução o plano adotado.

Virando-se ríspido para Ottoni.

Feliciano:
- Vossa Excelência quer que se ataque Queluz? Pois ataque-se Queluz; mas eu não respondo pelo resultado.

Ottoni:
- Respondo eu, porque o senhor Galvão vai à frente do exército.


Seqüência 29 - Vila de Queluz - Ext/Int - Noite. Amanhecer. Entardecer.



É noite.
Soldados legalistas dominam a Vila de Queluz.
Em cada esquina um grupo de homens fortemente armados.
Na encosta da montanha, que cerca a vila, trincheiras estão sendo cavadas por soldados.

Um soldado diz para um oficial que passa:
- Capitão, está tudo pronto para recebermos os Chimangos...

O Capitão, sorridente:
- Soldado, ao trabalho... Agora vamos dar aos Chimangos o troco.

Na mata, perto da Vila, acontecem os primeiros disparos de arma de fogo.
Os soldados que abrem as trincheiras se escondem.
O oficial capitão sai em disparada na direção da vila.
No alto da montanha ouve-se e vêem-se os clarões dos disparos.
Ottoni que está ao lado do Cônego Marinho observa:

Ottoni:
- É o Capitão Marciano que ataca de emboscada, fará isso durante toda a noite. Amanhã, quando avançarmos, eles estarão exaustos e amedrontados.

Várias cenas de ataques noturnos dos rebeldes em grupos isolados de soldados legalistas.
Várias cenas curtas dos soldados entrincheirados ouvindo os tiros vindos da mata.
O dia amanhece.
O galo canta três vezes e o sol desponta sobre a montanha.
Tudo agora é silêncio.
O sol chega à vila.
Dois soldados que estão numa esquina, mal conversam, estão agitados, assustados.

Soldado 1:
- Fez muito frio esta noite... Parece que o dia hoje não trará muita novidade.

Soldado 2:
- Correu notícias, a noite toda, que os Chimangos estavam nas cercanias da vila... É preciso lembrar, que uma noite fria é prenúncio de um dia quente?

De repente, na vila silenciosa, os sinos das igrejas começam a dobrar de maneira arrítmica, provocando, como um código, o movimento das tropas legalistas.
Na frente da vila os Chimangos sob o comando de Galvão, de um lado e do outro lado Ottoni, mais o Capitão Marciano vindo pela retaguarda.
Todos atacam com um ímpeto louco e aos gritos.

Os Chimangos:
- Viva a Constituição! Viva a Revolução!

Dentro da vila, os legalistas contra atacam também aos gritos.

Legalistas:
- Viva a Monarquia! Viva o Imperador!

Tiros e correrias.
Mortos e feridos.

Galvão, para o filho que luta ao seu lado:
- Meu filho, vai pela direita flanqueando o inimigo, mas tome cuidado, à noite comemoraremos na praça a nossa vitória.

O filho:
- Pai!...

Galvão olhando para ele e abrindo um ligeiro sorriso.

O filho:
- Obrigado por me deixar participar desta luta.

Na frente, em posição de primeira linha, vinha Ottoni, trajando uma casaca branca, disputando a posição de maior perigo.
Numa violenta troca de tiros, Galvão toma posições importantes dos legalistas e continua avançando pela cidade, chegando quase a praça principal.
Na retaguarda o Capitão Marciano passa por cima das trincheiras pondo a correr alguns soldados legalistas.
Os rebeldes revolucionários mineiros avançam com bravura e peito-aberto.
Do lado das forças legalistas estão todos nervosos.
No quartel general das forças legalistas, uma casa que fica na praça principal, soldados entra e sai carregando alguns baús pesados.
O tiroteio lá fora continua a se aproximar da praça.
Um oficial aproxima-se, ferido, do Comandante das forças legalistas.

O Oficial:
- Comandante Toledo, nós temos de abandonar a cidade, reorganizar os soldados e coordenarmos um contra ataque que venha, de fora para dentro, cercando o inimigo.

Comandante:
- Coronel Souto, o senhor não sabe o que está falando. Eu pretendo sustentar as minhas forças aqui dentro da vila onde me sinto mais protegido.

O Oficial:
- Engana-se o senhor, comandante Alves de Toledo, estamos encurralados entre duas colunas rebeldes, e o cerco deles vem se apertando...

Comandante:
- Coronel Souto, suas ordens são de juntamente com os nossos soldados invadir a Igreja Matriz e lá tomar posição.

Na Praça Matriz os soldados disparam contra os insurgentes que penetram pelas ruas atirando.
Ottoni é um deles, o mais visto pelos inimigos, pelas suas posições perigosas e pela esvoaçante casaca branca.
Os comandantes legalistas e mais uma grande quantidade de soldados, recuam e se colocam na frente e no interior da Igreja Matriz.
Os rebeldes invadem totalmente a cidade.
O dia vai se acabando e o sol se põe por de trás dos montes.
Tiros e correrias.
Mortos e feridos.
A noite chega.
A Igreja está cheia de legalistas temerosos que começam a debandar pelas portas laterais e pelas sombras da noite.
Os tiros, em menores números, são disparados a noite toda.
Durante toda a noite os legalistas fogem da Igreja Matriz.
Um pouco antes do amanhecer, um tiro perdido dado por um dos poucos soldados que permaneciam na Igreja, acerta mortalmente o filho do bravo comandante Galvão, que tomava posição numa esquina.
Galvão sai do seu esconderijo, se expondo de corpo aberto, para socorrer o filho.
Não se houve mais nenhum tiro.
Um silêncio cobre a vila de Queluz.

Galvão:
- Meu filho! Eu lhe disse para tomar cuidado...

O Filho:
- Meu pai, acuda ao fogo, que já estou morto...

Galvão:
- Fique quieto, você não vai morrer... Meu filho!

Um médico chega para cuidar do ferido.
O venerável velho guerreiro vitorioso de muitas lutas, deixa correr no rosto marcado uma lágrima.

Galvão, para o médico:
- Veja se o pode salvar; e se morrer, ainda me resta outros três para sacrificá-los à causa da liberdade.

Galvão, numa corrida suicida, onde dispara alguns tiros, avança, provocando o reinício do tiroteio, até quase à porta da Igreja.
Uma oficial legalista tenta com um grupo de soldado retomar uma posição perdida.
Tiros.
Mortos e feridos.
O Galo canta novamente.
O dia amanhece.
O Coronel Souto, legalista, leva um tiro e cai ferido.
É dia,

(Câmera em movimento de carrinho com grua pelo campo de batalha)

As imagens passeiam pela praça repleta de mortos e feridos, legalistas e rebeldes, documentando a narração que vem em seguida:

Ottoni, voz em off:
- Estávamos eufóricos e tristes neste dia. Esta manhã veio mostrar toda a extensão da vitória; os soldados legalistas saiam de suas trincheiras, com bandeiras brancas penduradas nas baionetas, e se entregavam aos vencedores. Cinqüenta mortes, muitos feridos, entre esses muitos oficiais, duzentos prisioneiros, quantidades de armamentos e cartuchos, viveres e gados. A nossa vitória de Queluz foi brilhante e de imenso alcance para a revolução. Mas perdemos ali o filho do valente Galvão, herói da Independência, mártir da Liberdade.


Seqüência 30 - Palácio do Imperador - Dia..

Don Pedro II está na cama com uma menina.
O rei namora uma menina da corte com a proteção do Paulo Barbosa.
Surge Aureliano.
São dadas três batidas na porta.
A menina sai do quarto, entra Paulo que diz:

Aureliano:
- Sua Majestade me pediu para chamá-lo assim que todos estivessem reunidos para tratar das homenagens ao Barão de Caxias.

Don Pedro se vestindo apressado:

- Não me apresse Aureliano, sei do valor que tem o nosso barão...

Aureliano:
- Majestade, depois de haver pacificado São Paulo, o nosso mui querido Luís de Lima e Silva, o Barão de Caxias, é o único que me traz a confiança de que um dia pacificaremos o Brasil. Hoje segue para a província de Minas, onde, na certa, irá pacificar aqueles outros revoltosos.

Os três caminham pelos corredores do palácio.

Don Pedro:
Pacificará, com certeza! Pois, o Barão não sub-julga, trata os vencidos sempre com justiça e mesmo com bondade...

Paulo:
- O Barão é digno, Majestade, das homenagens que lhes são tributadas.

Don Pedro:
- Caxias sabe ser forte e humano ao mesmo tempo, é um modelo a ser apresentado aos nossos militares, não cultiva a força a não ser para colocá-la a serviço da humanidade.


Seqüência 31 - Exterior - Na ponte do rio Paraibuna - Dia

Caxias chega ao Paraibuna.
Um oficial se aproxima.

Oficial:
- Comandante, a ponte já foi reparada e os rebeldes, entrincheirados do outro lado, recuaram. Esperamos suas ordens...

Caxias ordena:
- Capitão, pois então, coloque a segunda coluna em marcha e vamos atravessar a ponte, pois os mineiros nos esperam.


Seqüência 32 - Interior da Prisão de Ouro Preto - Dia

Ottoni continua no pátio da prisão tomando sol e contando aos companheiros sobre a revolução. Aproxima-se deles um carcereiro.

Ottoni:
- Depois da vitória de Queluz abriram-se as portas da capital Ouro Preto. Tínhamos que ter partido imediatamente, como se fossemos o correio que levássemos ao Governador da Província a derrota de Queluz. Ao contrário, ficamos ali parados, com conversas inúteis, por dois dias...

Carcereiro:
- Tenho notícias boas para vocês! Com o casamento de Don Pedro, o governo anistiará todos os Chimangos, menos o seu mais exaltado líder, o tal Capitão da Casaca Branca...

Todos ali olham para Ottoni.


Seqüência 33 - Exterior - A longa Marcha - Entardecer - Noite

Ottoni está ao lado de um grupo de homens que preparam alguma coisa para comer numa fogueira improvisada.
Aproxima-se dele o Cônego Marinho.

Marinho:
- Ottoni! José Feliciano recebeu ontem a visita de um mensageiro de Barbacena lhe trazendo uma carta dando notícias da derrota dos paulistas e pedindo que visse a necessidade de por um termo à nossa revolução. E que para socorrer o governo está em marcha o Barão de Caxias à frente de um poderoso exército.

