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terça-feira, 10 de novembro de 2009

O ULTIMO PRESIDENTE

O ÚLTIMO PRESIDENTE

UM FILME DE LONGA METRAGEM

“Nada é mais agonizante do que se ver traído pelos
amigos e companheiros de toda uma vida política”



Roteiro.

Seqüência 1 – Interior // Dia // Argentina / Mercedes / Bar da Estrada
Titulagem / Letreiros sobre a imagem.
Um bar de uma estrada.
Em um filme antigo, preto e branco, com as imagens decompostas pelo tempo, vê-se um homem morto sentado em uma cadeira.
Na mesa, que estava ao seu lado, uma pistola automática com silenciador.
Detalhe da mão de um homem pegando a arma.


Seqüência 2 – Interior // Dia // Argentina /Buenos Aires / Delegacia
Em uma delegacia movimentada na cidade de Buenos Aires, está sentado em sua mesa um delegado federal com a mesma arma na mão.

Delegado:
_ Pida a nuestros amigos de Brasil que verifiquem el numero de esa arma, y, se possible, a quien pertenence.

Entrega a arma e comenta com o detetive que está ao seu lado:

_ Lo mataran porque sabia demasiado, estoy seguro que el crimen envolve un profissional.

Detetive:
- Era uno con ligaciones politicas. Lo mataran porque sabia demasiado...

Delegado:
- Certamiente! Esto sera mas um crimen politico que tera su investigacion arquivada. A quien va interessar abrir esse viejo cajon?

A porta do armário fecha-se no quadro que emoldura a imagem.

Seqüência 3 – Interior // Dia // Brasília / Congresso Nacional
Na escuridão do passado...
Titulagem / Letreiros sobre fundo negro.
“Brasília, 7 de setembro de 1961”.
O som ambiente é de época.
Arquivo de som dos trechos mais significativos dos principais momentos da posse do Presidente no Congresso Nacional.
No início, o discurso do Presidente é o original e foi gravado pelos equipamentos do Congresso.
Em seguida, misturando-se aos sons do passado, ouvimos o discurso do Presidente, aos poucos, tornando-se real, atual, na voz do ator.

Presidente:
- Senhor Presidente do Congresso Nacional, Senhores Congressistas, brasileiros. Assumo a Presidência da República consciente dos graves deveres que me incumbem perante a nação... Subo ao poder ungido pela vontade popular que me elegeu duas vezes vice- presidente da república e que agora em impressionante manifestação de respeito pela legalidade e pela defesa das liberdades públicas uniu-se, através de todas as suas forças, para impedir que a decisão fosse desrespeitada. Considero-me guardião dessa unidade nacional...
Não há razão para ser pessimista diante de um povo que soube impor a sua vontade, vencendo todas as resistências para que não se imaculassem a legalidade democrática. A nossa grande tarefa é a de não desiludir o povo... Dirijo-me aos estudantes que lutaram intrepidamente pela preservação da ordem democrática. Aos trabalhadores do Brasil, que deram impressionante demonstração da sua unidade de modo pacífico e ordeiro numa comovedora solidariedade na manutenção da ordem democrática. Senhores Congressistas, o destino, numa advertência significativa, conduziu-me a Presidência da República na data da independência política do Brasil. Vejo na coincidência um simbolismo que me a de inspirar e orientar na mais alta magistratura da nação. Peço a Deus que me ampare para que eu possa servir a nossa pátria, com todas as forças, com energia e sem temores...

Aos poucos, como luzes que se recompõem da imensidão do nada, concomitantemente ao pronunciamento do Presidente, as imagens vão aparecendo, tornando-se visíveis, assim surgem em destaque alguns rostos dos personagens que serão conhecidos na história. Nas imagens finais eles se misturam a multidão. Rostos comprimidos de pessoas que superlotam o plenário da Câmara dos Deputados.


Seqüência 4 –Interior // Dia // Argentina /Mercedes /Fazenda do Presidente
Letreiros sobre imagem:
“Argentina, Dezembro de 1976”
Uma fazenda de gado.
A brisa suave mexe com o capim verde.
O dia claro de verão está terminando.
Na espaçosa casa da fazenda, algumas luzes são acesas.
O capataz da fazenda, apressado, saiu da casa.
Na varanda, no contra luz dos últimos raios do sol, está sentado o Presidente.
Aproxima-se dele, em silhueta, um homem vestido à maneira dos gaúchos.
Posicionando sua visão para o horizonte está uma mulher de olhar perdido.
Na janela entreaberta pode-se notar, mais em detalhe, aquele rosto de traços finos que conserva uma misteriosa beleza.
Em um movimento delicado suas mãos fecham as cortinas encerrando a cena.


Seqüência 5 – Interior // Noite // Argentina / Mercedes / Fazenda do Presidente
À noite chega escura, sem lua.
As luzes da casa estão apagadas.
Sons noturnos.
Uma luz em um dos quartos é acesa e um cavalo em disparada se aproxima da fazenda.
As outras luzes da casa são acesas.
O Capataz da fazenda desce do cavalo e entra na casa apressado.
Passam poucos segundos e ele sai, monta novamente no seu cavalo e parte a galope.
A casa, agora toda iluminada, está envolvida em um silêncio mortal.


Sequência 6 – Exterior // Dia // Rio de Janeiro.
Letreiro sobre imagem da cidade:
“Rio de Janeiro, setembro de 2001”
O dia está chuvoso.
A cidade maravilhosa.
Suas praias e montanhas ficam mais bonitas quando chove.
Em Copacabana, uma rua é movimentada pelos guarda-chuvas em transe.
Nas vitrines das lojas pode-se ver e ouvir, nas televisões ligadas, cenas do atentado ao World Trade Center em Nova Iorque.

Seqüência 7 – Interior // Dia – Rio de Janeiro/ Apartamento de Luiza
Na sala, a TV colorida está ligada nas últimas notícias sobre os atentados terroristas.
Luiza, uma bela mulher de 37 anos, está no quarto do apartamento arrumando a mala.
Em outro momento ela está com um caderno antigo na mão, onde lê e faz algumas anotações.
Ela prepara-se para uma viagem.
Escolhe algumas roupas no armário.
Guarda seu equipamento profissional de vídeo digital em duas malas.
No apartamento pequeno o telefone e a campainha da porta tocam ao mesmo tempo.
Luiza abre a porta.
Entra no apartamento Guido, um homem elegantemente vestido, com idade de 40 anos, que sem dizer uma palavra começa a abraçá-la e a acariciá-la.
Ela se desvencilha e sorrindo sai para atender ao telefone.
Ele vai até o quarto e retira com cuidado a mala de couro dos equipamentos de vídeo de cima da cama. Deita-se nos travesseiros ainda desarrumados e, entre um e outro assobio carinhoso de passarinho, passa a chamar por Luiza que neste momento ainda está na sala com o telefone no ouvido.
Luiza aparece na porta e olha sorridente para o rapaz.
Os dois se deitam para fazer amor.
Na TV continuam as cenas de terror.

Seqüência 8 – Exterior // Dia // Rio de Janeiro / Aeroporto Internacional
Cenas externas do Aeroporto.


Seqüência 9 – Interior // Dia // Rio de Janeiro / Aeroporto Internacional
Nos corredores ouve-se a primeira chamada do vôo para Buenos Aires.
Nas TVs o rosto do terrorista Ozama Bin Laden.


Seqüência 10 – Exterior // Dia // Rio de Janeiro / Ilha do Governador
Luiza desce do carro dirigido pelo seu amigo Guido, em frente de uma agência dos correios e lá dentro, acompanhada pelo olhar atento de Guido que ficou no carro, despacha um pacote.

Seqüência 11 – Interior // Dia // Rio de Janeiro / Aeroporto Internacional
Nos corredores do Aeroporto ouve-se a última chamada do vôo para a Buenos Aires.


Seqüência 12 –Interior// Dia // Rio de Janeiro / Aeroporto Internacional
Luiza chega atrasada ao aeroporto, nervosa faz o check-in e depois de uma revista detalhada entra correndo na sala de embarque.
Guido está tenso e mal consegue se despedir de Luiza.
O avião decola.


Seqüência 13 – Exterior // Noite // Minas Gerais / Belo Horizonte/Mercado Municipal
Letreiro sobre imagem de arquivo.
“Minas Gerais, Março de 1964”
À noite é fria e chuvosa na cidade.
Na rua em frente do Mercado Municipal o movimento é grande.
Caminhando de um lado ao outro da calçada e observando os carros que passam, circula um grupo de senhoras nervosas.
Todas rezam com o terço na mão.
Há também Marcelo, um jovem deputado, que espera ansioso o carro que se aproxima.
Mas, de repente, gritando como que possuídas pelo demônio, o grupo das beatas se achegam do casal que saía do carro à porta do suntuoso prédio público. Quase não deixam o deputado Marcelo cumprimentar Brizola, o intempestivo e conhecido político gaúcho, que assustado tenta se desvencilhar do ataque feroz das “Filhas de Maria”.
As mulheres enlouquecidas, vestidas de preto, com lenços finos cobrindo a cabeça, gritam para o deputado:

As Mulheres:
- Comunista! Comunista! Comunista!

E tentam agredi-lo com os terços em ferozes chicoteadas.

Brizola:
- Mais o que está acontecendo? Estamos sendo atacado pelas viúvas do bispo de Mariana! Onde está o nosso deputado que é Secretário da Saúde?

Surge então o Secretário afobado e constrangido.

Secretário:
- Estou aqui, deputado, para proteger o prédio público de qualquer vandalismo e...

Brizola não deixa que ele termine a frase, segurando-o pelo paletó, com o tom de voz alterado, diz:

Brizola:
- O que você está dizendo? Venho até aqui convidado pelo nosso partido, o PTB, pelo povo mineiro e vocês me preparam uma cilada como essa, seu patife! Portanto corra e avise logo ao governador Magalhães Pinto sobre o que está acontecendo... (virando-se para os que ali estavam) - O que se trama no covil dos palácios e dos prédios públicos não me amedronta...

Ele então avança subindo as escadarias em direção a entrada do prédio, mas é impedido pelas mulheres beatas que passam a gritar.

As Mulheres:
- O Comunista está armado! Fujam! Fujam! O Comunista está armado! ...

Forma-se uma gritaria e um corre-corre.

Seqüência 14 – Exterior // Dia // Argentina / Buenos Aires / Aeroporto Internacional
Letreiro sobre a imagem do aeroporto argentino.
“Argentina, Setembro de 2001”

O avião chega ao aeroporto da cidade.
Luiza sai do aeroporto e pega um taxi.
Cidade de Buenos Aires sobre o impacto da onda de terror.
O carro chega a um hotel no centro da cidade.

Seqüência 15 – Interior // Dia// Minas Gerais / Belo Horizonte
Letreiros sobre as imagens de filmes de arquivo que mostram o movimento golpista em Belo Horizonte.
Titulagem: “Palácio da Liberdade, março de 1964”
O Governador de Minas e um general conversam, sussurram nos ouvidos, um do outro, enquanto caminham por entre as sombras neoclássicas dos corredores palacianos.
O General está com um papel na mão.

General 1:
- Ao Governador do Estado cumpre o dever de interpretar as aspirações, as angústias, e a atitude da nossa gente. Juntos, dizemos ao País que estamos determinados a preservar a democracia e a tradição cristã; a lutar pela justiça social, contra o desespero; contra o ódio entre irmãos; contra fanatismos, contra a irresponsabilidade. Temos que impedir o caos comunista a que estamos sendo arrastados.

Governador:
- Está bem General, espero que não exista alguma reação...

General 1:
- Reação de quem?

Governador:
- Do povo, General! Dos sindicatos e do próprio exército, General!

General 1:
- A embaixada dos nossos amigos americanos está avisada, não corremos o menor risco de perder esta guerra para os comunistas. Vamos! Assine logo este manifesto, governador.