Ottoni:
- Eu estava lá Marinho! E disse a ele; que naquele momento estava em jogo a própria sorte da causa. Se não marchássemos contra a capital da província, perderíamos a batalha e estaria morta a revolução. Mas, ao contrário, se ganhássemos, invadindo Ouro Preto, pouco nos deve importar a derrota dos paulistas e a espada de Caxias.

Nesse momento passa por eles o Presidente José Feliciano acompanhado do bravo Galvão.
Feliciano está em pé no seu cavalo.
Já é noite.

José Feliciano:
- Revolucionários de Minas! Iniciaremos a marcha em direção a Ouro Preto.

Os comandantes dos batalhões ordenam aos revolucionários que se inicie a marcha.


Seqüência 34 - Marchas e Contramarchas do Barão de Caxias-Ext/Dia

Marchando em fila dupla estão dois jovens soldados conversando.

(Câmera acompanha em movimento de travelling)

Passa por eles, um velho e garboso oficial, desfilando num belo cavalo, puro sangue, negro.

Soldado 1:
- Por que esse sorriso no seu rosto? Não temes a morte?

Soldado 2, com o sorriso aberto:
- Espero ansioso o momento do confronto. Meu pai lutou com o Barão de Caxias, quando este pacificou os rebeldes do Maranhão. Estou aqui como se estivesse na minha fazenda, feliz e disposto a dar uma surra nestes Chimangos. É por isso que estou sempre sorrindo.

Oficial:
- Atenção! Soldados! Interromper a marcha. Descansar!

Soldado 2:
- Porque paramos se já posso sentir o cheiro daqueles traidores...

Soldado 1:
- Tática do Barão, quer dar tempo aos Chimangos para eles se renderem e assim não se gasta munição.

Oficial:
- Soldados! Menos conversa e mais atenção às ordens - comece a preparar as barracas - os dias que se seguem serão duros; os mineiros vão nos dar mais trabalho que os paulistas, portanto - descansar!

Soldado 1, olhando para o oficial, com orgulho:
- Esse é o meu pai!


Seqüência 35 - A Longa Marcha Revolucionária - Exterior - Dia

Os revolucionários continuam em marcha lenta em direção de Sabará - Ouro Preto. Lado à lado cavalgam Ottoni, na sua besta Montanha com José Feliciano, no seu belo cavalo malhado, Galvão, no seu cavalo baio com Cônego Marinho no seu cavalo branco.
Aproxima-se de José Feliciano, num galope, um cavaleiro com uma mensagem na mão.
Os dois se afastam do grupo.

Cavaleiro:
- Presidente José Feliciano, eu venho lhe informar que notícias que trago de Barbacena dizem que o Barão de Caxias estacionou o seu exército, aqui bem perto, à espera de sua resposta. Preciso retornar com uma afirmação de suas intenções, do contrário o Barão de Caxias segue em direção a Ouro Preto para lhe atacar. Rendam-se, diz o Barão, que o senhor e todos os insurgentes serão beneficiados com a anistia...

José Feliciano:
- Senhor Capitão, diga aos seus superiores que a resposta é que não negocio sobre pressão, mas, para demonstrar minha lealdade a sua Majestade, me mantenho fora da luta imediata, com minhas forças de guerra também estacionadas.

Feliciano, voltando-se para os seus oficiais comandantes, ordena:

José Feliciano:
- Dêem ordens aos seus subalternos para que se interrompa a marcha! E que um grupo de soldados saia a procura das colunas de Santa Bárbara, que julgo estarem perdidas, não muito longe de nós.

Ottoni se aproxima de Marinho enquanto observa o mensageiro a galope retornar ao seu destino.

Ottoni:
- Marinho! Não deixe o mensageiro de Feliciano chegar ao seu destino.

Marinho:
- Não estou entendendo, Ottoni...

Ottoni:
- Manda prender, agora mesmo, o mensageiro, enquanto eu falo com o Presidente.

Marinho afasta-se do grupo. Ottoni se aproxima de José Feliciano.

Ottoni:
- Presidente, nós estamos iludindo os nossos homens! Quando o senhor ordena que a marcha se interrompa, transgride a lógica e o bom senso que nos diz que devemos assaltar Ouro Preto...

José Feliciano:
- Senhor Deputado Teófilo Ottoni, as informações que acabo de receber são que o Barão de Caxias segue em direção de Ouro Preto. Tenho que, antes de executar o ataque, obter novas informações sobre a capital.

Ottoni:
- Eu então vou, pessoalmente, verificar a situação na cidade de Ouro Preto

Ottoni afasta-se de Feliciano e aproxima-se do Cônego Marinho. Ambos, depois de conversarem, saem a galope. Seguem as trilhas nas montanhas em direção à Ouro Preto.

Ottoni, voz em off:
- Eu estava vinculado aos anseios dos mais experientes combatentes do exército revolucionário, insistindo, feito um louco, na necessidade do ataque imediato a capital da Província. Tudo inútil. No ânimo do Presidente a decisão de depor as armas estava assentada, restava apenas esperar a melhor oportunidade.

Seqüência 36 - Palácio do Governo - Ouro Preto - Interior - Dia

A Corte Provincial está em alvoroço.
O Presidente legalista, Bernardo Jacinto da Veiga, está reunido com seus principais assessores.

Assessor 1:
- Presidente! Obtivemos informações que o deputado Teófilo Ottoni, o Capitão da Casaca Branca, está nas cercanias de Ouro Preto...

Pânico na sala do despacho.

Bernardo da Veiga:
- Senhores, nada de pânico, a nossa situação, embora pareça grave, está sob controle. O Barão de Caxias, que vocês todos conhecem, está vindo em nosso socorro e saberá dar aos Chimangos, principalmente ao seu líder, o Capitão da Casaca Branca, a resposta que um traidor merece.

Seqüência 37 - Ouro Preto - Ext./Int. - Dia/ Entardecer/ Noite

Ottoni e o Cônego Marinho chegam às cercanias da cidade, passando pelo pico do Itacolomy,
Do alto, sob a sombra do megalítico, observam a capital das Minas Gerais.
Marinho e Ottoni entram na cidade.
Igrejas de Ouro Preto
A igreja principal está em festa, toda iluminada com algumas centenas de velas.
Ottoni penetra no meio dos fieis.
Lá estão reunidos todos os membros da sociedade local.
Rezam para que Caxias afaste logo os Chimangos da cidade, de suas famílias, de suas terras e de seus tesouros.
O Pároco acabara de rezar a missa e voltava para sacristia.
O coro da igreja entoa cânticos.
O cônego Marinho penetra na igreja pelos fundos e na sacristia, sob a mira de uma arma, amarra o Padre, que o reconhece:

O Padre:
- Cônego Marinho, é você?...

São suas ultimas palavras, antes do lenço vermelho fechar a sua boca.
Ottoni, camuflado como um camponês anda pela igreja e observa as conversas em sua volta.
Na hora do sermão o cônego Marinho, que rezava a missa, sobe no púlpito sob o olhar assustado de Ottoni.
O Cônego dirigindo-se aos fieis, que lotam a pequena e rica igreja, inicia o seu sermão:

Marinho:
- Meus caríssimos irmãos: é uma injustiça reconhecer nas revoluções políticas dos povos a influência exclusiva das paixões e dos crimes individuais. Há um sentimento de felicidade que levanta o seu grito no seio dessa gente. Por o abuso mais escandaloso, roubou-se à nação este florão da sua glória. Por mais iníqua de todas as injustiças o homem aparece no seio do universo como uma besta feroz, dilacerando os seus semelhantes, quebrando os monumentos, destruindo na sua raiva os troféus consagrados pelas artes, e levantando sobre as ruínas como um gênio da morte.
Não é difícil de reconhecer a nobre expressão de vingança com que os povos, cansados de suportar seu aviltamento, fazem em pedaços esses tronos, esses cetros, essas machadinhas, essas cadeiras de marfim, que, manchando-se no sangue dos povos que os haviam criado para sua felicidade, geram um título de opressão e um monumento de opróbrio, de escravidão e de vingança...

As pessoas, assustadas com o sermão, começam a sair da igreja. Ottoni fica para ouvir o final do belo sermão do Cônego Marinho, que continua, agora mais calmo.

Marinho continua:
... Um sábio me disse que as revoluções dos povos eram causadas por a perfídia, os ultrajes, as violências e injustiças que seus governantes lhe faziam sofrer. Ele tinha visto as cadeiras dos orgulhosos da terra engolidas no meio desses terremotos políticos, que seus excessos tinham provocado. São nessas barreiras formidáveis que se despedaçam todos esses opressores que fundam a sua grandeza e a sua glória nas lágrimas e na miséria do nosso povo.

A confusão é total, os fieis na sua maioria conservadores, ficam parados na porta da igreja comentando o acontecido.
O padre, ainda amarrado, com o lenço vermelho no pescoço, sai se arrastando com dificuldade, gritando, pela porta entalhada do mestre Aleijadinho.

O Padre:
- Socorro! Prenda o traidor, o rebelde, o excomungado Cônego Marinho...

Nesse mesmo momento passam a galope, saindo do fundo da igreja, Ottoni e o Cônego Marinho.
Ouvem-se alguns tiros e muita correria dos fieis.
Ottoni vê, no meio das pessoas que correm um homem, uma pessoa conhecida, olhando para ele.


Seqüência 38 -Palácio do Governo em Ouro Preto. Int/Noite

Entra na sala do Presidente da Província o mensageiro, o que esteve com José Feliciano e que foi visto na Rua por Ottoni.
Um traidor da revolução.
O Presidente está irritadíssimo.

O Mensageiro:
- Passei agora por Ottoni e o padre Marinho, andando livre pelas ruas, eles vieram espionar Ouro Preto a mando do José Feliciano. Os dois deviriam ser presos. Onde está a sua polícia Presidente Bernardo?

O Presidente Bernardo da Veiga:
- O Cônego Marinho ainda teve o tempo e a audácia de fazer uma pregação revolucionária dentro da minha igreja. Todos os meus amigos, meus oficiais, jornalistas, a corte da província, todos estavam presentes e ninguém fez nada?

O Mensageiro:
- Ottoni é o pregador dos rebeldes. Marinho é seu fiel escudeiro. José Feliciano e os revoltosos de Queluz só não depuseram suas armas por insistência deste senhor, que passa a maior parte do seu tempo exortando a ingênua massa de camponeses, negociantes, fazendeiros, políticos, para um ataque maciço à Ouro Preto e, pelo jeito, vai acabar conseguindo.

O Presidente Bernardo:
- O Governo legal, exercido com a força e o respeito da Província, está ainda de pé, e a capital bem guarnecida pelos numerosos e bravos soldados que a defendem. Que venham os Chimangos! Que venham os traidores! Mesmo sem a tão esperada presença do Barão de Caxias, saberemos defender a legalidade e a capital dos intrusos.


Seqüência 39 - A Longa Marcha - Exterior - Amanhecer

Ottoni e Marinho encontram-se com os rebeldes acampados na estrada.
Ao passar por eles vai respondendo as saudações.

O Primeiro:
- Salve! Comandante da Casaca Branca... Os dias andam monótonos aqui. Temos pensado que nunca atacaremos Ouro Preto...

O Segundo:
- Se for assim, porque não negociamos logo a anistia com o Barão?

O Terceiro:
- Comandante Ottoni, nós estamos a dias esperando o Batalhão de Santa Bárbara. Não devemos esperá-lo mais. Comandante, a revolução morreu se não atacarmos imediatamente Ouro Preto.

Um Oficial, se aproximando de Ottoni:
- Deputado Teófilo Ottoni! Recebemos ordem do presidente José Feliciano para marcharmos em direção de Sabará.

Todos os rebeldes:
- Sabará, não! Não! Não! Vamos atacar Ouro Preto! Vamos para Ouro Preto! À Ouro Preto! ... (bis)

Ottoni, notando o desatino se apoderar da tropa, montado na besta agitada, tenta levantar a moral dos revolucionários.

Ottoni:
- Revolucionários de Minas! Escutem-me! Por favor! Se nos vamos rumar para Sabará é que o Presidente José Feliciano tem a intenção de conduzir o assalto por este lado.

Repete a frase até se encontrar com Cônego Marinho.

Ottoni, para Marinho:
- Que ordens são essas?...

Marinho:
- Vamos derrubá-la!

Ottoni, vendo o bravo Galvão se aproximar:
- Bravo Galvão, não podemos suspender o ataque a Ouro Preto, estivemos lá, a cidade está desguarnecida, temos de invadi-la antes que o Barão de Caxias se aproxime.

Galvão:
- Não me sinto seguro com os homens que tenho. Está suspenso o assalto até termos notícias da Coluna de Santa Bárbara.

Ottoni:
- Galvão, os revolucionários já estão descrentes e se assim continuarem acabaremos sós e sem nenhum exército.

Aproxima-se José Feliciano e logo em seguida outro mensageiro com uma folha de Jornal na mão.

Mensageiro:
- Presidente! Trago um jornal e algumas cartas de Barbacena para o senhor.

José Feliciano se afasta para ler as correspondências, depois se volta à tropa e diz:

Feliciano:
- Senhores têm aqui notícias que mudam o rumo dos acontecimentos: Aqui, no Jornal do Comércio, a manchete é da total pacificação de São Paulo pelo Barão de Caxias. Nestas cartas dos amigos e partidários da nossa causa em Barbacena, vem, além da oferecida anistia, a informação de que o Barão de Caxias não nos atacaria sem primeiro ter uma conferência comigo.

Marinho, para Ottoni:
- Sinto que todos os ânimos estão dispostos à capitulação. O Barão de Caxias chegou à Barbacena e o nosso tempo está expirando-se.

Ottoni, pela primeira vez mostra também certo desânimo.
Outro mensageiro chega a galope gritando:

Mensageiro:
- Ai vem à coluna de Santa Bárbara!

Galvão se aproxima de José Feliciano.

Galvão:
- Presidente, o senhor precisa tomar agora uma decisão final...

Feliciano:
- Galvão, se engana todo aquele que supuser uma centelha de generosidade no partido dominante.

Virando-se para a tropa diz aos gritos.

Feliciano:
- Não vamos aceitar a proposta que recebemos de nos apresentarmos ao General Barão de Caxias, não negociaremos sob pressão. Lutamos e perdemos valorosas vidas para exigir o respeito à constituição. Não vamos recuar, mas também não vamos atacar, manteremos a nossa posição de negociar...

Aproxima-se do grupo os comandantes da coluna de Santa Bárbara.

Galvão, falando para todos:
- Senhores, mesmo com a respeitável, a admirável e tão esperada chegada da coluna de Santa Bárbara, aqui presente, eu permaneço irresoluto quanto a impossibilidade de um assalto à Ouro Preto, pois São Paulo já foi pacificada...

O comandante da coluna, Manoel Tomás, aproxima-se mais do grupo.

Manoel:
- Não concordo com o bravo herói da nossa Independência. Acho que devemos invadir Ouro Preto, pois só assim teremos alguma vantagem contra o exército do Barão.

Galvão:
- Neste caso eu abandono a luta.

José Feliciano:
- Se o comandante do meu exército abandonar a luta, eu também o farei e passo à Ottoni o comando geral

Ottoni:
- Peço ao Presidente que me conceda uma hora...

Retira-se, acompanhado por Marinho.

Marinho:
- Ottoni, assuma o comando e marchemos para Ouro Preto e o Barão pensará duas vezes antes de nos atacar.

Ottoni:
- Receio que aceitando esta honrosa oferta desgoste a força de Santa Barbara. Cônego Marinho, se conservarmos este respeitável corpo de tropa valente e aguerrida, e nos concentrarmos juntos, sem conflitos, na comarca do rio das Velhas, poderemos sustentar a revolução.

Ottoni retorna ao grupo de José Feliciano.

Ottoni, para José Feliciano:
- Presidente José Feliciano, muito honrado com a sua oferta eu proponho que adiemos esta deliberação até se encontrar uma ocasião ideal.

José Feliciano, para Galvão
- Galvão! Coloque o exército em marcha em direção ao Rio das Velhas, vamos para Sabará.

Os revolucionários, agora em menor número, estão em marcha pelas montanhas, pelas matas, trilhas, vales, riachos e cachoeiras, as mais belas paisagens de Minas, no sol ou na chuva, caminham diuturnamente até se aproximar da margem do Rio das Velhas.

Ottoni, voz em off:
- O exército revolucionário se desloca morosamente e José Feliciano o faz de propósito, ganhando tempo com isso, na expectativa da conferência insinuada por Caxias. Chega-se enfim, após seis dias de marcha, a encosta da Comarca do Rio das Velhas.


Seqüência 40 - Exército do Barão de Caxias - Agosto de 1842 - Ext/ Dia

O Barão, que está em seu cavalo envolvido pelos seus oficiais e mais um grupo de soldados, recebe um mensageiro.
Volta-se ao seu exército para um pronunciamento.

O Barão: - Soldados leais à sua Majestade Don Pedro II, os revolucionários de Minas evadiram-se da serra da Bocaina em direção à Sabará. Soldados! Está chegando a hora de pacificarmos o Brasil.

Os comandantes põem as suas colunas em marcha.

Seqüência 41 - Sabará a caminho de Santa Luzia - Ext/Dia

Sabará está guarnecida por grande contingente de forças legalistas espalhadas por vários pontos da cidade.
As forças revolucionárias estavam estacionadas, à frente da vila e ao lado do rio das Velhas.
Movimentos de tropas, de um lado e de outro.

( Câmera passeia pelos dois lados do conflito)

Ottoni, voz em off:
- Nesta situação julguei terminada a revolta de Minas, porque esperava a todo o momento a aparição das forças legalistas de Caxias à nossa retaguarda. Foi preciso convencer José Feliciano, mais uma vez, da necessidade de atacar, com um supremo argumento:

Ottoni, ao lado de Feliciano e do Bravo Galvão:
- Presidente nós temos de atacar agora! Quem quer a paz faz a guerra. Ademais é preciso bater as forças de Sabará evitando a sua junção com as do Barão de Caxias. Ou se toma a cidade, Feliciano, ou fica-se entre dois fogos...

Galvão acena com a cabeça para Feliciano, afirmando, com o gesto, a necessidade de se atacar o inimigo.

Feliciano:
- Revolucionários de Minas vamos atacar as tropas legalistas e tomarmos dos portugueses conservadores a cidade de Sabará. Manoel! Avançar pelo sul! Galvão! Pelo centro! Lemos! Pelo norte.

Ottoni:
- Pela Constituição! Por Minas! Pelo Brasil! Avançar!

O comandante Manoel Tomáz da coluna de Santa Bárbara passa apressado. Ottoni e Marinho se aproximam.

Ottoni: - Nós acompanhamos vocês. Não haverá resistência dos conservadores de Sabará.

Rompe o fogo.
Uma tremenda fuzilaria e as forças rebeldes vão invadindo a cidade que demonstra pouca resistência.
O inimigo vai sendo encurralado em frente à Igreja do Carmo.
Alguns tiros ressoam ainda pela vila.
Os líderes legalistas estão encurralados na Igreja.
Mais alguns tiros e eles se rendem entregando as armas e a vila aos revolucionários.

O comandante Manoel Tomaz é quem traz a notícia da vitória a Feliciano.

Manoel:
- Presidente, a vitória é nossa, dispomos agora de armamento regular, que tomamos dos legalistas e podemos continuar a marcha em direção de Ouro Preto, agora com grande chance de virarmos a mesa nas futuras negociações que se fizerem necessárias com o Barão. . .

O Presidente parece não ouvir o Comandante Manoel Tomaz e chama para estar com ele o mensageiro que o acompanha.

Feliciano:
- Vá ao encontro do Barão de Caxias e entregue a ele, somente a ele, esta correspondência.

O Mensageiro:
- Como vou encontrar o Barão Senhor Presidente?

Feliciano:
- Tenho informações que ele está agora ao norte de Santa Luzia.

O mensageiro de Feliciano parte a galope.

Feliciano, montando em seu cavalo:
- Comandante Galvão, reúna os homens que marcharemos para Santa Luzia.

Virando-se para todos seus comandados diz, em voz alta:

Feliciano:
- Revolucionários de Minas! Convoco a todos que marchemos unidos para Santa Luzia ao encontro do General em chefe das forças legalistas o Barão de Caxias.

Os Chimangos comemoram com alvoroço a possibilidade de combater as forças do grande Barão de Caxias que nem pensam mais no ataque a capital Ouro Preto.
Dá-se início, novamente, a longa marcha dos revolucionários.
Chove muito nesse dia.
Os chimangos enfrentam um caminho difícil, cheio de lama e obstáculos naturais, para chegarem a Santa Luzia.
Antes de se avistar Santa Luzia os comandantes Severino e Zeferino, com um grupo de doze homens se aproximam do Presidente José Feliciano.