Seqüência 16 – Interior // Dia // Minas Gerais / Belo Horizonte.
Letreiros sobre imagem: “Belo Horizonte 1964”.
Filmes de arquivo que mostram a cidade de Belo Horizonte na época.
Na redação do Binômio, um pequeno jornal socialista, um General (2), depois de discursar, reclamar e balançar o exemplar do jornal que lhe fazia uma grave denúncia e que estava dobrado na sua mão agressiva, bem perto do rosto do redator, é chamado de “gorila” por um jornalista mais exaltado. O clima fica quente na redação. O general enfurecido é empurrado com força para fora da redação pelo dono do periódico, o jornalista José Maria Rabelo que estava conversavando naquele momento com o Deputado Marcelo.


Seqüência 17 – Exterior // Dia // Minas Gerais / Fazenda Colonial
Casa de luxo de uma Fazenda Mineira.
No solar centenário, construído por escravos, chegam muitos carros para uma luxuosa festa. Saindo de um carro americano de época, um Belair, elegantemente vestido, está o sorridente deputado Marcelo acompanhado de Elizabete, sua linda e jovem esposa.


Seqüência 18 – Interior // Dia // Minas gerais/ Fazenda Colonial
Fazenda centenária, toda decorada com mobiliário de época.
Nesta reunião elegante, onde se comemora o casamento da filha de um grande empresário, com o filho de um rico fazendeiro de tradicional família, se confraternizam algumas das figuras mais importantes da política nacional.
Entre as rodadas de uísques e vinhos, comenta-se a situação do país.
Marcelo acabara de contar o caso do Jornal e do General agredido ao fazendeiro dono da festa, quando um rico coronel da Guarda Nacional, velho latifundiário mineiro, aproxima-se do grupo onde está Marcelo e sua mulher Elizabete:

Coronel:
- Como vai o Senhor e a Senhora? Quero em primeiro lugar cumprimentar os anfitriões pela magnífica recepção! E aproveitando a presença dos maiores fazendeiros de Minas, nesta roda festiva e me desculpando pela franqueza, digo que eu e muitos outros pequenos proprietários estamos preocupados e até aflitos com o que poderá acontecer com as nossas propriedades rurais... Não vamos permitir que nossas fazendas, nosso gado, nossas casas sejam tomadas por esta mal fadada reforma agrária que o presidente Jango quer implantar no país. Já se fala até em invasão pelas ligas camponesas do Julião! Isso nós não podemos tolerar! Mas sei o que o jovem deputado trabalhista, que pertence ao círculo íntimo do Presidente pensa disso? Você, como todos nós, vem de ótima família de fazendeiros pecuaristas...

Anfitrião:
- Coronel Deutério, o deputado está do nosso lado, ele que também é tido como um pensador equilibrado, um moderador responsável, embora simpatizante das doutrinas exóticas, não permitirá que tal absurdo aconteça.

A mulher do Anfitrião:
- Só você, meu jovem deputado, poderá nos dizer o que se passa nos gabinetes do Palácio da Alvorada – Não! Não tenho nada contra nem a favor dos que pensam como o deputado. Sou uma democrata! Mas estamos todos preocupados, ansiosos, com os rumores catastróficos a respeito destas amplas reformas que propõem mudanças significativas na política nacional, incluindo a reforma agrária.

Coronel:
- Foi por isso, minha senhora, que tomei a liberdade de mudar o rumo da alegre prosa dos amigos, pois aqui, nestes grotões, só o senhor deputado, eleito pelo povo mineiro, poderá nos dizer a verdade, dando-nos sua opinião sobre a real situação do país. ...

Marcelo fica sério. Sente-se constrangido e acuado. Aproxima-se do grupo um jovem político de bigode muito bem aparado, o jornalista José Aparecido, que acabara de romper com o governador e chega a roda rompendo o silêncio constrangedor em que todos estavam.

José Aparecido:

- Olhem! Desculpem-me os senhores, não pude deixar de ouvir a conversa do ilustre representante das oligarquias mineiras. Embora todos aqui saibam qual é o meu partido político e que sou da oposição ao governo, digo que o Presidente, lá em Brasília e o deputado aqui presente, são dois trabalhistas, nunca foram comunistas! Gostaria de lembrar ao coronel que não faz muito tempo vivemos este pesadelo democrático com o outro Presidente trabalhista. A irritação dos militares, orientados e envenenados pelo mesmo senhor que hoje governa o Rio de Janeiro, sem consulta ao povo, levou o então presidente a perder o comando, o controle da situação e a meter uma bala no peito.

Coronel:
- O ilustre secretário gosta de ter idéias diferentes da orientação do seu partido, brigou com o seu governador e está enterrado politicamente. Pois agora é também um simpatizante do regime vermelho e assim sendo tenta desvirtuar os meus questionamentos ao deputado Marcelo. Gostaria de lembrar ao jornalista que os erros na sua forma de fazer política não lhe permitem o direito à ressurreição aqui de um ditador...

José Aparecido:
- Sou um homem de formação libertária coronel, não me apego ao poder, não me misturo com os que querem o golpe. Abomino qualquer regime de exceção, não me aboleto e exijo que o senhor me respeite.


O coronel nervoso parte em direção do jornalista. Outro político presente, segura o Coronel pelo braço, sussurra em seu ouvido, acalmando-o com uma frase em tom de deboche.

Político 2:
- Deixa pra lá coronel, o secretário pertence ao grupo político autointitulado de “Bossa Nova”, são lobos vestidos de cordeiros...

O jovem deputado discorda com um sorriso:

Marcelo:
- Embora acredite nas antenas dos fazendeiros e empresários de Minas em sua educação política de tradição legalista, acho um pouco de exagero imaginar que a situação esteja fora do controle do Presidente. O Presidente não vai se matar e esses governadores não vão ter coragem de repetir a cena trágica do passado...

Um senador, entrando na roda, diz:

Senador 1:
- Coragem eles têm! Estão bem protegidos. Ninguém aqui vai negar! Bem, pode estar existindo algum exagero da imprensa. Mas há alguma coisa no ar além dos aviões de carreira!


Seqüência 19 – Interior // Noite // Argentina / Buenos Aires / Hotel
Néon do Hotel.
Luiza está no apartamento do hotel quando batem na porta. Ela levanta-se da cama sonolenta. Abre a porta. Entra no quarto o mensageiro lhe trazendo um pacote que havia chegado à portaria do hotel. Luiza agradece, fecha a porta, coloca o pacote na mesa e voltando a se deitar na cama, atende ao telefone que toca.

Seqüência 20 – Exterior // Noite // Argentina / Buenos Aires
Luiza é vista falando ao telefone pela janela do seu quarto de hotel.

Seqüência 21 – Exterior // Noite // Rio de janeiro / Consulado Americano
Guido, que está no escritório de um grande prédio iluminado, fala com Luiza.
(Edição das duas seqüências)
Os dois falam pelo telefone ao mesmo tempo.
Os dois discutem gesticulando muito com as mãos.

Seqüência 22– Exterior // Dia // Argentina / Buenos Aires
Luiza saiu do hotel com as malas e entra em um carro. Um rapaz entrega-lhe as chaves e vai embora.
Luiza, dirigindo o carro, sai da cidade de Buenos Aires.
Pela auto-estrada pega o caminho que a leva em direção da cidade de Mercedes.
Toda a viagem é feita com um mapa de orientação colocado aberto no banco do carona.Ela pára algumas vezes pelo caminho para usar o telefone da estrada, sendo que em outras vezes usa o celular, sempre com uma misteriosa atitude.

Seqüência 23 - Exterior // Dia // Rio de Janeiro // Consulado Americano
Vários ângulos do prédio da Embaixada Americana.

Seqüência 24 – Interior // Dia // Rio de Janeiro / Consulado Americano
Em uma sala do Consulado, surpreendidos pelo terror em NY, estão dois burocratas agitados, quase em pânico.
Junto deles está Guido, o amigo de Luiza.
O telefone celular toca.
Guido sai para conversar em um canto da sala com mais reserva.

Seqüência 25 – Exterior // Entardecer // Mercedes
Estrada no interior. Luiza dirigindo e falando no celular.
O vidro do carro está fechado e ela distraída. De repente sai para a contramão e quase bate em um ônibus que vinha em sentido contrário.
Assustada, chega a uma pequena cidade.
Entra na pequena vila onde logo se avista o único Hotel existente.
Ela estaciona o carro e entra no pequeno hotel.

Seqüência 26 – Interior // Noite // Argentina / Mercedes / Hotel.
Luiza sobe com as bagagens, e logo que entra no quarto faz uma ligação do seu celular.

Seqüência 27 – Interior // Noite // Argentina / Mercedes / Bar da Estrada
Na mesa de um bar está Camilo. Um senhor alto e forte, trajando um velho terno branco de linho, de barbas grisalhas, está sentado ao lado de um outro homem. O telefone ao seu lado toca. Ele atende.

Camilo:
- Alo! É claro que sei! Sempre pensei diferente de todos os outros que me cercavam... Sim! ... Não será a primeira nem a última vez... Olha, não é atoa que hoje eles vivem me perseguindo. Olha! Veja! Nunca fui contra os ricos, só acho que todos deveriam ser ricos. Nunca fui contra os empresários que pagam bons salários para os milhares de trabalhadores cuidarem dos interesses de seus impérios. Não sou contra a burguesia burra e seus churrascos às domingueiras. Não sou contra o pobre que quer ser pobre. Não sou contra Deus que se quer justo. Não sou contra o diabo porque ele não existe. Não sou contra o nada porque seria perder o universo e talvez a minha identidade... Eu não tenho medo! Não se preocupe, pois eu sei me defender!

Entra no bar o mensageiro do hotel.

Camilo:
- Quando llegou ella? Diga le que la estoy esperando.

Camilo volta a falar com seu amigo enquanto o mensageiro retorna ao hotel.

Seqüência 28 – Interior // Noite // Argentina / Mercedes /Hotel
No hotel Luiza sai do banho e veste-se. Fala ao celular e penteia os cabelos. Arruma a câmara de vídeo na bolsa e sai do quarto. Desce as escadas e vai ao restaurante do hotel. Lá, onde um músico interpreta como um louco no piano um tango de Gardel, com um arranjo moderno, a maneira de Piazzola, é convidada a dançar por um bailarino que, entre um passo e outro, lhe fala segredos no ouvido, como se tudo fizesse parte da dança. Entra em cena a dama de negro, verdadeira acompanhante do bailarino. Luiza se afasta. Neste momento aproxima-se dela o mensageiro do hotel que lhe traz um recado. Depois de ler o recado e tomar uma taça de champanhe, ela vai até onde está o pianista. Afasta a bailarina com um violento empurrão e volta a dançar com o bailarino. A bailarina saca de um punhal e ataca Luiza.
Luiza acorda do pesadelo suada na cama do quarto do hotel.

Seqüência 29 – Exterior // Amanhecer // Argentina / Mercedes /Hotel e Bar de Estrada
Luiza sai do hotel e vai ao encontro de Camilo que está sentado no bar a uns poucos metros à sua frente. Chegando, entra e segue em direção da mesa que fica num avarandado. A pessoa, que estava sentado com Camilo, levanta-se e sai.
Luiza apresenta-se a Camilo. Ele com o rosto fechado, desconfiado, sem lhe estender a mão, permanece sentado.

Luiza:
- Senhor Camilo? Meu nome é Luiza e venho encontrá-lo por recomendação do jornalista Adriano, do Jornal Folha da Manhã... Posso me sentar?

Camilo :
- Mire, que una mujer hermosa como usted tine derecho de sentarse donde quiera...

Luiza:
- Gracias! Estoy aca para hacer um reportagen sobre el possible assassinato del Presidente, y fue informada que usted passo com el sus ultimos momentos...

Camilo:
- Não é bem assim... Nem é este meu nome. Mas Camilo é tão bom quanto qualquer outro nome. Quanto ao Presidente, sim, eu sou a pessoa indicada para lhe contar essa história.

Luiza:
- Puedo entonces preparar mi equipamento de video para enregistramos su depoimento?