Severino:
- Nos dá licença Senhor Presidente? Venho juntamente com meus homens, propor ao nosso General que nos deixe fazer uma emboscada à coluna legalista que se aproxima...

Zeferino:
- Faremos descargas certeiras sobre o estado-maior do Barão de Caxias.

Severino:
- Tenho certeza que o Barão não chegará a ver Santa Luzia!

Feliciano:
- Não! Não! De nenhuma maneira as armas revolucionárias serão manchadas com um assassinato. Guardem suas energias para Santa Luzia.

Os rebeldes revolucionários, os Chimangos, marcham contra Santa Luzia.
Não encontram nenhuma resistência, a cidade parece vazia.
Alguns soldados e outros civis podem ser visto fugindo.

Ottoni, voz em off:
- Os conservadores de Santa Luzia, na certa sabendo da proximidade das forças legalistas do Barão de Caxias, não dão combate aos revolucionários de Barbacena, preferindo fugir para engrossar as fileiras do exército imperial.

Os revolucionários, depois de dominarem a cidade, se organizam de acordo com as vantagens do terreno.
José Feliciano e seu estado-maior requisitam uma das melhores casas da praça principal.

Ottoni, voz em off:
- Nos organizamos nos pontos mais estratégicos da cidade; não ouvíamos mais as ponderações do Presidente José Feliciano. No alto da estrada da Lapa assentamos os melhores guerreiros, supúnhamos que por ali, ao contrario do Presidente, viessem às colunas de Caxias... O engraçado era que todos queriam ir para a Lapa medir forças com o Barão.

Seqüência 42 - Palácio do Imperador - Exterior - Dia

O Imperador passeia com seu Ministro Aureliano nos jardins do Palácio.

Don Pedro:
- Aureliano! Tens alguma nova notícia do Barão de Caxias e da pacificação de Minas?

Aureliano:
- Majestade! Sabemos que os mineiros estão resistindo e não admitem discutir rendição.

Don Pedro:
- Foi-lhes oferecido o direito a anistia como eu havia prometido?

Aureliano:
- O Barão de Caxias propôs um encontro com o rebelde José Feliciano e este não aceitou, o deputado Teófilo Ottoni anda exercendo pressão no líder dos rebeldes para que se assalte a capital da Província Ouro Preto. Temos de eliminar esse traidor Majestade!

Don Pedro:
- Não posso admitir que se derrame mais sangue brasileiro, mesmo sendo o de um republicano.


Seqüência 43 -Prisão de Ouro Preto - Interior - Noite

Um carcereiro passa batendo as chaves contra as grades para acordar os presos. Quando chega à cela onde está Ottoni pára.

Carcereiro:
- Ô chimango, acorda!

Ottoni:
- O que foi? Estou acordado.

Carcereiro:
- O seu julgamento já foi marcado. Sua traição está chegando ao fim.

O carcereiro solta um sorriso trágico contido.

Seqüência 44 - Sobrado dos Ottoni - Rio de janeiro - Ext./Noite

Cenas expressionistas de Carlota Ottoni, na varanda com seu filho recém nascido no colo.


Seqüência 45 - Santa Luzia - A Batalha Final - Agosto de 1842 - Ext/Noite


É noite em Santa Luzia.
Ottoni caminha pelas ruas da cidade. Ele está sempre acompanhado pelo Cônego Marinho.
Passam por eles vários revolucionários.
Todos saúdam Ottoni, um deles é mais exaltado.

O Exaltado:
- Capitão! Capitão da Casaca Branca, não dê trégua aos portugueses conservadores!

Aproxima-se deles um grupo de oficiais.

João Ribeiro é quem fala:
- Ottoni, Caxias está se aproximando da Lapa como esperávamos. Todos nós sabemos que o Presidente José Feliciano vai abandonar a luta, exigimos, pois, que você assuma de fato e de direito o comando de todas as forças revolucionárias.

Ottoni: - Assumo, pois, a chefia das operações...

Festa, sorrisos, apertos de mão.

Ottoni continua:
- Com uma condição...

Acabam-se os sorrisos.

Ottoni continua:
- Que tudo se faça após o combate do dia imediato. Não é prudente que, as vésperas de uma batalha decisiva se tomem medida de tamanha repercussão...

Aproxima-se de Severino e de Zeferino.

Ottoni continua:
- Severino e Zeferino, pela madrugada, reúnam seu grupo e rompem fogo de surpresa em pequenos e dissimulados ataques contra o inimigo. O Barão, que estará na certa distraído e cansado, será pego de surpresa!

Ottoni continua seu caminho e encontra agora com Feliciano, que está bastante abatido. Um silêncio profundo passa pela mata fechada.

Feliciano:
- Ottoni, eu sinto que este silêncio é um mau presságio.

Ottoni:
- Não Presidente! É o silêncio da espera, mas também, o silêncio que antecipa o grito de vitória.

Feliciano, para dois soldados que passam:
- Soldados! O que os senhores estão fazendo aqui? Sigam imediatamente para os seus postos! Como podemos ganhar uma revolução com soldados tão indisciplinados? Sem nenhum preparo militar! Como podemos continuar Ottoni?

Ottoni:
- Presidente, estes homens, paisanos e camponeses, na hora certa, tem mostrado no campo de batalha o quanto são corajosos e patriotas...

Feliciano:
- Ottoni, você pode estar enganado, ou enganando-se, o que é pior. É de se lamentar da indisciplina que vai por todo exército, a ponto de abandonarem os soldados os seus postos...

Ottoni:
- Sou testemunha ocular da dedicação, bravura e fidelidade do exército revolucionário de Minas.

Feliciano sobe no seu cavalo e retira-se da cena.

Aproxima-se agora de Ottoni o Comandante João Ribeiro, vem acompanhado por um soldado paisano.

João Ribeiro:
- Presidente Ottoni!

Ottoni:
- Não gosto deste título João Ribeiro, me chame de Capitão, se assim quiser...

João Ribeiro:
- Como queira Presidente. Este trabalhador, este soldado revolucionário, estava de visita à sua família, lá pelas bandas do Tamanduá, quando observou o encontro do estado-maior do exército do Barão de Caxias com um grupo de homens comandados pelo insurgente José Pedro.

O soldado:
- É verdade, Capitão, ficaram lá durante um bom tempo.

Ottoni:
- Obrigado soldado. Pode voltar ao seu posto. Capitão João Ribeiro! Eu não acredito em traição. O Pedro é amigo de Feliciano e por certo gostaria de dar uma lição ao orgulhoso Barão. Não fugirá da luta.

José Ribeiro:
- Não sei Ottoni... No confio mais no Feliciano, nem nos seus aliados.

Do outro lado está José Feliciano montando apreensivo no seu cavalo.
Vindo em disparada no seu cavalo pela trilha que corta a mata o oficial José Pedro. Aproxima-se do Presidente Feliciano.

José Feliciano:
- Capitão José Pedro, foi bom você ter chegado, o Barão foi informado?

José Pedro faz um gesto afirmativo com a cabeça.

José Feliciano:
- Agora tenho de tomar uma decisão difícil e gostaria que chamasse ao meu encontro, o comandante Lemos, o meu filho, o meu sobrinho, o tenente Guilherme, meus amigos que estão na ponta da Lapa. Tenho, para eles, um importante e urgente comunicado. Agora, vá José Pedro e traga-os aqui.

José Pedro afasta-se.
Feliciano fica a falar sozinho.

José Feliciano:
- Desejo, de coração, a vitória de nossos revolucionários, mas não posso mais acompanhá-los.

Ottoni separa-se do Cônego Marinho, sobe na besta Montanha e cavalga lento pela cidade deserta, atocaiada, à espera silenciosa do ataque legalista.

(A Câmera corre solta, livre pela noite, no meio da soldadesca).

Ottoni, voz em off:
- A esta hora da noite, José Feliciano já havia tomado a decisão de abandonar o movimento que havia iniciado. No silêncio da madrugada a longa vacilação do presidente interino chegava ao fim. Acabavam-se suas hesitações, mas a revolução, ferida de surpresa, não morreria com ele...

Seqüência 46 - Mariana -Tribunal do Juri - Interior

Do rosto do Juiz em movimento panorâmico até o rosto de Ottoni.

Ottoni:
- Senhor Juiz, Senhores Jurados, os pormenores da batalha de Santa Luzia, ainda estão envolvidos no mesmo mistério que conserva oculta as causas por que parou ali o carro da revolução e os seus compromissos. O véu se há de rasgar, aparecendo à verdade.

Seqüência 47 - Santa Luzia - Exterior - Noite/Amanhecer

Passam pela Ponte Grande, em marcha lenta, os desertores.
Na frente estão: José Feliciano, o seu filho, O Comandante Lemos, o tenente Guilherme, do batalhão de Santa Bárbara e um pequeno grupo de fieis seguidores.

Ottoni, voz em off:
- A noite amortalha Santa Luzia, que sonha com a grande batalha de amanhã. Essa deserção de José Feliciano era o epílogo de um drama. Ainda que não perdesse a alma, o exército perdia a unidade.

A cidade acorda intranqüila. Ottoni vigilante, procura pelo Cônego Marinho. Mas é João Ribeiro que dele se aproxima assustado.

João Ribeiro:
- Ottoni! José Feliciano, acompanhado do seu filho, do comandante Lemos e do tenente Guilherme, evadiram-se a noite pela Ponte Grande e já ocorrem rumores na tropa destas fugas.

Ottoni:
- A revolução foi ferida, João Ribeiro. A não ocupação de Ouro Preto foi um erro lamentável... Vai-se a indecisão, resta-me a impaciência.

Aproxima-se um grupo de soldados.

Soldado:
- Capitão da Casaca Branca, é verdade que José Feliciano fugiu?

Ottoni:
- Soldado! Dê um tiro no ouvido do primeiro que tal disser, pois não poderá deixar de ser algum traidor, emissário do Barão. Soldados! Não tendo, o Presidente, o costume de assistir aos combates, nem convindo que se exponha, atravessou o rio e ocupou aquele morro lá.

Ottoni aponta para o morro.
Todos ficam satisfeitos com a explicação do Comandante da Casaca Branca e a notícia corre, boca à boca, dos insurgentes.


Seqüência 48 - Exército de Caxias - Dia

Caxias está reunido com seu alto comando.

Caxias:
- Senhores, eu acabo de receber a informação que a tropa insurgente de Santa Luzia perdeu hoje o seu comandante, o Presidente José Feliciano afastou-se, com um grande número de seguidores, da luta. Meu irmão, o General José Joaquim de Lima, que está chegando com os reforços pedidos, iniciará a batalha pela Lapa, enquanto nós começaremos a encurralar o inimigo pelo Tamanduá.

Seqüência 49 - Santa Luzia, A Última Batalha. Dia/Entardecer/Noite

Ottoni está reunido com seus comandados preparando a ofensiva quando se ouve uma saraivada de tiros e explosões.
Os cavalos ficam assustados, e a besta Montanha precisa ser contida a força por Ottoni.
Neste momento chega galopando em seu cavalo o Capitão Alvarenga.

Manoel:
- Presidentes Ottoni, Severino e Zeferino acabam de romper fogo sobre a coluna de Caxias que estava na Lapa.

Ottoni:
- João Ribeiro, siga para o Tamanduá e lá comunique ao comandante Galvão o afastamento de José Feliciano e contraponha, a qualquer impressão desagradável que a notícia possa produzir na moral da tropa, o fato de que a batalha de Santa Luzia contra o Barão de Caxias já se deu início. Esperamos notícias suas na Lapa.

Na Lapa os tiros e os gritos:
- Viva a revolução! Viva a república!

Ottoni manda suspender os tiros.
O silêncio é total.
Severino e Zeferino aproximam-se.

Zeferino:
- Comandante Ottoni, Cônego Marinho, Manoel e Martins, os soldados legalistas não nos dão combate, parece algum tipo de tática adotada pelas forças avançadas do Barão.

Martins:
- Parece-me que o Barão está nos propondo uma trégua, para algum diálogo...

Cônego Marinho, com sarcasmo:
- Quem sabe, José Feliciano pode ter encontrado Caxias e ter se rendido, quem sabe?

Martins:
- Proponho voltarmos ao quartel general, no arraial...

Na estrada para o Tamanduá, João Ribeiro encontra-se com Galvão.

João Ribeiro:
- Comandante Galvão, eu venho lhe informar, a mando de Ottoni, que se deu a deserção do nosso Presidente José Feliciano.

Galvão:
- João, onde está Joaquim Martins?

João:
- Está com Ottoni na Lapa, atacando o exército do Barão.

Galvão:
- Ottoni finalmente os convenceu de quem quer a paz faz a guerra.

Na Lapa Ottoni depois de pensar um pouco se decide.

Ottoni:
- Senhores, se não há nenhuma hostilidade do lado das forças legalistas, não há o que esperar. Proponho que ataquemos e passemos com o batalhão de Santa Bárbara por cima do Barão de Caxias pela Lapa e com todas as forças unidas, no Tamanduá, marchemos para Ouro Preto.

Marinho:
- Eles, assustados e nestas circunstâncias, pegos de surpresa, serão obrigados a responder o nosso ataque, mas, de qualquer jeito, passaremos, concordo, pois, com o Capitão Ottoni.

Martins:
- Penso que deveríamos esperar alguma notícia de José Feliciano...

Manoel:
- Concordo também com o Presidente Ottoni. Passamos por Caxias e atacamos, com grande chance de vitória, unidos a cidade de Ouros Preto. Presidente, com sua permissão, eu levo suas novas ordens ao comando revolucionários da Lapa.

Manoel sai a galope com seu cavalo.
Joaquim Martins afasta-se do grupo.
Vem se aproximando Galvão e João Ribeiro.

Galvão:
- Presidente Ottoni, eu acabo de ouvi as sua palavras... Venho aqui, depois de informado por João Ribeiro dos fatos, prestar ao deputado, ao jovem líder dos revolucionários de Barbacena, a minha solidariedade, colocando-me ao seu lado para derrotarmos o Barão de Caxias.

Martins, retornando com uma carta na mão:
- Senhores, eu acabo de receber uma carta do meu irmão, oficial das forças legalistas, onde ele promete, em nome do Barão de Caxias, a anistia...

Galvão:
- Martins! Não acreditamos mais nas promessas desse governo. Vamos João Ribeiro, nossas forças estão de prontidão no Tamanduá esperando o seu comando...

Esporeia o cavalo e sai a galope acompanhado por João Ribeiro
Ottoni acompanha com um olhar de admiração os dois cavaleiros revolucionários a caminho da grota do Tamanduá.

Ottoni, voz em off:
- Para se entender o espírito que se apossou do venerável guerreiro, é preciso dizer que a vitória sorria para nós naquela manhã clara de Santa Luzia. A fidelidade era, em Galvão, a própria essência da vida, por isso a deserção dos companheiros vinha feri-lo atrozmente.

Galvão antes de se encontrar com seu exército pára o galope do cavalo e olhando para João Ribeiro desabafa.

Galvão:
- João Ribeiro, meu amigo, o destino não está sendo justo para comigo. Perdi o meu filho na batalha de Queluz, abandonou-me o meu melhor amigo. É neste estado de espírito, no conflito de emoções difíceis, que, mais uma vez, tenho que me por à frente de meus homens. Esta gente, João, confia em mim, acompanha-me no campo de batalha, morre pela revolução, não vou entregá-la ao inimigo.

Galvão e João Ribeiro chegam ao Tamanduá.
Galvão sai novamente a galope gritando para os seus comandados.

Galvão:
- Revolucionários de Minas! Avante! Atacar! Os inimigos estão à nossa espera... Avante! Atacar! Atacar! Atacar!

Ottoni, Marinho e Martins estão no alto de uma colina observando o ataque maciço dos revolucionários da Lapa às colunas do Comandante legalista Joaquim de Lima e Silva. Um mensageiro se aproxima de Ottoni.

Mensageiro:
- Comandante! O Capitão Galvão acaba de romper fogo contra os legalistas, no Tamanduá...

Ottoni observa a leste o ataque de Galvão as tropas legalistas comandadas pessoalmente pelo Barão de Caxias.

Ottoni, para seus oficiais:
- Vamos rápido para a Lapa, pois a batalha acaba de começar.

No Tamanduá, os revolucionários combatem corpo a corpo com os legalistas. O tiroteio é cerrado. Ouve-se alguns gritos de dor.
Na boca do bravo Galvão, à frente de seus soldados, só existe uma palavra:

Galvão:
- Avançar! Avançar! Avançar!

Na Lapa as forças revolucionárias conseguem que os legalistas recuem.
Ottoni, entusiasmado fala para Marinho, e para Martins, que lutavam ao seu lado.

Ottoni:
- Marinho! Martins! Desloque o segundo regimento, vamos cercá-los pelos flancos. Marinho, nós nos enganamos, Galvão luta contra o General da Legalidade em pessoa. É chegada a nossa hora! Martins passe as novas ordens a Severino e Zeferino. Eles ficarão encurralados entre dois fogos. Que se flanqueie o Barão de Caxias! Agora! Atacar! Atacar!...

O Capitão Marciano é baleado.
No Tamanduá Galvão, numa virada do destino, em pleno campo de batalha, sofre um desmaio.
Seus homens pensam que ele esteja morto e param de lutar.
O Barão, aproveitando a indecisão dos revolucionários, avança com força total.
Galvão que está deitado acorda e sente-se flanqueado pelo exército legalista.

Galvão:
- Soldados! Estamos sendo flanqueados pelos inimigos, transmita a ordem de retirada. Vamos voltar para o arraial em marcha acelerada.

Na Lapa, Ottoni vendo que em vez de avançar Galvão havia recuado, galopa na besta em direção do arraial de Santa Luzia, onde passa a se desenrolar a luta.
Os revolucionários comandados por Galvão entram em Santa Luzia em completa desordem.
Ottoni que entra pela ponte no vilarejo encontra-se com Galvão.

Ottoni:
- Galvão, sustenta o fogo inimigo por algum tempo que eu vou buscar reforços... Você está sendo atacado pelo Barão, que pensávamos viria pela Lapa... As tropas comandadas por Martins e por Manoel estarão aqui em pouco tempo... Sustenta o fogo!

Dizendo isso, sai em disparada.
Quando Ottoni chega com Martins e Manoel o fogo inimigo havia sido suspenso. Com ele chega um mensageiro a galope.

Mensageiro, para Galvão:
- Comandante! O Barão reuniu o exército, após a vitória, e marcha agora em nossa direção...

Ao sair, volta-se e pergunta para Martins.

Mensageiro:
- Capitão! Nós temos alguma chance de vitória?

Martins:
- Santa Luzia está entregue a sua própria sorte. Só nos resta a retirada.

Ottoni:
- Não concordo com você Martins, ainda temos força o suficiente para darmos combate ao Barão.

O Mensageiro:
- Pois bem meu Capitão. Caxias ao menos há de ainda tomar uma lição e por mim não entrará de mãos lavadas em Santa Luzia.

Ottoni:
- Obrigado soldado! Você acaba de me mostrar que ainda é possível fazermos alguma coisa. Qual é seu nome soldado?

O Mensageiro:
- Soldado Guerra, Capitão!

Ottoni:
- Pois bem, soldado, agora Tenente Guerra. Procure pelo Comandante João Ribeiro e diga a ele para avisar ao Comandante Galvão que vamos resistir.

Ottoni separa-se dos revolucionários que recuavam com Joaquim Martins abandonando Santa Luzia e, com um pequeno grupo de homens, passa a avançar em direção do Tamanduá, onde se posicionava o Barão de Caxias.
O tiroteio recomeça.
Da Ponte onde se organiza a retirada ouve-se o reinício da batalha.
O agora Tenente Guerra procura por João Ribeiro.
O comandante Joaquim Martins passa em direção da ponte.
João Ribeiro que está ao lado de Galvão grita em direção de Martins.

João Ribeiro:
- Martins é um traidor! Martins traidor!

O tenente Guerra descobre João Ribeiro e se aproxima dele.
Alguns revolucionários se aproximam de Martins, que se sentindo acuado, volta-se para seus comandados e ordena:

Martins:
- Revolucionários, vamos mostrar a todos, no campo de batalha a nossa lealdade. Atacar ao meu comando.

Martins retorna a Santa Luzia e une-se a Ottoni no contra-ataque ao Barão.