Camilo:
- Sim comecemos logo, pois não tenho muito tempo livre. Que, apesar da idade, ainda preciso trabalhar para sobreviver.

Luiza:
- Não vou lhe incomodar muito tempo... O senhor foi pessoa íntima do Presidente?

Camilo:
- Le voy contar lo que passó: hace algunos años, aereos militares brasileños hicieram varias incursiones en el espacio aereo del Uruguai para intimidar, amenazar y quizas para matar el Presidente; eso fue hace años quando el todavia estava en su hacienda y no incomodava a nadie. Yo estava com el en aquel tiempo...

Luiza:
- Sim, com o Presidente?

Filmes de arquivo de aviões de caças tirando rasantes em formação de ataque.
Fusão com as imagens da fazenda.
Camilo continua o seu depoimento sobre as imagens e sons dos aviões.

Camilo: - Despues dejó el exilio uruguayo, en 1974, porque con el autogolpe de Juan María Bordaberry nadie se encontraba seguro en Uruguay. La dictadura brasileña empezaba a apretar a los militares uruguayos para hacer más difícil la situación del presidente, así es que Bordaberry le niega la residencia en Uruguay y en eso el presidente renunció al asilo político...Una de las razones que hicieron a Goulart elegir Argentina como destino fue una invitación de Juan Domingo Perón, hecha cuando el ex mandatario argentino todavía estaba en su exilio en España, antes de su retorno...en Buenos Aires vivio un tempo en el hotel Liberty, e allí tenia siempre mucha gente vinculada a el... despues vino para acá...en diciembre de 1976, 10 meses después del golpe que instauró en Argentina su mas cruenta dictadura militar, yá en el tiempo de los sequestros, lo encontraran muerto por la manãna en su casa. Entonces, las autoridades hablaron de problemas cardiacos.
Camilo olha para Luiza esperando algum comentário.

Luiza:
- Olha, posso ser sincera? Eu acho isso uma loucura! Os aviões de guerra de outro país invadem o espaço aéreo do Uruguai para assustar um civil desarmado e sozinho...


Camilo:
- O Presidente vivo incomodava a muita gente e ainda hoje, depois de morto, incomoda muito mais. Não tenho porque mentir! Mais afinal, qual é o seu interesse pela história do Presidente?

Luiza:
- Estou tentando entender o Brasil de minha infância fazendo este documentário através dos últimos passos do Presidente. Talvez possa com isso explicar o desaparecimento dos meus pais.

Seqüência 30 – Exterior // Dia // Rio de Janeiro / Palácio Laranjeiras
Filmes de arquivo.
Letreiros sobre imagens: “Rio de Janeiro - Palácio das Laranjeiras – 1964”
Imagens atuais do Palácio Laranjeiras.
Em uma das salas do Palácio das Laranjeiras, uma equipe de quatro técnicos monta um estúdio móvel de rádio. Comandando o trabalho está o jovem deputado Marcelo.

Seqüência 31 – Exterior // Dia // Rio de Janeiro /Hotel Serrador
Filmes de arquivo com imagens do Hotel Serrador.
No Hotel no centro da cidade, em um apartamento de onde se observa pela janela a magnífica vista da baía da Guanabara, está Marcelo contemplando a paisagem no fim do dia.

Seqüência 32 – Interior // Dia // Rio de Janeiro/ Hotel Serrador
Marcelo saindo da janela, diz aos outros políticos que se amontoam no apartamento desarrumado:

Marcelo:
- A procissão já está na rua...

Os outros políticos presentes emitem suas opiniões:

Deputado 1:
- Precisamos ir para o Palácio defender o Presidente.

Deputado 2:
- O Deputado Marcelo, como um bom mineiro, já nos representa...

Deputado 3:
- Vocês estão brincando com fogo... Companheiros! Vamos então comprar um aparelho de rádio para que possamos estar sintonizados aos acontecimentos que no meu entender são graves.
-
Deputado 2:
- Um não! Vários aparelhos de rádios! Todos com sintonia de ondas curtas, para que possamos ouvir, simultaneamente, todas as estações deste país.

Deputado 3:
- É preciso criar uma resistência democrática, civil, e também militar, e impedir que se rasgue a constituição brasileira.

Deputado 2:
- E depois, poderíamos jantar consciente do dever cumprido no Night and Day aqui em baixo?

Risos contidos no quarto do Hotel.

Marcelo:
- Não creio que os militares darão o golpe sem antes tentar passar ao governo uma série de reivindicações, de avanços e recuos nas reformas propostas. O Presidente vai aceitá-las e tudo voltará à normalidade. O País precisa do progresso social e não do atraso político, das greves e movimentos golpistas em que se meteu.

Seqüência 33 – Exterior // Dia // Rio de janeiro / Palácio Guanabara
Filmes de arquivo com imagens do Palácio da Guanabara
O locutor, em tom de suspense, no noticiário da estação de rádio do Palácio do Governador do Rio registra os últimos acontecimentos do dia.

Locutor 1 off:
- E atenção senhores ouvintes, vamos as últimas notícias destes 31 de março de 1964: Os Generais do exército sitiado em Minas Gerais, com o apoio e a liderança civil do Governador de Minas e de São Paulo, preparam as suas tropas e iniciam a marcha dos soldados em direção ao Rio de Janeiro para debelar a resistência sitiada no Palácio das Laranjeiras, a última cidadela comunista. O confronto é inevitável...

Pela janela do Palácio aparece o rosto do locutor.

Locutor:
- E atenção! Estamos no telefone com o nosso deputado federal...
Alo! Alo! Deputado! Como o senhor está vendo a situação nacional?...



Seqüência 34 // Interior // Dia // Rio de Janeiro/ Apartamento na Av. Atlântica.

Deputado 4:

- A Revolução está vitoriosa! O Presidente comunista domina por enquanto ainda a cidade do Rio. Mas os mineiros, as tropas do exército revolucionário de Minas, estão em marcha...

Locutor 1off:
- Deputado! E se tudo der errado?

O Deputado 4:
- Eu, que estou em casa, espero ser preso e fuzilado.


Seqüência 35 – Interior // Dia // Rio de Janeiro /Palácio Laranjeiras
O Locutor da rádio que fica no Palácio das Laranjeiras, com um fone no ouvido, acabara de ouvir a rádio do adversário e retruca no ar com um comentário exaltado:

Locutor 2:
- Acabo de ouvir as palavras do deputado mais reacionário e mentiroso da história, que quer por todos os meios, ele e o seu governador golpista, impedir, eliminar, destruir as reformas de base e o governo que tira o país do atoleiro onde esses senhores nadam de braçadas. Não existe nenhum movimento em marcha. Não há nenhuma informação sobre as tropas vindas de Minas Gerais. O exército e os comandantes das forças armadas estão ao lado do Presidente, da constituição e do povo brasileiro.

Filmes de arquivo do movimento na estrada em direção do Rio de Janeiro das tropas mineiras.

Seqüência 36– Interior // Dia // Argentina/ Mercedes / Bar da Estrada
No bar da estrada.
Luiza e Camilo conversam.
Camilo:
- Diga-me, o que o seu pai fazia quando os militares deram o golpe e instituíram a ditadura no seu país. Eu estive algumas vezes na sua terra e sei de muitos casos de desaparecidos... Você veio até Mercedes para procurar o seu pai, por quê? Ele desapareceu na Argentina? Você não está indo longe demais?

Luiza:
- Porque você quer saber do meu pai? Eu estou aqui tentando entender apenas o que aconteceu com meu país, e se o seu último presidente trabalhista foi ou não assassinado. Você sabe! Pura curiosidade de jornalista. Na verdade estou terminando um documentário sobre o Presidente... Acho que, realizando esse documentário, passarei a compreender muitas das coisas que aconteceram na época.

Camilo:
- Você ainda é muito jovem, mas na certa já ouviu falar da “Operação Condor”?
Nunca ouviu falar de uma rede político - policial que caçava e eliminava inimigos políticos das ditaduras latino-americanas? Que, ainda hoje, elimina pessoas que não interessam mais ao sistema. Você sabe! Pessoas que criam constrangimentos aos interesses financeiros de poderosos capitalistas que dominam o mundo.

Luiza:
- Sim! Não sei não... E você acredita que a morte do presidente foi parte dessa operação?

Camilo:
- Creio que sim! E ela ainda está viva, muito viva. Agora chegou o momento da queima de muitos arquivos. Você acha que esta explosão de dois aviões naqueles prédios de Nova Iorque não foi uma grande queima de arquivo... Você já pensou nisso? Há alguns casos que estão sendo investigados, alguns já foram provados e isto deixa muita gente nervosa!

Luiza:
- Então você acha que o Presidente foi assassinado?

Camilo:
- Conhecendo o caso do Presidente, descobre-se toda a Operação...
Quantos morreram antes e quantos ainda vão morrer? A história, a cada dia que passa, é mais nítida. Fica cada vez mais difícil esconder os fatos.

Luiza:
- O importante não é só conhecer os fatos. É necessário expô-los! Não espero colocar ninguém na cadeia, nem no paredon... Mas quero descobrir e mostrar a verdade ao maior número de pessoas que eu possa atingir com esse filme.

Camilo:
- E você pretende achar, aqui comigo, alguma coisa sobre o desaparecimento do seu pai também?

Luiza se assusta.

- Não fique assustada, também tenho os meus informantes? Você não quer a verdade? ... Mas me diga Luiza! Como aqui nesta terra estrangeira você pretende relacionar o destino do seu pai com a morte do presidente? Os dois se conheciam? Você não está brincando com alguma coisa muito pessoal e muito perigosa?

Seqüência 37 – Interior // Dia // Minas Gerais / Belo Horizonte.
Filme de arquivo do empastelamento do Binômio o pequeno jornal socialista de BH.
Redação do Jornal.
O General 2 retorna ao jornal onde havia sido agredido comandando os seus soldados e com destemida violência empastela a redação que já estava vazia.
Gritava e pronunciava obsessivamente os piores nomes procurando pelo dono do periódico que o havia atingido com um murro no rosto, dizendo que ia matá-lo, trucidá-lo, aniquilá-lo juntamente com sua família. Filmes de arquivo da repressão policial militar contra estudantes e populares.

Seqüência 38 – Interior // Dia // Rio de Janeiro / Palácio Laranjeiras / Estúdio de Rádio
O Locutor está no microfone da rádio improvisada.

Locutor 2:
- O Presidente está aqui, neste prédio público, neste Palácio das Laranjeiras, protegido por leais soldados que bravamente repelem a tentativa de golpe. O Presidente sabe que todo o país está ao seu lado e que aqui presente, o povo está sendo representado por seus deputados, senador, lideres sindicais, estudantes, trabalhadores, Ministros e jornalistas, vereadores e prefeitos...
Todo o Brasil está do seu lado Presidente!
Ouçam agora a voz do povo da Bahia, representada pelo seu governador...

A voz vem acompanhada por fortes chiados de gravação:

Voz off:
- Presidente esmague a reação! De as ordens que bem entender, que a Bahia lhe responderá - Presente!


Seqüência 39 – Interior // Dia // Rio de Janeiro / Hotel Serrador
Hotel Serrador.
Vários rádios espalhados no quarto do hotel.

Locutor 2 off (voz no rádio):

- Os revoltosos de Minas não passarão o rio Paraibuna que é caudatário das muitas histórias que honraram o solo mineiro... E atenção ouvintes! Vai falar o grande líder do sindicato dos tecelões no microfone da legalidade para todo o Brasil...

Um deputado ouvia atento o rádio.

Líder (a voz no rádio):

- Vamos parar o país! Estamos com o presidente e as reformas! Eu disse: Vamos parar o país!... Estamos todos aqui ao lado do nosso presidente esperando suas ordens... Presidente de as ordens que paramos o país!

O Deputado escandalizado se afasta do rádio para fazer aos outros companheiros de quarto, o seu comentário sarcástico.