De todos os lados chove sobre Caxias um fogo violentíssimo.
O tenente Guerra sentindo a necessidade de reforços, aproxima-se de outro tenente chamado Resende e ambos seguem a procura de Severino e Zeferino.
Uma bala disparada por um legalista fere a perna do tenente Resende, mesmo assim, ferido, segue o companheiro Tenente Guerra em direção da Lapa.

Ottoni, voz em off:
- A flama ardia de novo. Um ímpeto de heroísmo dominava os restos do exército revolucionário que se batia encarniçadamente, defendendo o terreno, palmo a palmo. Não havia formação militar. Havia sim, magotes de soldados, saídos de todos os batalhões, disputando o último tiro.

O Tenente Guerra, Zeferino e Resende, baleado, chegam à frente de batalha com seus homens.
Galvão, que retorna a luta, perde o seu cavalo que é baleado.
Ottoni está entre os revolucionários atirando, combatendo e espalhando boatos para animar os revoltosos.

Ottoni:
- O Barão de Caxias foi atingido e veio a falecer. Passem esta notícia adiante. Dentro de pouco tempo, soldado, estaremos marchando para Ouro Preto.

Zeferino reaparece liderando um grande grupo de revolucionários e se apresenta a Ottoni.

Zeferino:
- Ottoni, se é para morrer, quero morrer num campo de batalha.

Ottoni:
- Bravo Zeferino! A história colocará você ao lado dos heróis da liberdade. Veja se seus soldados podem flanquear o Barão pela esquerda... Martins! Avance com seus homens pela direita...

O Tenente Guerra cai mortalmente ferido.
Alguns revolucionários correm para ajudá-lo.
Mas nada podem fazer...

Seqüência 50 - Prisão de Ouro Preto- Interior

Ottoni está no banho de sol contando aos amigos os últimos lances da Batalha de Santa Luzia.

Ottoni:
- Morre o tenente Guerra, herói da resistência. Martins avança com seu batalhão, flanqueando Caxias pela direita. Zeferino martela o outro flanco do general legalista. Então, Caxias, em véspera de ser envolvido pelas forças rebeldes, ordena a retirada.

As cenas seguem a narração.

Ottoni em off:
- No relógio são três horas da tarde. A vitória sorri ao sol de Santa Luzia para o resto esfarrapado do exército revolucionário. As quatro horas da tarde. A coluna legalista, comandada por Caxias, caminha apressada em retirada pela estrada de Sabará e quando nos julgávamos senhores absoluto da situação, o imponderável dos acontecimentos revela-se de forma surpreendente, fazendo virar, de modo súbito, incrível, a balança da vitória.


Seqüência 51 - Santa Luzia - Derrota e Prisão - Entardecer- Noite




Em Santa Luzia, Ottoni está reunido com seu alto comando: Martins, Resende, Galvão, João Ribeiro, Zeferino e Manoel, estão na casa do vigário, perto da Igreja da Matriz.

Ottoni:
- Não vejo o Cônego Marinho... João Ribeiro vá procurá-lo... Senhores é preciso verificar as posições do ponto da Lapa. Com apenas 50 homens o tenente Severino não poderá suportar por muito tempo as forças legalistas e se eles fraquejarem, nós estaremos flanqueados entre duas poderosas bocas de fogo. Vamos retornar as nossas posições e que Deus nos proteja...

Na lapa, Severino e os revolucionários embargam o passo do exército imperial comandado pelo irmão de Caxias.
Os tiros saem por todos os lados.
Queimando os últimos cartuchos, Severino retrocede para Santa Luzia, seguido pela coluna legalista que marcha, aceleradamente, pela estrada da Lapa, penetrando no arraial, até as proximidades da Igreja Matriz.
Na casa do vigário, o capitão Resende, ferido, com alguns poucos companheiros, provoca forte resistência aos legalistas.
Caxias, que recebe a informação de que seu irmão atacava Santa Luzia, retrocede com suas tropas e contra-ataca.
Os revolucionários ficam então cercados por dois fogos legalistas.
O pânico toma conta dos insurgentes que se desorganizam em debandada.
Ottoni resiste com alguns homens um pouco abaixo da casa do vigário.
Resende acaba com sua munição e a casa é invadida pelos soldados legalistas sendo preso em seguida.
O Tenente que comanda a coluna legalista e agora avança em direção ao último foco de resistência comandado por Ottoni, é o mesmo que o perseguia quando de sua saída do Rio de Janeiro.
O grupo que está com Ottoni protegendo a casa vai aos poucos batendo em retirada.
Ottoni invade outra casa com seus companheiros que restavam.

Ottoni:
- Senhores, fomos flanqueados, perdemos a batalha, nosso exército revolucionário deve se retirar para Lagoa Santa...

João Ribeiro:
- Ottoni! Vamos acompanhar nossos homens até Lagoa Santa, nos reorganizamos e reiniciamos a revolução, atacando o exército do Barão.

Ottoni:
- Considero aqui finda a revolução. A estrada para Lagoa Santa está franqueada a quem quiser voltar ao convívio de suas famílias, quanto a mim, resolvi aceitar, tranqüilo, os corolários naturais da posição em que me acho.

João Ribeiro :
- Presidente! Acompanharemos todos unidos a sua decisão.

Ottoni:
- Pois então, vamos fechar a casa e esperar para o que der a sorte.


Seqüência 52 - Tribunal do Juri - Interior- Dia

Ottoni olhava para o juiz e para os que estavam ali presente:
- Senhor Juiz, não queríamos e nem pretendíamos uma guerra civil... Perdida a batalha de Santa Luzia, se era certo que podíamos continuar a revolução com chances de sucesso, também era fora de dúvida que só conseguiríamos assolando os campos de Minas e anarquizando a província. Diante de tamanha responsabilidade, honro-me de haver recuado. Julguei que em tais circunstâncias mais ganhava o país se da sentença lavrada pelas baionetas do Senhor Caxias apelássemos para os tribunais. E como só podíamos discutir, estando presos, ficamos em Santa Luzia.

Seqüência 53 - Os Presos de Santa Luzia - Int/Ext/ Noite

No interior da casa estão Ottoni, João Ribeiro e outros revolucionários.

Ottoni:
- Senhor Martins, poderia me informar as horas?

Martins:
- São 8 horas, Capitão...

Dois soldados legalistas chegam a casa fechada e batem na porta.

Um oficial ordena:
- Podem arrombar a porta!

A janela do sobrado é aberta e Martins aparece.

Martins:
- Tenente! A porta vai ser aberta, desceremos imediatamente.

À porta, estão os dois soldados e o tenente.
A porta é aberta.
Aproxima-se o comandante General Nunes de Aguiar.
Ottoni é o primeiro a sair, seguido pelos outros que ali se encontravam.

O General Nunes Aguiar, que os reconhece:
- Senhores, Teófilo Ottoni, João Ribeiro, Joaquim Martins, Manoel Tomáz, considerem-se presos em nome do General Barão de Caxias, comandante em chefe dos exércitos imperiais.

Ottoni:
- General! Ficamos para sermos presos.

Todos são algemados e perfilados.

General N. Aguiar:
- Tenente Magalhães! Confio-lhe a guarda dos presos...

Tenente:
- Soldados! Formar em duas colunas. Senhores presos, aproxime-se em coluna de um. Sargento! Conduza a coluna. Marche!

O sargento, que faz conduzir a coluna dos presos, é um sujeito mal encarado, seu rosto é reconhecido por Ottoni como sendo o mesmo que espionava a sua casa no Rio de Janeiro.
Assim que a coluna se desloca, um dos soldados que segue ao lado de Ottoni chama a sua atenção.

Soldado:
- Senhor! Este sargento aqui veio com intenção de assassiná-lo. Previno-o que se cuide...

Ottoni agradece com gesto de cabeça.
Aproxima-se o Barão de Caxias.
A marcha da coluna é interrompida.

O Barão, montado em seu cavalo:
- Senhores, o Tenente-coronel Magalhães, cujo cavalheirismo suas excelências poderão apreciar no caminho à Ouro Preto, onde serão presos, é quem vai comandar o batalhão de escolta. Podem contar comigo que farei tudo o que estiver ao meu alcance para ajudá-los, exceto soltá-los. Tenente leve-os para casa onde foram encontrados e lá deixe-os presos até amanhã, quando partirão para capital...

O Barão de Caxias retorna nesta noite para o Rio de Janeiro.
Em Santa Luzia inicia-se o saque a cidade desprotegida.


Seqüência 54 - Tribunal do Juri- Interior - Dia

Ottoni andando pela sala do tribunal exaltado.
Algumas cenas das imagens que ele vai descrevendo, aparecem aos olhos espantados dos jurados.

Ottoni:
- Senhores Jurados, aos gritos de Rebeldes! Rebeldes! Fazia-se o saque vergonhoso que desonrou em Santa Luzia o exército legalista. Parece-me que durou em todo o seu horror, da tarde do dia 20, até a manhã do dia 21 de agosto. Eram praticados todos os tipos de violências e escândalos pela soldadesca desenfreada e, da casa onde estávamos presos, lembro-me de aplaudir o oficial que quebrou a sua espada e a bainha espancando os ladrões. Infelizmente as providências eram tardias, faltava aos braços deste e de outros oficiais a força moral do exemplo de todos. Para acobertar o roubo com o nome de despojo, proclamavam “Rebelde” tudo que cobiçavam...


Seqüência 55 - Palácio do Imperador - Interior - Dia

Don Pedro II entra por uma porta e encontra com Paulo Barbosa.

Don Pedro:
- Paulo! Venha sentar-se comigo.

Paulo:
- Vossa Majestade é admirado por sua perseverança.

Don Pedro:
- Sem a qual nada se faz.

Paulo:
- É preciso castigar com veemência os revoltosos de Minas Gerais sem ficar culpado com as sentenças proclamadas em Ouro Preto.

Don Pedro:
- Não gosto de castigar nossos compatriotas. Alguns, quando me viram triste, há tempos, ficaram pesarosos.

Paulo:
- Eu sempre fico muito abatido quando Vossa Majestade entristece...

Don Pedro:
- Julgo que todos os soberanos deverão ser, em algum tempo, melancólicos, porque quase sempre são chamados a meditar.

Paulo:
- Vossa Majestade é magnânima, possui uma grande bondade, mas, às vezes, o castigo é imprescindível e indispensável.

Entra pela porta Aureliano.

Aureliano:
- Majestade! Já chegaram notícias da província de Minas: o Barão de Caxias conseguiu pacificar os rebeldes no arraial de Santa Luzia. Os seus líderes foram presos e caminham para a prisão de Ouro Preto.

Don Pedro:
- Que grande feito! Um acontecimento digno de comemoração. Recebo-o como o meu melhor presente de casamento.


Seqüência 56 - Caminhos de Pedra - Amanhecendo.

O Galo canta três vezes.
Ottoni e seus companheiros são acordados pelas botas de um oficial.

Oficial:
- Acorda deputado dos Chimangos! Lamento não me haver caído à fortuna de prendê-lo, porque o faria de outro modo...

João Ribeiro:
- Ottoni, não dê ouvido a ele. Nós estamos atentos!

Oficial:
- Aos presos não é permitido o uso da palavra. Todos em ordem saiam!...

Na rua, em fila de um, iniciam a marcha para Ouro Preto.
João Ribeiro fica atrás de Ottoni.

João Ribeiro:
- Ottoni, aquele oficial arrogante é o Tenente-coronel Honório Coutinho, o mesmo oficial que no assalto de Queluz abandonara seus soldados, fugindo.

O Tenente-coronel se aproxima perigosamente de Ottoni.

Ottoni:
- Esta é a sorte da guerra; uns fogem de Queluz, outros são derrotados em Santa Luzia...

Um início de confusão. Aproxima-se então o Oficial Halfeld.

Halfeld:
- Senhor Ottoni, a sua posição é muito desagradável, mas eu estou em circunstâncias de lhe fazer serviço.

Ottoni:
- Muito obrigado Senhor Halfeld, mas Vossa Senhoria está enganado, pois minha posição nada tem de desagradável...

A coluna passa agora por um trecho da estrada onde aconteceu um combate entre os legalistas e os revolucionários comandados por Ottoni.
Algumas pessoas estão bastante revoltadas.

Pessoas:
- Morte aos Chimangos! Morte ao deputado da Casaca Branca!

Um velho se aproxima:
- Morte ao deputado Chimango!

O velho apontando para o chão.

O velho:
- Aqui está o sangue dos nossos! Este é teu irmão Pedro de Queluz. Este é teu irmão Antônio de Sabará! Este é teu irmão Manoel de Santa Luzia e este será o seu! Ottoni do Serro..

O velho avança com um facão em direção de Ottoni, mais é contido pelo oficial Tenente- coronel Magalhães.

Pessoas:
- Acabem de vez com os Chimangos!

A coluna passa pela revolta dos portugueses conservadores.
Os presos estão de cabeça baixa.

Os caminhos de Minas são íngremes e de difícil caminhar.

O sargento, que comandava os presos, pára a coluna.

O Sargento:
- Soldados! Nós, vencedores, precisamos entrar triunfalmente neste arraial que se avizinha e que foi conquistado a força por esses Chimangos. Ponha todos a ferro, pois as ruas de Sabará regurgitam à nossa espera.

Nas ruas de Sabará, que há poucos dias foi palco de violenta batalha, apinham-se os espectadores. A maioria está em silêncio.
Os outros, eufóricos conservadores, por serem poucos, ganham no grito.

Vários personagens:
- Fora com os Chimangos!
- Viva os legalistas!
- Viva o Imperador!
- Morte ao Capitão da Casaca Branca!

O Sargento se aproxima de Ottoni.

O Sargento:
- Tire o seu chapéu Ottoni, Capitão da Casaca Branca, e diga: Viva o Imperador! Viva o Barão de Caxias!

Ottoni continua a andar de cabeça baixa.


Seqüência 57 - Estrada Rio - Ouro Preto - Dia

No interior de um coche que segue pela estrada estão o Ministro Bernardo Vasconcelos e dois amigos indo para Ouro Preto.

Bernardo Vasconcellos, sacudindo-se:
- Como os senhores vêem moro longe e minhas moléstias não me permitem que desfrute as delícias do Paço, estou sempre viajando a serviço da coroa, agora Minas, grande, poeirenta e cansativa. O Barão conseguiu, em nome da salvação do estado, dissolver a rebelião que arruinou a província, também é visível o miserável estado que a providência tem se conduzido... E quem diz isso não sou eu, mas o infeliz Feijó - ontem regente malgrado do Império, hoje revolucionário malgrado da república. É preciso que se restaure o respeito a todas as coisas que o merecem. Vinte e um anos de revoluções nos tem posto no hábito de perder o respeito e a veneração as coisas que o merecem. Não gosto de ficar insistindo muito nessa teoria, vocês estão me entendendo?


Seqüência 58 - Nas ruas de Sabará - Exterior - Dia

Os prisioneiros param em frente a praça de Sabará e ficam lá horas sob um sol causticante.
Uma velha senhora traz para Ottoni e os prisioneiros um pouco de água.
O sargento se aproxima montado no seu cavalo e com a bota chuta a cuia com a qual a água era servida.

Sargento:
- Os presos não estão autorizados a beber água, minha senhora.

Senhora:
- Mas eles estão com sede soldado...

Sargento:
- Por mim ficariam sem beber e nem comer até Ouro Preto.

Aparece outro oficial.

Oficial:
- Prisioneiros! Sairemos hoje mesmo para Congonhas.


Seqüência 59 - Tribunal do Juri - Interior - Dia

A gritaria, os protestos, os assovios, os psius, tumultuavam o ambiente e o juiz esmurrava a mesa. Só se fez silêncio quando Ottoni recomeçou a falar.

Juiz:
- Silêncio! Silêncio no tribunal. Assim os senhores me obrigam a esvaziar o recinto... Continua com a palavra o acusado Teófilo Ottoni.

Ottoni:
- Chegamos a ferro ao arraial de Congonhas. Fizemos alto de fronte da Igreja do Bonfim. Ali, na Igreja, seríamos confinados. Enquanto se arranjava a segurança da nova prisão, caímos por terra, sucumbido à fadiga e ao peso dos ferros.

Seqüência 60 - Igreja do Bonfim - Ext/Noite

Ottoni acorda com gritos ao seu redor.
Os soldados, dizendo os maiores impropérios, arrastam os padres revolucionários, que estão presos e algemados, para o interior da Igreja.

Ottoni, voz em off:
- É em si inqualificável a maldade e o desacato de serem arrastados com algemas e correntes para o templo de oração um pároco e dois sacerdotes respeitáveis...

A gritaria dos padres.
Depois de um tempo tudo vira silêncio.
Ottoni acorda assustado.
Na sua frente está um oficial.

Oficial:
- Sou o capitão Bento Leite, não fique assustado, venho lhe fazer um favor.

Ottoni:
- O único favor que lhe desejo merecer é que, se tem de assassinar-me poupe-me o martírio, mandando meter-me logo uma bala na cabeça...

Oficial:
- Não! Deputado, não vim lhe matar. Venho da parte do Barão de Caxias. Sua excelência ficou indignado ao saber do tratamento infame que os senhores foram vítimas. E manda dizer-lhes que nenhuma parte teve em tal brutalidade. O Barão meu deu ordem para acompanhá-los até Ouro Preto, protegendo-os contra a ferocidade de seus condutores. Sargento! Libere os ferros que unem os prisioneiros...

A marcha para Ouro Preto segue pelas montanhas de Minas.
No caminho Ottoni encontra com os prisioneiros vindos do Serro, entre eles o seu pai e o seu irmão.

Ottoni:
- Meu pai!

Sai da fila e beija a sua mão.

Ottoni continua:
- O que fizeram com o senhor? Isto já foi longe demais! Qual foi o motivo de sua prisão?

O irmão, revoltado:
- Pelo crime de estarmos ligados por vínculo tão estreito ao rebelde Ottoni.

Ottoni tenta esboçar uma reação, mas é contido pelo pai.

O Pai:
- Meu filho! É no tempo do infortúnio que se reconhece a verdadeira coragem. Vá meu filho, em busca do seu destino, com a benção do seu pai.

O soldado afasta o Pai do filho e a marcha prossegue.
Uma lágrima desce dos olhos duros de Ottoni.

Ottoni, voz em off:
- Meu Pai e meu irmão presos, minha família perseguida, o que mais o destino tinha me reservado?


Seqüência 61 - Ouro Preto - Palácio do Governo - Interior -Noite

O Presidente da Província, Bernardo Jacinto da Veiga, está no gabinete dos despachos, quando entra pela sala o seu chefe de Polícia.

Chefe da Polícia:
- Presidente Bernardo, chegam hoje à cidade os prisioneiros políticos, os rebeldes, os Chimangos, da frustrada revolução republicana.

Bernardo:
- Estes senhores não são presos políticos. São salteadores, bandidos sanguinários, se dependessem das minhas ordens seriam presos e executados, e sei que estaria fazendo um benefício à sociedade.

Chefe:
- Presidente, nós vamos organizar para eles uma recepção a altura dos seus feitos.

Bernardo:
- Você será o único responsável se o líder desses republicanos for a julgamento.


Seqüência 62 - Tribunal do Juri - Interior - Dia

Ottoni:
- No dia 27 de agosto aqui chegamos. As ruas estavam apinhadas de gente.

As imagens seguem o texto de Ottoni.

Ruas de Ouro Preto.

Ottoni, voz em off:
- Nas janelas, nas varandas entrevê-se o vulto esguio das Marinas e das Eulinas, doces e melancólicas. Uma banda de música rompe triunfal dobrado.

Ottoni caminha, à frente, solitário.
As tantas brandindo, ameaçadoramente a espada, um indivíduo avança para Ottoni.
O Capitão Bento Leite que vem chegando rompe a frente deste indivíduo afastando Ottoni do perigo e ordena, em seguida, que se imponha silêncio à música.

Ottoni, no tribunal, faz uma pausa na sua defesa.
Todos ali, em silêncio, esperam que o orador continue.
Os flashes de imagens acompanham pelos olhos da platéia as cenas descritas por Ottoni.

Ottoni:
- A leva desce a Rua das Cabeças. É como se o tempo houvesse parado. Ressurgem na minha mente as velhas cenas do despotismo português... Felipe dos Santos em 1720, Os inconfidentes em 1789, Bernardo Vasconcelos e o Padre José Bento em 1833, agora era chegada a nossa vez.