Deputado 2:

- O grande líder dos tecelões? Mas, por todos os diabos, quem é esse sujeito e que merda de sindicato é esse? Se esse sujeito é quem vai parar o país, nós temos urgência de acharmos um muro de uma embaixada e devemos pedir asilo político imediatamente.

O Hotel está lotado de políticos vindos de todo o Brasil.
Por seus corredores transitam e se misturam entre os serviçais e hóspedes, espiões, jornalistas, turistas estrangeiros, marinheiros revoltosos, sargentos e outras pessoas fardadas, líderes estudantis e algumas pessoas elegantes.
No apartamento dos deputados governistas os rádios estão ligados.
Cada rádio é comandado por um deputado.
Todos tentam sintonizar as principais rádios espalhadas pelas capitais dos principais estados em busca de notícias e pronunciamentos políticos que pudessem definir a verdadeira situação em que se encontrava a república.
Com uma taça de champanha na mão o senador (2), um homem velho, que a pouco estava se agarrando com uma mulher no corredor, entra no apartamento e representa entre o cômico e o trágico o personagem do Presidente para o atônito Marcelo.
Os outros não lhe davam atenção.
O Senador 2:
- “Vamos brindar ao imponderável”... Foi também com uma taça de champanha na mão que o nosso presidente nos dava a notícia da sua posse... Mal sabíamos nós que o golpe já estava em marcha. Tenho informações de que se chegou a cogitar numa operação militar para derrubar o avião que trazia o Presidente para o país.
Empossado, o golpe só foi adiado por um pouco mais de tempo e hoje vivemos o primeiro dia do obscurantismo e da prepotência político–militar que estamos condenados.

Marcelo:
- Não seja tão pessimista Senador, tenho certeza que o Presidente tem o apoio das Forças Armadas e nunca se esqueça que o povo e os trabalhadores deste país estão do nosso lado...

Marcelo sai do apartamento, caminha pelos corredores do hotel e antes de entrar no elevador observa a aproximação de dois rapazes fortes vestidos de camisas brancas de mangas curtas e gravatas, e uma identificação de voluntários do programa Aliança para o Progresso presa no peito.
Um moreno e outro louro, os dois com pinta de turistas ou de marinheiros estrangeiros.
Os dois apressados entram com Marcelo no elevador do hotel.
Trocam algumas palavras em inglês e olham muito para Marcelo.
Um sorriso animalesco tinha o rapaz mais forte que respondia pelo nome de Camilo.

(Corte para Camilo envelhecido na Argentina conversando com Luiza)

Camilo:
- O cabo Anselmo, o estopim armado pelos inimigos do Presidente, é um agente da operação tão bem preparado que enganava até os mais íntimos na sua farsa política.

Seqüência 40 – Interior // Dia // Rio de Janeiro /Sindicato dos Metalúrgicos.
Filmes de arquivo da reunião.
Reunião dos Marinheiros.
O Presidente está presente.
Discurso do Cabo Anselmo:

Cabo Anselmo:
- Aceite, Senhor Presidente, a saudação dos marinheiros e fuzileiros navais do Brasil, que são filhos e irmãos dos operários, dos camponeses, dos estudantes, das donas de casa, dos intelectuais e dos oficiais progressistas das nossas Forças Armadas; aceite, Senhor Presidente, a saudação daqueles que juraram defender a Pátria, e a defenderão se preciso for com o próprio sangue dos inimigos do povo.
Quem, neste País, tenta subverter a ordem são os aliados das forças ocultas, que levaram um Presidente ao suicídio, outro à renúncia, e tentaram impedir a posse do atual, impedindo a realização das reformas de base tão necessárias ao país. Eis por que, do alto desta tribuna, afirmamos à Nação que apoiamos a luta do Presidente da República em favor das reformas. Aplaudimos com veemência a Mensagem Presidencial enviada ao Congresso de nossa Pátria. Clamamos aos deputados e senadores que ouçam o clamor do povo, exigindo as reformas e ainda esperamos que o Congresso Nacional não fique alheio aos anseios populares. Iniciamos esta luta sem ilusões. Sabemos que muitos tombarão para que cada camponês tenha direito ao seu pedaço de terra, para que se construam escolas, onde os nossos filhos possam aprender, para que o nosso povo encontre trabalho digno, tendo fim a horda de famintos que morrem dia a dia sem ter onde trabalhar, onde morar e nem o que comer. E, sobretudo, para que a nossa bandeira possa cobrir uma terra livre onde impere a paz, a igualdade e a justiça social.

Seqüência 41 – Exterior //Dia // Rio de Janeiro / Palácio Laranjeiras
Filmes de arquivo do esquema bélico de proteção do Presidente.
Detalhes dos soldados que fazem parte das tropas militares que protegem o Presidente, ocupando a garganta de acesso ao Palácio e o parque interno por um grande aparato bélico.
Uma Mercedes-Benz fura o bloqueio das tropas com um senhor com a cabeça e a mão para fora do carro mostrando sua carteira de senador aos militares.
Ao seu lado, a pé, caminha o jovem deputado Marcelo em direção ao Palácio.

Seqüência 42 – Interior // Dia // Rio de janeiro / Palácio das Laranjeiras
O Senador (3) chega no palácio ao mesmo tempo que o deputado, ambos sobem as escadas que leva à ante-sala do gabinete presidencial.
Marcelo:
- Senador, o partido das oligarquias veio enfim prestar solidariedade aos trabalhistas?
-
Senador 3:
- Não, meu filho! O amigo, não o partido, vem estender a mão ao seu Presidente..

Chegam à ante-sala onde o secretário Eugênio acompanha o senador até o gabinete do Presidente. O secretário retorna e em seguida vai ao encontro de Marcelo.

Eugênio:
- Êta Senadorzinho oportunista! Só veio até aqui para pedir a assinatura do Presidente em processos administrativo de seu interesse... Mas você sabe como é o Presidente, acredita em todos e para todos quer governar...
-
Marcelo então entra no gabinete do Presidente.
No mesmo momento sai o Senador insatisfeito e raivoso.
Lá dentro, ao lado do Presidente, está outra pessoa, outro Senador, o mesmo que estava no hotel Serrador e que insiste em dizer para o presidente.

Senador 2:
- Presidente! Me entregue o Ministério da Justiça para que eu mande justiçar os gorilas sediciosos...

O Presidente sorrir com a bravata do Senador e aproximando-se de Marcelo, que timidamente se apresenta, lhe dá um abraço.


Seqüência 43 – Interior // Dia // Rio de Janeiro/ Palácio das Laranjeiras

Nos transmissores de rádio instalados na sala do Palácio, o locutor lê uma nota dos trabalhadores e muitos que ali estavam se aproximam para ouvi-la. Quando se fala nos microfones da rádio, os que estão ali presentes formam com o locutor uma espécie de programa de auditório para ouvir e participar do noticiário da rádio legalista. O Locutor senta-se na cadeira, pega um papel amassado, faz uma sonoplastia, aproxima-se do microfone e lê a última nota em tom solene:

Locutor 2:
- E atenção! Senhores ouvintes! Vou agora ler a nota escrita pela CGT: - As forças reacionárias, inconformadas com o avanço democrático do nosso povo e com os recentes decretos patrióticos do Presidente da República, articulam-se, pública e notoriamente, visando à sua deposição para anular aquelas conquistas e impor ao nosso povo restrições às liberdades democráticas e sindicais.

No gabinete o Presidente está ouvindo no rádio com seus auxiliares a nota do CGT.


Seqüência 44 – Exterior // Dia // Rio de Janeiro / Ruas e Bares
Cenas de filme de arquivo de ruas e bares da cidade em 1964.
Cenas dos populares ouvindo o rádio.


Seqüência 45 – Interior // Dia // Rio de Janeiro/ Palácio Laranjeiras
No Palácio das Laranjeiras, na sala do rádio, o movimento é grande.

Locutor 2:

- Na impossibilidade de combater, frontalmente, as reformas de base sugeridas na mensagem presidencial, os golpistas procuram explorar os sentimentos religiosos de nosso povo, sob o falso pretexto do anticomunismo.


Seqüência 46 – Exterior // Dia // Arquivos
Cenas de filmes de época da “Marcha com Deus e pela Liberdade” realizada em São Paulo.

Locutor 2 off:
- Os trabalhadores e todas as forças populares responderão, por todos os meios, a qualquer tentativa de golpe que vise a enfraquecer a autoridade do Presidente. Preparados e unidos, os trabalhadores barrarão o golpe e exigirão as reformas de base a partir de uma greve geral.


Seqüência 47– Interior // Dia // Rio de Janeiro/ Palácio das Laranjeiras
A tensão é grande por todos os ambientes do Palácio.
As pessoas se movimentam de um lado ao outro sem saber exatamente o que se deveria fazer. Em alguns momentos a confusão é total.
No gabinete o Presidente está com seu secretário.

Presidente:
- Eugênio, o que vamos fazer com essas centenas de pessoas amigas que passam apressadas pelos corredores, salas e gabinete, sem saber exatamente o que está acontecendo.

Na ante-sala do gabinete está o Almirante, nervoso, acompanhado de Deputado Marcelo.
Almirante:
- Tudo isso deputado, é uma balbúrdia sem sentido, provinda de um governo surrealista, no meio da qual o Presidente, investido de serena e austera dignidade pessoal, vive duas angústias crescentes: o receio de que se derrame o sangue do povo brasileiro em uma guerra civil e, o que é pior, o sentimento inaudito da traição democrática.

O Presidente recebe em seu gabinete a visita do Almirante.

Almirante:
- Senhor Presidente, o comício de 13 de março, resultante da sugestão feita pelo notório líder comunista, alarmou a opinião pública e teve funda repercussão nos meios militares. O Presidente precisa fazer uma opção imediata quanto ao apoio do seu Governo: as Forças Armadas ou os Sindicatos dominados pelos comunistas.


Presidente:
- Almirante, eu não posso tomar decisão sob pressão e contra os que sempre estiveram ao meu lado... Não sou comunista, sou brasileiro, e estes desagradáveis acontecimentos, você tem de compreender, são provocados pelos inimigos das reformas e do governo.

Almirante:
- Abra os olhos, Presidente! Os Inimigos das reformas são os empreiteiros da desordem, que dominam seu partido; são os sindicalistas que a exigem a qualquer preço. São os autores intelectuais da intentona de Brasília e da recente rebelião de marinheiros e fuzileiros navais. Contra o seu governo está a facção sindicalista revolucionária que nos ameaça, através de hierarquias paralelas, visando o enfraquecimento do princípio da autoridade e, mediante greves parciais e sucessivas, pretende chegar à greve geral, equivalente à batalha de aniquilamento, com que conta tomar o poder político de vossas mãos... Abra os olhos, Presidente!

Entra o Chefe da Casa Militar e o Ministro da Justiça.
O Almirante levanta-se e sai do gabinete do Presidente.
O Ministro que chegava, vendo o Almirante saindo, ainda na porta, diz em voz alta para que todos ali presentes pudessem ouvir:

Ministro:
- Presidente não dê ouvido aos inimigos do povo. O Governo está forte, como sempre, porque está ao lado do povo e o povo está com o Governo, como tem demonstrado nas mais diversas oportunidades...

O Ministro não entra no gabinete, segue para o microfone da rádio com passos firmes.
O Almirante ainda tenta parar para discutir com ele, mas é contido por seu auxiliar.
O Ministro pega o microfone do rádio e faz um pronunciamento.

Ministro:
- O Governo pode transigir, sem que isso signifique fraqueza, mas não recua quando está com o povo, porque as reformas propostas pelo Presidente encarnam o próprio desejo do povo brasileiro.

Um dos políticos que estavam em volta do Ministro diz em voz alta.

Político 3:
- É a revolução do rádio!

Político 4:
- Do rádio de pilha! Do radinho de pilha em que os brasileiros nos estão
ouvindo por todos os rincões de nossa terra!


Seqüência 48 – Exterior // Dia – Cenários do Brasil em PB.
O Rosto do povo brasileiro por todo o país.
Alguns soldados e marinheiros em frente aos seus quartéis ouvindo os seus rádios de pilha perto do ouvido. A Voz do Ministro nas ondas dos pequenos receptores transistorizados.

Ministro:
- Toda a Nação lamenta os acontecimentos que envolveram a Marinha de Guerra. O Ministro agiu com sabedoria ao anistiar os marinheiros, porque a hora é de desarmamento dos espíritos, e não de acirrar ódios estéreis em prejuízo da Pátria. Essa é uma página que já foi virada, e a nossa Marinha de Guerra começará agora a escrever outra página do seu glorioso destino...


Seqüência 49 – Interior // Dia // Rio de Janeiro / Palácio das Laranjeiras.
O Ministro da Justiça entra agora no gabinete do Presidente dizendo em tom categórico:

Ministro:
- Foi o que eu disse Presidente! Recuso-me a aceitar como sublevação ou revolta dos marinheiros o episódio no Sindicato dos Metalúrgicos, porque ninguém faz a revolução desarmado...

Eugênio:
- Meu caro Ministro não se exaspere e deixe o Presidente atender ao telefone. O General Comandante do II Exército está na linha e eu tenho a certeza que em pouco tempo tudo estará esclarecido...


Seqüência 50 – Interior// Dia // Argentina / Mercedes / Bar da Estrada
Camilo fica excitado enquanto conta para Luiza a sua história.

Camilo:
- Você sabia que depois do golpe muitas pessoas se mataram; que o Secretário do Presidente, por exemplo, se suicidou na embaixada do México?

Luiza:
- O que sei é que o meu pai desapareceu com a minha mãe e ambos tinham um envolvimento pessoal com o presidente...

Camilo:
- O presidente morreu na cama de sua fazenda. Existem suspeitas de que ele tenha sido assassinado e não sofrido um enfarte...
Mas seu pai, como morreu? Ele esteve com o presidente no exílio?

Luiza:
- Não! Ele não chegou a sair do Brasil, nem ele, nem a minha mãe. Desapareceram no mesmo dia do golpe e antes que o acontecido se consumasse, me deixaram pequena com o meu avô. Ele e minha mãe estavam voltando para casa quando desapareceram... Foi o que meu avô me contou antes de morrer.

Camilo:

- Sinto muito! Mas se eles não estiveram aqui, não vejo sentido nesta sua viagem... Ao realizar um documentário, uma investigação, sobre quem matou o último Presidente, você pode chegar a resultados perigosos e desagradáveis. Você não vai achar seu pai aqui. Diga-me quem lhe encomendou esse trabalho?

Luiza:
- Ninguém me encomendou nada! Não tenho idéia de como ficará depois de terminado, nem sei se vou conseguir vendê-lo. Queria contar a história de um homem digno, vítima de uma série de traições. Não tenho medo da verdade e devo me habituar com a idéia do perigo. Depois de ver as imagens de ontem, dos aviões de passageiros, das torres caindo, me pergunto se alguém ainda acredita poder viver a salvo do perigo? Você vai me contar o que sabe?

Camilo:
- Vou lhe contar sobre o Presidente na sua última viagem, no dia anterior à sua morte, e assim dou por encerrada a minha participação neste documentário. Neste dia ele carregava uma mala cheia de dinheiro americano, dólares, muito dólares. Havia vendido uma enorme quantidade de lã e mais de 500 cabeças de gado... Tinha também uma grande quantidade de ações numa mala de couro...

Luiza:
- E você acha que sua morte tem alguma coisa a ver com o dinheiro? Um ladrão rouba uma fortuna de um ex-presidente latino-americano e depois o envenena? Não é uma explicação difícil de aceitar? Para quem, ou para que era o dinheiro?

Camilo:
- Talvez estivesse sendo vítima de uma extorsão... Talvez pensasse em comprar com ele a segurança. Ou a ilusão de segurança...

Luiza:
- Conte como foi.

Camilo:
- O que você sabe sobre os últimos momentos do Presidente e de seu governo? O que você sabe sobre o desaparecimento de seu pai?


Seqüência 51 – Interior // Noite // Rio de Janeiro / Palácio das Laranjeiras.
Um telefone toca no gabinete da presidência.
O Secretário atende.

Eugênio:
- Deputado Marcelo é para você!

Marcelo atende ao telefone.
Do outro lado da linha está Elizabete, sua esposa.

Elizabete:

- Marcelo, eu estou preocupada com você, as notícias são as piores e não há a menor segurança para os que estão ao lado do Presidente, venha para o hotel, sua filha está assustada e não para de chorar...

Marcelo:

- Elizabete, não posso abandonar o barco, não sou um rato, tenha paciência e me espere que estarei ai com vocês, o mais cedo possível. Fica tranqüila que amanhã estará tudo resolvido e, por favor, não fique ouvindo o rádio, vá dormir.



Seqüência 52– Interior // Noite // Rio de Janeiro/ Palácio das Laranjeiras

No Palácio, Marcelo está olhando para um pedaço do céu estrelado. Refletindo diz antes de voltar ao gabinete do Presidente:

Marcelo:

- O tempo, este pintor de ruínas, prolonga-se noite a dentro...


O Ministro da Justiça está novamente com o microfone da rádio oficial na sua frente e inicia um novo pronunciamento.

O Ministro:

- Na manhã de hoje, parte da guarnição federal rebelou-se, inspirada no manifesto lançado pelo Governador do Estado de Minas contra a ordem constitucional e os poderes constituídos. Diante dessa situação, o Presidente da República recomendou ao Ministro da Guerra, que fossem imediatamente tomadas as providências necessárias para debelar a rebelião. O movimento reacionário, que se filia às mesmas tentativas anteriores de golpe de Estado, sempre repudiadas pelo sentimento democrático do povo e pelo espírito legalista das Forças Armadas, está condenado a igual malogro, esperando o Governo Federal poder comunicar oficialmente, dentro em pouco, o restabelecimento total da ordem no Estado e no país.



Seqüência 53 – Interior // Noite – Rio de Janeiro – Hotel Serrador

Elizabete sentada na cama ouve no rádio o pronunciamento do Ministro.
A sua filha pequena chora.

O Ministro off (no rádio):

- Não pode merecer senão o mais veemente repúdio da Nação a atitude dos que procuram instaurar a desordem e ferir as instituições democráticas, no momento em que o Governo Federal, com apoio do povo e das Forças Armadas, se acha empenhado em encaminhar, pacificamente, através do Congresso Nacional, as reformas e medidas necessárias à recuperação econômica e social do País. A Nação pode permanecer tranqüila. O povo brasileiro está com o Presidente e nada poderá dete-lo...

Seqüência 54 – Exterior // Noite – Rio de Janeiro/ Ruas

Filmes de Arquivos com imagens nas ruas e bares.

Todas as pessoas que neste momento ouviam parados e atentos o pronunciamento do Ministro da Justiça, passam a se movimentar com frenesi nas ruas.



Seqüência 55– Interior // Noite – Rio de Janeiro / Palácio das Laranjeiras e Palácio da Guanabara. ( Imagens filmadas em seqüências anteriores)

As pessoas estão paradas e atentas ao rádio pelas salas e gabinetes dos Palácios das Laranjeiras e da Guanabara.

O Ministro off:

- O Governo Federal manterá intangível a unidade nacional, a ordem constitucional e os princípios democráticos e cristãos em que ele se inspira, pois conta com a fidelidade das Forças Armadas e com o patriotismo do povo.


Seqüência 56 – Interior // Noite – Rio de Janeiro / Palácio da Guanabara.

O ambiente está tenso no gabinete do governador, todos estão ouvindo no rádio o que está dizendo o Ministro inimigo. Os assessores armados andam de um lado para o outro, olhando sempre nas janelas preocupados com o que poderia estar acontecendo no lado de fora. O Governador, como que tomado de uma fúria incontrolável, levanta-se de sua grande mesa de despacho e caminha, armado com uma metralhadora, até uma mesa onde estava calado e atônito o locutor do rádio. Toma então o microfone de sua mão diz:

Governador do Rio:

- Daqui do Palácio Guanabara, do Palácio que é uma cidadela de resistência e uma promessa de cumprimento do dever, volto a lhes falar com emoção de quem ainda vibra pela lição imorredoura de bravura, de lealdade e de fidelidade do povo de Minas, da mulher mineira, do trabalhador de Minas, de todos os mineiros, pela liberdade do Brasil.
A notícia que temos de quase todas as parte do Brasil são animadoras e são às vezes até excelentes. Ao contrário do que estão propalando as emissoras ainda
ocupadas por grupos desesperados de comunistas.
No Rio de Janeiro, a situação está cada hora melhor. Neste momento mesmo, o Ministro da Justiça limita as suas habituais calúnias à escarradeira em que está transformada a Rádio Mayrink Veiga, comprada com o dinheiro da Petrobrás para o deputado, que é parente do Presidente e para os oportunistas que o acompanham. Ali dominam os comunistas. Ali dentro estão homens desesperados, dispostos a tudo...

Interferência no ar...
As luzes se apagam...



Seqüência 57 – Interior // Noite – Rio de Janeiro/ Consulado Americano.


No gabinete do embaixador o rádio está ligado., ouve-se ao fundo a voz do Ministro da Justiça. O embaixador está no seu gabinete com um agente, entra um soldado, entra logo depois um General, em seguida o cubano, o mesmo turista que encontrou-se com o deputado Marcelo no elevador do hotel, só que agora vestido de maneira diferente, camuflado, com características de um espião.

Embaixador :

- Is everything set, Camilo? These documents are for the Secretary of State, and the other officials listed in the diplomatic mail... You can go now, and tell my secretary that I don’t wont to be disturbed.

O Embaixador retorna a sua conversa com um general do exército que já está sentado na cadeira mais confortável daquela sala.

Embaixador (fala português com sotaque):

- General, já tomei todas as providências... o apoio de Washington é total... O senhor está salvando o seu país do perigo e da influência de cuba e da União Soviética. Após a minha volta ao Rio, examinei minuciosamente a situação local e com o auxílio de outras importantes figuras civis e militares daqui...

General 1:

- E quais são as suas conclusões?

Embaixador:

- Minha conclusão, é que o presidente, se acha agora definitivamente envolto numa campanha para conseguir poderes ditatoriais, aceitando para isso a colaboração ativa do Partido Comunista e de outros revolucionários da esquerda radical.

General 1:

- Senhor Embaixador, o movimento que apoia o Presidente, incluindo seus aliados comunistas, representa uma pequena minoria - não mais do que 15% a 20% do povo ou do Congresso!
-
Embaixador:

- Contudo, o Presidente assumiu sistematicamente o controle de muitos pontos estratégicos, destacando-se a Petrobrás, que sob o decreto de 13 de março está agora encampando as cinco refinarias de petróleo particulares que ainda não se achavam sob o seu controle e pelas quais temos os maiores interesses. Já distribuímos aos donos da imprensa nacional as verbas da campanha difamatória...
-
General 1:

- A esquerda tem procurado se infiltrar nas Forças Armadas, isto é verdade, através de organizações de sargentos e suboficiais, tendo alcançado resultados significativos especialmente na Aeronáutica e Marinha.

Embaixador:

- E não é esse o desejo do exército e tenho certeza que o General é um homem sensato...

General 1:

- Vamos imaginar que o Presidente renuncie sob pressão de uma sólida oposição da imprensa, dos militares, da opinião pública, fugindo do País ou liderando um movimento revolucionário "populista" que se instale através do cone sul provocando uma sangrenta guerra.

Embaixador:

- Estamos atentos e preparados para qualquer eventualidade!


General 1:

- Às possibilidades incluem claramente a guerrilha, com alguma divisão dentro das Forças Armadas, agravadas pelo grande número de armas em mãos de civis dos dois lados. Precisaremos dos reforços prometidos, onde estão os navios de guerra Senhor Embaixador?

Embaixador:

- A operação segue no seu tempo certo, Senhor General.