Seqüência 63 - Palácio do Governo - Ouro Preto - Interior - Noite

O Presidente da Província Bernardo Jacinto da Veiga afasta-se da janela com raiva e pergunta para o seu chefe de polícia:

Bernardo:
- Senhor chefe de polícia, quem é esse oficial que se interpôs nos nossos planos?

Chefe:
- Não sei Presidente, chegou com os presos e se diz enviado pelo Barão de Caxias para proteção dos Chimangos.

Bernardo:
- O que o Barão pretende protegendo esses republicanos?


Seqüência 64 - Nas Ruas de Ouro Preto - Noite

Dois sujeitos perseguem o homem que havia atacado Ottoni.

O primeiro:
- Olha! Ali está ele.

O sujeito que atacou Ottoni, olha para o lado, vê um vulto a espioná-lo.
Apressa o passo em direção de um beco escuro.
Assim que chega à esquina, perseguido por um dos sujeitos, encontra o outro, que, de surpresa, esperava-o.
O ataque é fatal.
Estocado por várias punhaladas, desfechadas pela frente, por um e pela costa, por outro, agonizando, ainda consegue dar alguns passos antes de cair morto.
Seqüência 65 - Palácio do Imperador- Interior - Noite

Recepção ao Barão de Caxias.

Um Bispo:
- Senhor Barão de Caxias, a respeito dos últimos acontecimentos da Província de Minas, quero dizer ao General que encomendei um “Te Deum” para a missa de Ação de Graça pela sua vitória contra os Chimangos.

O Barão:
- O ofício do Clero, Senhor Bispo, é rezar pelos mortos. Não é congratular-se pelos resultados de uma luta fratricida, que deveria entristecer todos os corações brasileiros.

Paulo:
- Não concordo com o Senhor Barão de Caxias...

Don Pedro II:
- Senhor Bispo, por conselho do nosso amigo, o venerável Barão de Caxias, mandei para a capital da Província o nosso Ministro Bernardo Vasconcelos, para que não se deixe de dar um julgamento justo aos revoltosos de Minas.

Aureliano:
- O homem que em Santa Luzia julgava poder dar leis ao império, está agora entre as grossas paredes da cadeia de Ouro Preto. Este homem, um republicano, tem de ser condenado a pena máxima, para que sirva de exemplo à outros que se aventurarem a contestar as leis do Império.


Seqüência 66 - Rua de Ouro Preto - Próxima da Prisão - Exterior/Noite

Os dois homens que perseguiram e mataram o detrator dos revolucionários se aproximam, pela rua deserta, das grades da cela onde se encontrava preso Ottoni.

O Primeiro:
- Presidente! Presidente Ottoni!

Ottoni chega o rosto na grade.
Ottoni:
- Cônego Marinho? Onde passou todo esse tempo?

Cônego:
- Ottoni! Nós estávamos preocupados com você. Refugiei-me no interior, escrevo agora minhas memórias sobre a nossa revolução, mas não foi esse o motivo que me trouxe aqui. Temos informações que o governador Bernardo Jacinto da Veiga e o seu chefe de polícia preparam uma emboscada para matá-lo.

Ottoni:
- Ninguém vai me matar meu amigo! Mas vamos, diga-me Marinho, o que você faz aqui?

Cônego:
- Ottoni tem um grande número de combatentes que se ofereceram cair de surpresa, durante a noite, sobre a capital. Ottoni, bons revolucionários nos acompanham e já até traçamos um plano: atacaremos por todos os lados, tomaremos de assalto, o quartel, o palácio e a cadeia.

Ottoni:
- Não faça isso Cônego Marinho! Tenho um grande interesse em discutir, no tribunal, a inconstitucionalidade das leis reformistas do império. A batalha agora, Cônego Marinho, tem de ser ganha ao fogo das palavras e não no aço das baionetas. Mas, mesmo assim, obrigado meu amigo.


Seqüência 67 - Estrada de Ouro Preto - Exterior - Dia

Um coche passa em disparada pela estrada de terra fazendo poeira.
No seu interior está Bernardo Vasconcellos mais morto do que vivo, com um lenço cobrindo o rosto suado.
Os outros dois ocupantes passam terríveis mal estar com o pular incessante...
O coche chega à cidade de Ouro Preto e pára em frente do Palácio do Governo.



Seqüência 68 - Palácio do Governo - Sala de Despacho - Int/Noite

Na sala estão Bernardo Jacinto e o Chefe de polícia.

Bernardo:
- O senhor Chefe de Polícia é de uma incompetência espantosa! O Capitão da Casaca Branca perdeu a batalha de Santa Luzia mais por sua causa pode ganhar a guerra.

O Chefe:
- Presidente, a cidade está repleta de simpatizantes dos Chimangos, nosso homem foi assassinado.

Bernardo:
- Nosso homem? Não sei do que você está falando seu desastrado. Agora vai embora... Não quero que te vejam por aqui, estou esperando uma visita.

Entra na sala um ajudante de ordem. Bernardo faz um sinal com a mão para o Chefe sair.

Ajudante:
- Senhor Presidente, está a sua espera o Ministro Bernardo Vasconcellos.

Este vai entrando em sua cadeira de rodas, sem esperar ouvir o seu nome.

Bernardo Jacinto:
- Que surpresa! Bernardo Vasconcellos, Ministro da Corte! É uma honra Ouro Preto receber tão ilustre mineiro.

Bernardo Vasconcellos:
- Presidente Bernardo Jacinto, como o Senhor pode notar pelo estado em que me encontro, não tenho tempo para floreios, pois devo ir, ainda hoje, em direção à Barbacena.

Bernardo Jacinto:
- Ora Ministro! Deixe-me recebê-lo com as honrarias da casa...

Bernardo Vasconcellos:
- Nada disso, Senhor Presidente, venho lhe avisar, em nome de sua Majestade Don Pedro de Orleans e Bragança, que amanhã, sem falta, o General Andréa, que foi nomeado em seu lugar, toma posse como o novo Presidente da Província de Minas Gerais.

Bernardo Jacinto:
- Mas Ministro não está entendendo! O Imperador me deve favores, não vejo os motivos...

Bernardo Vasconcellos:
- Os motivos? As perseguições e maus tratos impostos aos rebeldes e ao julgamento parcial que seriam submetidos, além da situação de tensão que se encontra a província, fizeram com que o Imperador, aplacando opiniões e equilibrando-se na história, me incumbisse de tomar essas providências.

Bernardo Jacinto:
- Mas Ministro, a província está sob o meu controle, e já tínhamos estabelecido, após intermináveis discussões, o critério de serem apenas processadas as cabeças da revolução...

Bernardo Vasconcellos:
- Pois aí está o fato principal: Ottoni é apontado como principal cabeça da revolução. Vítima querida é a pedra de escândalo da oligarquia, por cujo aniquilamento não duvidaria os membros mais proeminentes de sua facção sacrificar.


Seqüência 69 - Tribunal do Juri - Interior - Dia

No tribunal está com a palavra o promotor:

Promotor:
- O Senhor Ottoni nega que o seu jornal “Sentinela do Serro” havia advogado à causa republicana, tentando assim a derrubada da monarquia e não satisfeito sai do campo das idéias, como o senhor gosta de afirmar em seus pronunciamentos, para o campo da revolta armada, da revolução, da batalha?

Ottoni:
- Confesso-me fiel ao lema da “Sentinela do Serro”: são direitos inalienáveis, imprescritíveis e sagrados: a liberdade, a segurança e a resistência à opressão...

Promotor:
- Então, o acusado se desmente, se nega à verdade. Há alguns anos atrás o seu jornal estampava a defesa da causa do governo do povo para si mesmo, ou seja, para o povo e pelo povo. Esta não é uma idéia republicana?

Ottoni:
- Recuso-me a uma explicação. Não há aqui autoridade para que a exijam de mim. Na constituição rasgada pelos conservadores havia lugar para todos.

Ottoni desvia o olhar flamejante do promotor para o público presente.

- Não foi dado até aqui ao despotismo
Algemar o arbítrio, que soberano
Dentro do seu sacrário, mofa e zomba
De satélites vis, de escravas ordens.

Promotor:
- O Senhor Ottoni em vez de fazer versos deveria pedir Misericórdia pelos seus crimes...

Ottoni:
- Misericórdia! Devem pedir esses irmãos degenerados que se tem locupletado com a rapina e engordando com o espólio do órfão e da viúva, que tem oprimido os seus concidadãos, que tem vendido a justiça e cometido toda sorte de iniqüidades. Quanto aos cidadãos que, por efeito de suas convicções, tomaram parte de movimentos políticos revolucionários, de que pedir perdão?

A platéia entra em delírio com as palavras de Ottoni, não deixando o promotor mais falar, bem que ele tenta.

Promotor:
- Não fui eu quem o disse...

Mostra e lê a primeira página do jornal.

Promotor:
- “Presos de Ouro Preto; peçam misericórdia!”...

O Promotor repete, em voz alta, a manchete do jornal várias vezes até sua voz ser confundida com a da platéia que espera ansiosa pelo veredicto do juri.
O Júri se pronuncia.
Ottoni é inocentado.
As pessoas que lotam o tribunal gritam de alegria.
Carlota com o filho no braço sorri e chora ao mesmo tempo.
Ottoni livre caminha para a platéia.
A pena com a qual foi assinada a sentença e dada pelo presidente do Júri a Ottoni.
Ottoni tenta se encontrar com Carlota e fica impossibilitado pela quantidade de pessoas que querem lhe cumprimentar.
Aproxima-se dele o Cônego Marinho.

Cônego Marinho:
- Dou-te os parabéns Ottoni, porque escapas da anistia, justificando assim a revolução perante a opinião pública como sendo uma resistência legal, constitucional e histórica - parabéns meu presidente!
Os dois se abraçam.
O Promotor amassa o jornal e deixa-o cair no chão.
A Câmera enquadra o jornal meio amassado e pisado no chão.
Depois se afasta da manchete do jornal em movimento combinado de carrinho e grua e vai até a rua.
Na rua, repleta de pessoas em festa, a câmera, num movimento ascendente eleva-se ao alto, num plano-seqüência semelhante ao do início do filme, vislumbra-se Ouro Preto e retorna-se ao pico do Itacolomy.
No pico, ao se aproximar da pedra bruta, o megalítico passa a ocupar toda a tela, surge então, na imagem de fundo negro, a titulagem final.

FIM.

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