Seqüência 58 – Interior // Noite – Rio de Janeiro / Palácio das Laranjeiras.


Outro General entra no gabinete para um encontro com o presidente.
Na ante-sala estão presentes o Ministro da Justiça, o deputado Marcelo, o secretário Eugênio e um Deputado carioca, com a sua capa preta, mostrando a sua metralhadora.
No Gabinete do Presidente, o General o aconselha falando perto do seu ouvido:

General 3:

- Presidente o senhor deverá sair já deste Palácio! Não temos como garantir aqui, encurralados, sua segurança pessoal. Devemos dirigir e comandar a resistência de um local mais garantido, mais aberto...


Na ante sala todos esperam a saída do General.
Abre-se a porta do gabinete.
Sai cabisbaixo, derrotado o General.
Silêncio.
O deputado carioca se exalta e movimentando-se de um lado ao outro do salão, enlouquecido inicia aos gritos uma reflexão sobre estratégia militar, falando para todos que estavam ali presentes.

Deputado 5:

- Meus amigos não vamos nos dispersar! Não há lugar mais seguro do que esta cidadela! O Palácio é uma verdadeira fortaleza dominando a colina, acessível apenas por um dos flancos e através de uma estreita garganta inexpugnável. Não há lugar mais seguro do que este! O Palácio está protegido por leais soldados, aqui não temos traidores!

O Deputado, saindo da sala e indo para o salão nobre onde estão os outros deputados, senadores, ministros, oficiais do exército, lideres sindicais, estudantes, políticos de todas as espécies e alguns soldados, movimentando-se sem parar, como se estivessem numa praça de guerra, começa a dar as suas ordens.

Deputado 5:

- Sargento, coloque os seus comandados em vigília permanente, espalhe ninhos de metralhadoras nas portas do palácio, ninguém mais entra no parque sem antes passar por uma rigorosa revista. Estamos de prontidão. Se necessário for convocaremos no mínimo 500 mil homens da nossa região, homens destemidos do Estado do Rio e da Baixada Fluminense e lutaremos até a morte contra estes reacionários que querem rasgar a nossa bandeira...

Um outro estrategista improvisado grita lá do fundo:

Político 4:

- Vamos providenciar a mobilização das camionetas do governo para transportar as tropas populares do deputado da capa preta.

Um Líder Sindical, que assistia ao lado do General a encenação militar do deputado, já cansado, tira os sapatos e estica-se em duas poltronas Luís XV do Salão Nobre. Vira-se para o General e diz em tom de brincadeira:

Líder:

- Desculpe-me General, mas é o descanso merecido do guerreiro fatigado. Estamos esperando a ordem do presidente para levantarmos os trabalhadores e pararmos o país.
Ah! General, naqueles quatro dias do Sindicato dos Metalúrgicos, aprendi mais sobre a tática da guerra do que o senhor e todos os seus colegas em todos os anos em que estiveram na Escola Militar.

O General dá um sorriso amarelo e um tapinha amigável no ombro do líder sindical como se concordasse com ele.

O Deputado Marcelo entra no Gabinete do Presidente.

Presidente:

- Deputado, o senhor que é de Minas, me diz porque o Governador mineiro, que sempre se mostrou nosso companheiro, trai de maneira vergonhosa a nossa amizade e a confiança nele depositada por nós.

Marcelo:

- Ele antes de ser governador era um homem de negócios, um banqueiro, ligado aos maiores interesses financeiros de Minas, do país e principalmente do exterior. Presidente! O Brasil é uma terra de banqueiros e Minas é o seu estado maior.

Presidente:

- Estou muito mal cercado... E digo que aqui dentro temos uns oportunistas, alguns espiões e muitos informantes, não é possível conviver com tamanha traição deputado!

O telefone toca...

Presidente:

- Alo! Alo! Sim, é ele, deixa-me falar com o General...

O Presidente tapa o telefone com a mão e diz para o deputado...

Presidente:

- É o II Exército!... Não saia, fique, preciso de uma testemunha...


Seqüência 59 – Exterior // Noite – Argentina / Mercedes

A estrada está bastante movimentada.
Um vento frio sopra do sul. Camilo e Luiza passeiam de carro por Mercedes.
Imagens da Cidade.

Luiza:

- Meu pai tinha pelo Presidente um misto de respeito e admiração. Ele havia, durante a campanha eleitoral, levado o então candidato a vice-presidente à sua cidade natal, em Minas, para um grande comício. No dia seguinte, apresentou a ele um padre, dito milagreiro, que vaticinou, um ano antes do fato, a renúncia do presidente eleito e a sua posse conturbada no meio de uma grande agitação política. O Presidente ficou impressionado e agradecido. Tratava o meu pai com grande carinho e amizade.

Camilo:

- De quem ouviu estas histórias? Quem foi que criou você depois que seus pais desapareceram?

Luiza:

- Fui criada pelo meu avô materno, tinha apenas um ano de vida. Meu avô era um médico rico que gostava de pintar e fazer esculturas de barro, coisas que acontecem nas montanhas de Minas. Odiava a política e o modo civilizado dos homens. Abandonou a cidade e a profissão, vivia solitário nas montanhas.

Camilo:

- E você, aprendeu todas essas histórias com ele?

Luiza:

- Não! Aprendi por conta própria! Não se contam as histórias recentes do país nas escolas. Faz algum tempo, lendo algumas anotações deixadas pelo meu pai descobri que além de político ele era um grande escritor. Tenho como herança dele caixas e caixas de papéis com escritos, poesias, novelas, memórias, um romance inacabado, estudos guardados, documentos, objetos e muitas outras pequenas coisas que nada significam... Ele também era músico. Acho que foi uma pessoa muito sensível...

Camilo:

- Eu tenho que sair, está ficando tarde. Diga, antes de nos despedirmos: O que você pretende fazer agora?

Luiza:

- Preciso saber detalhes, do que aconteceu com o Presidente, você não pode me deixar agora. Preciso um pouco mais de informações para, conhecendo a verdadeira história, escrever o final do meu livro e homenagear o meu pai, finalizar o meu documentário, e talvez terminar o romance que ele estava escrevendo.

Seqüência 60 – Interior // Noite – Rio de Janeiro / Palácio das Laranjeiras

No gabinete, Marcelo continua a ouvir a conversa do Presidente pelo telefone com o General do II Exército.

O Presidente:

- Olha, você sabe mais do que ninguém que eu nunca tive compromissos com os comunistas, mas com a faca no peito, não me parece digno nem honrado qualquer tipo de transigência, nem mesmo a de uma simples promessa. Prefiro cair, a trair os que em mim confiaram. Mas faço um apelo ao amigo... Mesmo sem condições, pelas pressões dos seus oficiais, de manter-se na defesa do governo, fique marombando ai em São Paulo e me dê dois, três dias que acabo com esta quartelada mineira... Não! Não estou preparando um golpe, estou lhe pedindo um prazo! ...
Está bem General, até o senhor, meu amigo, me abandona?


Marcelo apreensivo deixa o gabinete e se aproxima dos microfones da rádio e diz para o locutor que está fazendo uma proclamação:

Marcelo:

- Olha, você precisa dar algumas notícias, algumas informações mais precisas. Onde estão as tropas vindas de Minas? Onde estão as nossas forças que foram ao seu encontro? Alguma coisa real.

Marcelo chega agora na varanda do primeiro andar onde estão alguns deputados, ministros e correligionários do presidente passando à noite nas suas belas cadeiras de vime, numa das alas do corredor, em que se situava o gabinete do Presidente, do qual entravam e saiam, durante toda uma noite nervosa e uma ansiosa madrugada, o Secretário do Presidente, o seu General e o Ministro da Justiça. Marcelo aproxima-se dos três e pergunta ao Ministro que saía do gabinete:

Marcelo:

- Acabei de ouvir o pronunciamento do Governador da Guanabara... Ele está agindo com muita segurança, o senhor não acha?

Ministro:
- Os sediciosos estão liquidados.

Marcelo:

- Por que o senhor não manda então prender o Governador e decreta a intervenção na Guanabara? O Governador, Ministro, é sem dúvida um símbolo da rebelião e o anúncio de sua queda representaria um golpe fatal para os revoltosos...

Ministro:

- Não será preciso. O destino dele já está traçado... Estão esmagados todos...
Vou para o rádio fazer uma proclamação!



Seqüência 61 – Interior // Noite // Argentina / Mercedes

Luiza e Camilo continuam seu passeio pela cidade.

Camilo

- No dia seguinte o ministro da justiça, coitado, já estava preso e depois exilado. Foi vender charutos lá no Peru, acabando os seus dias, fatigado de tantas batalhas perdidas, numa bela praia da Paraíba.

Camilo:

- E os outros coitados que passaram a última noite com o presidente?



Seqüência 62 –Interior// Amanhecendo – Rio de Janeiro / Palácio das Laranjeiras.

Marcelo encontra-se com Eugênio que acabava de sair do gabinete do presidente.

Marcelo:

- Por que o presidente não pede a intervenção na Guanabara?

Eugênio:

- Tentamos isso, por duas ou três vezes, durante a madrugada, mas os generais deram o contra; acham que o governador não fez nada que justifique a medida.

Marcelo:

- Os generais são contra? Então o Presidente já não conta mais com o exército!

Eugênio:

- Você acha?

Marcelo:

- Acho sim e creio que está na hora do Presidente e todos nós voltarmos para Brasília e de lá coordenarmos a resistência do planalto central do país com o General que ainda nos permanece fiel...

Eugênio:

- Concordo com o nobre deputado, mas somos em grande número e vamos precisar de mobilizar a força aérea brasileira para que todos possamos acompanhar o Presidente...

Marcelo:

- Secretário, mas o palácio está sendo invadido, é um entra e sai sem fim, ninguém é revistado, o Presidente corre risco de vida! Nós podemos ficar, mas o presidente tem de partir...

Marcelo deixa o secretário e passa a caminhar pelos salões do palácio. Assusta-se quando encontra com uma pessoa sua conhecida; o turista marinheiro do hotel que estava no outro lado do salão conversando seriamente com o líder sindical que acabava de acordar e já colocava seus sapatos para mais um dia de agitação.
Marcelo, com curiosidade, se aproxima dos dois e antes de dizer alguma coisa é interrompido pelo sindicalista.

Líder:

- Mais um dia deputado... Mais um dia de vitória para a classe trabalhadora!... Deixe-me lhe apresentar um jovem revolucionário cubano que veio nos ajudar na luta dos trabalhadores brasileiros... Como é mesmo o seu nome? ... Camilo! É esse o nome...

Camilo jovem:

- Me gusta mucho la causa del pueblo brasileño, y estoy aca para ayudar la classe obrera a encontrar su destino... com mucho gusto deputado!

Marcelo:

- Já não fomos apresentado? ...

O Cubano olha para ele com desdém.

Camilo:
- Usted me vio en el ascensor del hotel donde estamos hospedados...

Marcelo não se sentiu à vontade com aquele jovem de rosto duro, lhe parecia conhecido. Pensando naquele rosto, distraído sai em direção à varanda onde estão alguns deputados e senadores levantando-se das cadeiras de vime aos primeiros raios de sol.

Saindo apressado do gabinete do Presidente vem o seu secretário Eugênio:

Eugênio:

- Senhores deputados, senadores, meus companheiros, peço por gentileza que deixem a varanda vazia porque o nosso Presidente vai ter uma importante reunião com os altos chefes militares...



Seqüência 63 – Interior // Dia – Rio de Janeiro / Palácio das Laranjeiras.

Todos descem ao andar inferior.
Os três chefes militares chegam ao palácio.
O Ministro da Justiça, com seu entusiasmo retórico, ao ver entrar o General Ancora, comandante do I Exército, não se conteve e exclamou:

Ministro:

- General Ancora, bravo cabo-de-guerra!

Asmático, o General olha para o Ministro com raiva e não lhe cumprimenta, cansado bombeia os seus pulmões antes de subir as escadas.
Marcelo então fala para o Ministro da Justiça:

Marcelo:

- O nosso cabo-de-guerra está com dispnéia!

O Ministro da Justiça imperturbável, ainda saúda o Almirante que estava chegando.

Ministro:

- Velho lobo do mar, a resistência da Marinha de Guerra!

Marcelo:

- Mas Ministro, a resistência da Marinha está curvado sob doloridos anos, caminha penosamente com os passos claudicantes.

Chega o Brigadeiro e com a rapidez de um avião sobe, com passo lépido, a longa escadaria do primeiro andar.
O Ministro manteve-se calado.

Marcelo:

- Depois da dispnéia do exército, da morosidade da marinha, só nos faltam o enfarte da resistência aérea.



Seqüência 64 // Interior // Dia// Rio de Janeiro / Palácio das Laranjeiras

No grande relógio do Palácio, são 9 horas.
Os ponteiros passam apressados as três horas que restam da manhã.
As pessoas acordadas se mantinham paradas no mais absoluto silêncio.

Enquanto isso no gabinete do Presidente...

General 3:

- Infelizmente Presidente não podemos mais garantir a sua integridade física aqui no Palácio das Laranjeiras, muito menos dos seus ministros, senadores, deputados e simpatizantes aqui presentes.

Almirante:
- O senhor deve voar imediatamente para Brasília, lá organizaremos a resistência, mas antes peça para os que aqui estão que voltem para suas casas em ordem e em silêncio.

Brigadeiro:

- Garantimos que o avião estará esperando o senhor Presidente até às duas horas da tarde de hoje no aeroporto do Galeão.

O Presidente pede para que lhe deixe só.
O Presidente é iluminado pelo raio de sol que suavemente penetra no escuro gabinete por entre as frestas de uma grossa cortina, contrabalançando com o azul da luz do sol o amarelo das luzes acesas.



Seqüência 65 – Interior// Amanhecendo// Argentina / Mercedes

Luiza e Camilo ainda passeiam por Mercedes.

Camilo:

- Todos conhecem essa parte da história. O presidente saiu, pegou o avião foi para Brasília e depois para o Uruguai, onde eu o conheci. Evitando assim, o derramamento de sangue dos brasileiros.

Luiza:

- E deixando abandonados seus amigos...

Camilo:

- Não havia outra saída, você viu o que aconteceu no Chile!


Luiza:

- Você falava de uma mala com dinheiro, mas matar um presidente por dinheiro não seria fútil e perigoso?

Camilo:

- Talvez o dinheiro fosse apenas um dos motivos.

Luiza:

- E com quem ficou este dinheiro?
Camilo:

- Os maiores interessados na morte do presidente eram os militares, que tinham medo do seu retorno, os políticos, que ambicionavam o seu poder, e alguns aventureiros, talvez motivados por dinheiro; não tenho dúvida que foi uma morte encomendada, uma morte cara, e executada por um especialista.



Seqüência 66 – Exterior // Dia – Rio de Janeiro / Palácio das Laranjeiras.


O Presidente e seus auxiliares mais íntimos entram nos carros estacionados no pátio e saem do Palácio das Laranjeiras.
Todos, que ali ficaram, estão atônitos, perplexos e sem saber o que acontecera.
Alguns parlamentares e ministros, vendo o Presidente partir, abandonam o palácio, apressados, seguindo o carro do presidente.
Vários carros estão saindo do Palácio e sem maiores dificuldade passam pelo cerco militar.
Marcelo, que a tudo observava, se aproxima do Ministro da Justiça e pergunta:

Marcelo:

- Ministro, para onde foi o presidente?

Ministro:

- Para a Vila Militar, assumir pessoalmente o comando das tropas, que pedem a presença de seu chefe... Vou fazer um pronunciamento no rádio!

O Ministro sai apressado em direção da sala de rádio.

Marcelo fica parado na porta, estático, sem movimento, quando vem passando apressado Eugênio, o secretário do presidente, que pára ao vê-lo.

Marcelo:

- Secretário, para onde foi o presidente?

Eugênio:

- Deputado Marcelo, vá para o hotel e avise aos companheiros que lá estão, que o presidente foi para Brasília e de lá eu telefono para todos vocês. Agora, vá para o hotel, pega a sua mulher e viaje para Minas o mais depressa possível.

Dizendo isso entra em um carro que está a sua espera e parte em disparada.

O exército de prontidão, nada faz.

O tempo passa.

Seqüência 67 – Exterior // Dia – Rio de Janeiro / Palácio das Laranjeiras.

Marcelo sai do Palácio junto com o Ministro da Justiça que apressado pede uma carona.
Enquanto o seu carro sai ele pode observar pelo retrovisor o solitário deputado da capa preta e sua metralhadora.


Seqüência 68 – Exterior // Dia – Rio de Janeiro.

Filmes de arquivo sobre o dia do golpe 64 / Jornais e revistas de época.

Pelas ruas já se pode notar um movimento de soldados e policiais.
Uma tremenda fuzilaria pipocava na praça Floriano, onde um grupo pequeno de soldados é encurralado por uma multidão de estudantes.

Cenas complementares a serem filmadas:

Acontecimentos da repressão armada feita por civis que se diziam revolucionários e anticomunistas pelas ruas dos bairros, vasculhando casas, parando, buscando e prendendo pessoas indiscriminadamente.


Seqüência 69 – Exterior // Entardecer – Rio de Janeiro / Hotel Serrador.

Marcelo estaciona o carro na calçada do hotel e é impedido de entrar pelo porteiro.
Saca do seu revólver prateado, que levava por debaixo do paletó e obriga o porteiro a abrir a porta do hotel.


Seqüência 70 – Interior // Entardecer – Rio de Janeiro / Hotel Serrador.

Ao entrar no hotel é observado pelo turista que se esconde atrás de um jornal.
Marcelo usa o telefone do hotel e enquanto fala em inglês é observado pelo cubano.
No apartamento, onde estão os políticos reunidos, Marcelo é cercado por homens nervosos e castigados pelo medo.

Marcelo:

- Meus amigos, as coisas não estão nada boas, o presidente viajou para Brasília, perdemos a batalha carioca... Acho que todos deveriam ir para casa.

Os deputados em debandada deixam o quarto do hotel.

O Senador, inteiramente bêbado, esperava uma prostituta que acaba de chegar e que ele leva para cama.
O deputado Marcelo passa pela porta do apartamento do Senador.
Ele chama Marcelo para entrar e lá mostra-lhe a mulher na cama.
Marcelo sai do apartamento do senador e entra no apartamento vizinho onde está sua esposa e sua filha dormindo.
Bebe uma doze de uísque e acorda com carinho Elizabete.

Marcelo:

- Elizabete meu amor, vamos acorda! Já é tarde. Precisamos viajar.


Seqüência 71 – Exterior // Entardecer – Rio de janeiro

Arquivos de filme.
Cenas da cidade no dia 1 de abril de 1964.
O incêndio do prédio da UNE e a repressão dos militares contra o povo nas ruas.


Seqüência 72 –Interior// Entardecer // Argentina /Mercedes / Bar de Estrada

Os dois continuam a conversar e a gravar em vídeo esse diálogo.


Camilo:

- Ele foi muitas vezes traído...

Luiza, mais carinhosa com Camilo, pega em sua mão.

Luiza:

- Você está certo, ele foi traído... Mas vamos, me fale mais deste último dia. Mais um pouco e termino o seu depoimento.

Camilo:

- Não antes de entender o que você quer saber? O que o seu pai deixou escrito. O que você sabe do seu último dia?...


Luiza:

- Meu pai saiu do hotel com minha mãe, pegaram o carro e seguiram viagem para Minas...me deixaram só com meu avô, eu já disse... Mais, eu não sei! É para saber o que realmente aconteceu é que eu também estou aqui.

Camilo:

- Mas porque aqui? Como você me encontrou?

Luiza:

- Pesquisando para meu documentário eu cheguei a você.



Camilo dá um sorriso.

Luiza:

- Conheci um amigo do meu pai que me disse o quanto você poderia me ajudar a desvendar esse mistério. A partir dele, cheguei a você.

Camilo:

- Que morte lhe interessa mais? A do seu pai ou a do Presidente? Qual a verdade que você quer desvendar? A pessoal ou a política?

Luiza:

- A do Presidente! Você já entrou no espírito do filme – do meu documentário - onde começa a história se perde a ficção. Meu pai é um sonho perdido, me interesso mais pela história.

Camilo:

- Vou lhe dizer o que eu sei. O que vou lhe contar é um segredo e depois você me promete que vai pegar o avião e vai voltar para casa. Combinado?...

Luiza concorda com um movimento de cabeça. Camilo continua...

- Mas antes você vai ter de desligar esta câmera de vídeo. Do que vou lhe contar não pode haver registro.

As imagens vão se deteriorando em um fundo negro.
Silêncio.
As imagens voltam em fade.
Luiza está pálida, abatida, e triste.

Luiza:

- Não quero mais incomodá-lo, já está ficando tarde e preciso voltar para meu hotel, poderíamos deixar para amanhã o final de nossa conversa?

Camilo:

- Você não me incomoda! Sou seu amigo, posso lhe acompanhar ao hotel, se você quiser!

Luiza:

- Se quiser venha comigo...

Camilo:

- Olha, tenho uma idéia melhor! Vamos até o meu quarto, que fica aqui em cima deste bar, que eu vou lhe mostrar uma lembrança do Presidente.

Camilo retira do bolso do paletó um relógio de ouro e vê nele as horas.
Luiza não consegue tirar os olhos do relógio.



Seqüência 73 – Exterior // Entardecer – Minas Gerais / Montanhas.

Uma casa simples nas montanhas.
Uma fumaça sai de sua chaminé.


Seqüência 74 – Interior // Entardecer – Minas Gerais / Sítio avô de Luiza.

Luiza, ainda criança, está sentada lendo um livro ao lado do seu avô.
Ao lado dos dois está o fogão de lenha onde se prepara o café.
O avô retira do bolso um relógio de ouro e olha às horas.


Seqüência 75 – Interior // Amanhecer – Rio de Janeiro / Hotel Serrador.

Marcelo está olhando o relógio de ouro que havia tirado do bolso um pouco antes de entrar no carro acompanhado de sua mulher e de sua filha.

Marcelo:

- Elizabete não fique preocupada, daqui até Minas é um pulo e ninguém vai
querer fazer nada contra um deputado. Estaremos na casa do seu pai antes da meia noite.

Marcelo arranca com carro.
Um outro carro, pouco depois, sai atrás dele.
No seu interior estão Camilo e o agente louro.


Seqüência 76 – Interior // Anoitecendo // Argentina / Mercedes / Quarto Camilo

Luiza entra no quarto de Camilo. Ele abre uma gaveta e entrega para ela uma foto onde ele está ao lado do Presidente. Luiza pede licença e grava tudo com sua câmera de vídeo. Grava o quarto inteiro. Camilo fica nervoso e faz com que ela pare de filmar.


Seqüência 77 – Exterior // Noite // Argentina /Mercedes / Hotel

Do outro lado da rua está brilhando o néon do Hotel.


Seqüência 78 – Interior // Noite // Argentina / Mercedes /Hotel

Luiza entra no quarto do hotel e muito apressada mexe na mala de onde retira o pacote que havia recebido no hotel em Buenos Aires. No interior estão vários objetos que são colocados sobre a cama. São eles: alguns retratos, uma caneta de ouro, uma corrente com uma medalha, um relógio de bolso de ouro e um revólver prateado.
Exibe o vídeo no monitor e corre a fita até o quarto de Camilo.
Lá, observando com atenção as imagens, ela, indo e vindo com a fita, consegue descobrir uma maleta grande de couro escondida no canto da sala. Na maleta, examinada com mais detalhes vê-se um impresso em relevo ao lado da alça - uma vaca dourada que brilhava no movimento nervoso da câmera.
O telefone celular toca repetidas vezes. Ela não atende.
Vendo os retratos e mexendo nas coisas que estavam no pacote, ela adormece.


Seqüência 79 – Exterior // Anoitecendo – Minas Gerais / As montanhas de Minas


A morte de Marcelo.

Marcelo e sua mulher têm o carro interceptado por um outro carro que o seguia em uma estrada de terra deserta no interior de Minas Gerais.
Camilo e seu companheiro louro descem do outro carro e se aproximam da janela do outro carro onde está Marcelo.

Camilo:

- Deputado Marcelo, o senhor está sendo chamado de volta ao Rio e viemos com a missão de buscá-lo. Por favor, desça do carro e nos acompanhe.

Marcelo:

- Por favor, peço eu! Estou com minha mulher, minha filha e perto do sítio onde estou indo. Vamos até lá e civilizadamente, depois de deixar as duas em segurança, eu lhes acompanho aonde vocês quiserem me levar.

Camilo, saca o seu revólver e aponta para Marcelo:

Camilo:

- O Deputado não entendeu! Esta é uma missão secreta. Vocês ficam aqui e o meu amigo leva sua filha até o sítio do pai dela.

Marcelo, visivelmente assustado arranca com o carro e parte em disparada. Camilo e o seu amigo louro atiram em direção do carro de Marcelo. Uma bala atinge Elizabete e outra fura o pneu do carro fazendo com que o mesmo entre pelo pasto desgovernado e capote, ficando de cabeça para baixo no meio do capim da estrada.
Elizabete está morta, a criança chora do lado de fora e Marcelo, ainda vivo, se arrasta para fora do carro.
Marcelo, com seu revolver prateado em punho, atira em Camilo, tenta fugir e é morto com um tiro, dado pelo agente louro que acompanhava Camilo, nas suas costas.
Camilo se aproxima do carro e recolhe a criança.

Seqüência 80 – Interior // Amanhecendo // Argentina / Mercedes / Quarto de Hotel

No quarto do Hotel a luz do néon é substituída pela luz do sol que entra pela frestas da janela.
Luiza acorda agitada.
Lava o rosto, arruma sua valise e nela coloca o pequeno revólver e a pistola.
Fecha a conta do hotel pelo telefone.
Toma um copo de vinho e sai do quarto.


Seqüência 81 – Exterior // Dia // Argentina / Mercedes

Luiza sai do hotel e entra no carro.
Registra todos os seus movimentos e tudo mais em sua volta com seu equipamento.
O Carro não chega a atravessar a pequena cidade. Em poucos metros chega a um posto de gasolina, onde fica o bar de Camilo.
Luiza pára o carro em frente do bar.


Seqüência 82 – Interior // Dia // Argentina /Mercedes / Bar de Estrada


Luiza chega no bar.
Camilo já estava sentado na mesa.

Camilo:

- Você está abatida e parece cansada...

Luiza:

- Tive um pesadelo esta noite e mal consegui dormir pensando num fim para meu documentário.
- Escrevo uma história sem os nomes dos meus principais personagens, cada um deles, à sua maneira, representa hoje e representará amanhã, os mesmos homens e os mesmos conflitos, apresentados no passado. Vamos gravar sua história, pois preciso encontrar um final para a minha...

Camilo:

- Foi em dezembro de 1976, o presidente, sua mulher e o motorista almoçavam num hotel com um grupo de brasileiros. Eram pessoas que haviam vindo do Brasil para tratar com ele de sua volta ao país. Havia muita gente lá que eu não conhecia... O Presidente tinha com ele sua pasta de couro...

Luiza:

- Os dólares. Você sabe quem ficou com eles?

Camilo:

- Eu sei quem levou a mala do presidente. Se é isso que você gostaria de
saber... Olha, vou lhe contar o que aconteceu no almoço...


Seqüência 83 – Interior // Dia // Argentina / Mercedes / Restaurante do Hotel

Titulagem: Mercedes – Argentina - Dezembro de 1976.

Hotel a beira da Estrada.
Almoço no hotel.
O presidente almoça com um grupo de pessoas.
Camilo, o cubano do hotel Serrador, mais novo, é o garçom que serve o uísque ao presidente. O rapaz que está na mesa com o presidente, é Guido.
Guido observa Camilo que depois de uma troca de olhares, pega a mala de couro do Presidente.
Na mesa a conversa corre solta com o Presidente dizendo de sua alegria em voltar ao Brasil.
Camilo está na cozinha quando se aproxima dele Guido.

Guido:

- Não tente nos enganar... Nossa parte deste dinheiro deve estar em nossa conta amanhã à tarde...

Retira do bolso um cartão e entrega a Camilo.
Guido sai sorridente. Camilo guarda o cartão e volta ao salão onde serve uma última dose ao Presidente.
Camilo e o Presidente, através de gestos e olhares, mostram alguma cumplicidade.
O Almoço termina e todos se despedem.


Seqüência 84 – Interior // Dia // Argentina /Mercedes / Restaurante do Hotel

O Presidente se despede dos que o acompanharam até a porta, entra no carro com sua família.
O carro do presidente sai, avança e se perde na primeira curva da estrada.


Seqüência 85 – Interior // Dia // Argentina /Mercedes / Bar da Estrada

No interior do Bar estão Camilo e Luiza.

Camilo:

- Vou lhe dizer a verdade! O que eu sei da história me foi contado pelo piloto do Presidente...

Luiza:

- Então você não sabe de mais nada?

Camilo:

Sei que o dinheiro, toda aquela fortuna, seria para garantir sua segurança na Argentina e para preparar seu retorno ao Brasil...

Luiza:

- Mas este dinheiro não serviu nem para uma coisa nem para outra... mais uma vez ele foi traído.
Mas isso já não tem muita importância para mim.


Seqüência 86 – Interior // Entardecer - noite // Argentina / Fazenda do Presidente

À tarde, chegam à estância.
A brisa mexe com o capim verde.
O dia claro de verão está terminando.
Uma mulher fecha as cortinas da janela.

À noite chega escura sem lua.
Após o jantar na varanda da casa, o presidente vai se deitar.
As luzes da casa se apagam.
As luzes apagadas da casa são acesas.
Chega um médico na casa trazido pelo capataz.
Logo depois chegam mais duas pessoas que estavam com o Presidente no almoço, uma delas é Camilo e o outro um homem trajando roupas típicas dos pampas gaúchos.
A mulher, que acaba de fechar a cortina da sala, sai para a varanda e conta para o médico e os outros três ali presentes o que havia acontecido.

Mulher do Presidente:

- O Presidente foi se deitar mais cedo, pois se sentia indisposto, custou a
dormir. Um pouco mais tarde, repentinamente começou a se mexer muito para depois ficar quieto. Fiquei preocupada e coloquei a mão no seu coração. Chamei o capataz e pedi para que ele buscasse imediatamente o senhor em Mercedes, mas já não adiantava mais nada... Ele já estava morto.



Seqüência 87 – Exterior // Noite // Argentina /Mercedes / Fazenda do Presidente

A casa toda iluminada está envolta num silêncio mortal.


Seqüência 88 –Interior // Noite // Argentina / Mercedes / Bar da Estrada

Luiza arma seu equipamento e fala para câmera colocada em um tripé.

Luiza:

- Será este o mesmo lugar onde almoçou o Presidente? Onde ele tomou a sua ultima dose de uísque? O Mistério ainda é grande e creio que ainda estou longe de saber toda a verdade.

Camilo olha para Luiza já se levantando.

Camilo:

- Assim morreu o presidente. Se eu posso lhe ajudar em mais alguma coisa, diga, estou a sua disposição.

Camilo então pegou seu relógio de bolso e olhou as horas.
Luiza mais uma vez vê o relógio de seu pai, idêntico ao de seu avô sabendo que Camilo é o assassino de seu pai e talvez do presidente.

Luiza (retirando da bolsa um velho caderno):

- Vou ler para você as últimas linhas que meu pai escreveu no seu romance inacabado, você quer ouvir?
- “O medo transforma-se aos poucos em pavor e os nervos triturados provocam um torpor de morte por todo o teu corpo que já não te deixa mexer um músculo sequer, instalando-se na alma a paralisia do horror e no coração o domínio da loucura”...

Silêncio...

Luiza:

- Agora que eu já sei quem você é, posso terminar o documentário sobre o homem que assassinou o último presidente...
Meu pai, vindo do passado, mostrou-me o final da sua história.

Saca o pequeno revólver de seu pai e o aponta para Camilo.
Camilo, olhando para a arma, sem mudar sua expressão de rosto diz:

Camilo:

- Eu lhe teria poupado da verdade, mas se você quer mesmo saber...
Seu pai, seu herói, era um homem do golpe, da operação americana... um traidor de seu país. Um informante eleito deputado pelo IBADE, com o dinheiro americano. Um espião que traía sistematicamente seu Presidente e seus companheiros de partido...



Seqüência 89 – Exterior – Noite – Minas Gerais – Estrada de Terra.

As imagens em pequenas seqüências de planos como em um mosaico aos olhos da menina seguem a narração. Carro de Camilo perseguindo o de Marcelo.

Camilo (cont.off):

Eu era como uma imagem em negativo de seu pai, era um agente castrista entre os refugiados de Miami e finalmente infiltrado no CIA. Eu o vi várias vezes com pessoas da embaixada. Seu pai foi condenado à morte como traidor do povo brasileiro.
No dia mesmo do golpe ele esteve comigo no Palácio das Laranjeiras. O resto da história é a que você sabe. Levamos você para a casa do seu avô e depois enterramos os seus pais.


Seqüência 90– Interior // Noite // Argentina / Mercedes / Bar da Estrada


Camilo:

- Mas não fui eu quem matou o seu pai, ele foi morto pelas circunstâncias. E também não matei o presidente, estávamos ali para defendê-lo – ele foi assassinado pela “Operação Condor” com a ajuda de pessoas muito próximas a ele, morreu mais uma vez vítima da traição. Eu sou um agente da revolução e você tem que acreditar no que lhe estou dizendo ... todo o dinheiro que passou pelas minhas mãos, foi entregue ao partido...


Luiza com o rosto frio, como se desistisse de mata-lo, lentamente coloca o seu pequeno revolver na mesa do bar, vira-se de costas fingindo que vai sair.
Camilo, pega rapidamente o revólver da menina que ficou por sobre a mesa e aponta, com a mão firme, a arma para ela.
Antes de apertar o gatilho lhe diz com a voz seca e um pouco sarcástica:

Camilo:

- Seu pai morreu porque sabia demais e já não tinham mais necessidade dele...
Tenho muita simpatia por você, uma vez lhe salvei a vida quando era criança, mas hoje já não posso correr o mesmo risco...

Puxa o gatilho.

A arma não dispara, está sem as balas.
As balas estão na mão da menina e vão caindo no chão, uma a uma, enquanto
ela vai se virando em cena, tirando da bolsa a pistola automática com o silenciador, até ficar novamente de frente para o bar onde está Camilo, atônito, esboçando um leve sorriso, com a pequena arma na mão.
Os olhos de Camilo encontram os olhos de Luiza.

Um vento frio sopra levantando as toalhas das mesas.
Luiza, com a arma apontada para o rosto de Camilo, aperta o gatilho.

Do ponto de vista de Camilo a imagem de Luiza se desfaz em uma explosão de luz e em mil pedaços de sombras, até que tudo em sua volta se torna noite escura sem lua.


Seqüência 91 – Interior // Dia amanhecendo – Argentina/ Buenos Aires/ Aeroporto Internacional


Luiza entra no guinche da Air France.
A mala de couro do Presidente está em suas mãos.
No interior do avião ela esta sozinha sentada em uma cadeira e na sua frente, está Guido, sorridente.


Seqüência 92 – Exterior // Dia escuro e chuvoso – Aeroporto Buenos Aires.

O avião decola.
O céu está repleto de nuvens negras formando, entre raios e coriscos, rapidamente uma tempestade.

Titulagem final - Créditos sobre as nuvens negras.



FIM

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